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É hora de investir em dólar? Veja recomendação para momentos de volatilidade

O dólar disparou nos últimos meses e acendeu alertas em investidores que não estavam posicionados para esses ganhos. Ainda dá tempo? Veja o que dizem especialistas

Monique Lima

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O real foi a moeda que mais se desvalorizou no ano frente às 20 divisas mais negociadas no mundo. A perda ante o dólar já supera 21% até 17 de dezembro. Isso, por outro lado, significa que investimentos feitos em dólar acumulam não só a valorização do ativo, como também os ganhos da própria moeda.

Para se ter uma ideia, até novembro, o retorno das ações americanas do S&P 500 somava 48% no ano, considerando tanto o rendimento dos papeis como do próprio dólar.  

Mas com altas tão fortes desde janeiro, ainda vale a pena investir em dólar ou esse bonde já passou?

Segundo especialistas ouvidos pelo InfoMoney, o investimento internacional não deve estar atrelado à movimentação do dólar, mas a uma tese forte do ativo em que se irá investir, sejam ações, fundos ou Treasuries

“Câmbio é uma das taxas mais imprevisíveis da economia, com níveis elevados de volatilidade no curto e médio prazos e sensibilidade a muitos fatores, domésticos e globais. Por isso, não faz sentido tentar prever um momento ideal de realizar remessas ou investir em dólares”, diz Paula Zogbi, gerente de research da Nomad.

O head de alocação da XP, Rodrigo Sgavioli, recomenda olhar para trás quando a dúvida sobre investir em dólar – agora ou nunca? – surgir. “Vamos voltar em fevereiro deste ano. O dólar estava saindo de uma faixa de R$ 4,90 para R$ 5,00. Aí me perguntavam: ‘ah, mas está subindo, não é melhor esperar cair de novo?’ Não caiu desde então”, diz Sgavioli.

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A indicação dos especialistas é seguir a linha do preço médio: comprar dólares aos poucos, mês a mês, para que o custo de aquisição seja favorável. “Além de evitar ficar refém de uma cotação, essa recorrência evita o custo de oportunidade, ou seja, o ônus de deixar de investir em um ativo e perder um período de potencial valorização por causa do preço do dólar”, diz Zogbi.

Herói ou vilão? 

Neste ano, a cotação do dólar foi um impulsionador para os investimentos internacionais. Os fundos de ações que registraram os melhores retornos de 2024 investem em bolsa americana ou BDRs. Até novembro, a soma do retorno do S&P 500 com o dólar chegava a 48,6%

Mas essa não é uma regra. Ao longo de 2016, por exemplo, o dólar perdeu 17,8% de valor frente ao real, um movimento que diminuiu os retornos dos ativos no exterior naquele ano. Os 9,54% de ganhos do S&P 500 se reverteram em 8,26% de perda em 2016, considerando o dólar. 

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Esta, entretanto, não é a forma adequada para se pensar investimentos no exterior. Para os especialistas, se a aplicação foi feita em dólar, o retorno do investimento deve ser acompanhado em dólar. Cálculos de conversão para o real só devem ser feitos no momento do resgate.

“Investimento no exterior tem que ser para o longo prazo. Não é uma aplicação para acompanhar o dia seguinte, o mês seguinte, olhando para o preço da moeda ou o retorno no curto prazo”, diz Harrison Gonçalves, sócio da CMS Invest. “O investidor que entra pensando em ganhar com o preço do dólar está tomando uma decisão ruim, que pode dar muito errado.”

Até porque, o cenário base do Banco Central e da maior parte dos bancos é de valorização do real no curto prazo e acomodação do preço do câmbio na faixa dos R$ 5,85 em 2025 – uma queda de cerca de 7% em relação ao pico de R$ 6,27 registrado em 18 de dezembro

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“Se o dólar subir demais, o Brasil fica muito barato, o capital estrangeiro entra e o câmbio cai. Não existe isso de dólar a R$ 10. Na faixa dos R$ 6, R$ 7, já significa um real muito desvalorizado”, diz o professor da FIA Business School, Carlos Honorato.

Isso significa que, para quem está pensando em investir no exterior agora, o dólar é um fator de volatilidade para o curto prazo. Já os Estados Unidos estão em alta: Bolsa americana é uma das principais teses para o próximo ano

EUA é a tese de 2025

A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos EUA é um dos impulsionadores da tese de investimentos na economia norte-americana em 2025. A agenda de desregulamentação, corte de impostos, reindustrialização e foco em commodities deve movimentar diversos setores domésticos no país.

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Multimercados macro estão fortemente comprados em S&P 500, segundo levantamento da XP. Para além de big techs, as teses se concentram em setores como energia, óleo e gás, indústrias, bancos e saúde. Argumentos diversos às teses que impulsionaram o ganho de 27% deste ano, que foi muito concentrado em tecnologia e inteligência artificial.

A visão geral é positiva, mas analistas ainda mantêm certa cautela, principalmente porque ainda não existe clareza sobre qual será a postura de Trump quando assumir a Casa Branca. Falas sobre tarifas e imigração geram dúvidas sobre até onde o presidente vai nessas promessas e em qual ritmo. Ambas as medidas geram pressões inflacionárias que devem ter resposta do banco central dos EUA, o Federal Reserve.

Nesta semana, o Fed cortou os juros americanos em 0,25 ponto percentual, para a faixa de 4,25% a 4,50%. No entanto, o comunicado da decisão foi bastante incisivo em relação à preocupação com a inflação – o que adiciona uma dose de incerteza ao quadro global. 

Ainda assim, o cenário base para as ações americanas é positivo. Para o professor da FIA, Trump é pragmático. A economia dos EUA, argumenta, está forte e o republicano não teria nenhum interesse em prejudicar esse cenário.

“Ele não vai brigar todas as guerras ao mesmo tempo e nem fazer nada que prejudique o país. Pode vir alguma coisa, mas tem que ver o que vai acontecer antes de tomar medidas desesperadas”, diz. Uma sinalização positiva para a Bolsa.