Drex: dinheiro programável vai “destravar valor gigantesco”, diz VP da Visa

Executivo da Visa falou junto com CEO da B3 Digitas em painel sobre o real digital na Expert XP, que ocorre em São Paulo

Paulo Barros

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O Drex, versão digital do real, vai “destravar um valor gigantesco” por sua capacidade de permitir programação do dinheiro, disse nesta sexta-feira (1) Fernando Amaral, Vice Presidente de Produtos & Inovação da Visa, durante painel na 13ª edição da Expert XP, que acontece entre hoje e sábado (2) no São Paulo Expo, na capital paulista.

Com a chegada do Drex, será possível programar transações para serem realizadas apenas quando determinada condição for atendida, disse o executivo.

“Quantas vezes precisamos vender bens de maior ou menor valor, e ficamos naquela situação: eu passo o bem ou pago primeiro? Se multiplicarmos esse momento de insegurança pela quantidade de transações, o potencial [do Drex] de destravar valor é gigantesco”, afirmou o executivo.

Um exemplo comum é a compra de um carro: em vez de ser obrigado a pagar antes da transferência do veículo,  com o Drex, ambas as transações poderão ser feitas de forma concomitante. Nos bastidores, a tecnologia que proporcionará essa inovação é a dos contratos inteligentes (smart contracts).

“Vai tirar uma fricção gigantesca das trocas de valores e alavancar muito economicamente o país”, completou Amaral.

As aplicações dessa inovação passam também pelos investimentos, com aportes e resgates operando 24 horas por dia, além de produtos potencialmente mais rentáveis como consequência da eliminação de intermediários — que poderão, em alguma medida, ser substituídos por programas de computador.

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Para chegar lá, no entanto, ainda há um longo caminho pela frente, destacou Jochen Mielke de Lima, CEO da B3 Digitas, participante do mesmo painel.

“O Drex é só o meio de pagamento. Ele depende que haja outros ativos tokenizados na rede. E, para isso, precisamos de ‘passos’ que ainda precisam acontecer”, ponderou.

Um desses passos é o regulatório. Enquanto o Drex passa por um projeto-piloto, corre em paralelo uma discussão sobre como adequar legalmente os ativos financeiros a essa nova realidade.

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No mercado, há expectativa de que novas normativas surjam ainda em 2023, vindas do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Ao InfoMoney, o presidente da CVM, João Pedro Nascimento, disse que a autarquia quer trazer a criptoeconomia para o mercado regulado.

“Escriturador, corretora, depositário: como ficam em um ambiente com processamento distribuído, com o Drex, principalmente com relação à responsabilidade fiduciária?”, questiona Mielke.

Em busca dessa resposta, B3 Digitas e Visa participam de dois dos 16 consórcios selecionados para integrar o programa-piloto do Drex, visto como essencial para experimentar novos casos de uso e entender quais são os riscos que acompanham a adoção da tecnologia de moeda digital.

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Um desses riscos, falou Mielke, é tecnológico, decorrente do uso da blockchain, uma inovação que se prova a cada dia ser estável e de alto desempenho, mas que ainda precisa ser testada com uso de uma moeda fiduciária como o real. Outro risco, diz, é justamente da regulação: se for pesada demais, freará a inovação; se for branda, pode levar riscos maiores para o investidor.

O que é Drex

O Drex será a primeira moeda virtual oficial do Brasil. Trata-se de uma extensão das tradicionais cédulas físicas de dinheiro, mas será transacionada exclusivamente no ambiente digital.

As regras e fundamentos para manter a estabilidade do real serão mantidas e será possível fazer transações financeiras, transferências e pagamentos com Drex.

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A atual fase de testes com uma versão piloto do Drex, a versão digital do real, vai demorar mais que o previsto pelo Banco Central. Em agosto, diretores da instituição anunciaram um adiamento no cronograma do projeto, que agora está previsto para terminar em maio de 2024, alguns meses a mais em relação à projeção inicial.

Segundo Fabio Araujo, diretor do BC responsável pelo projeto, apesar disso, a projeção de lançamento da plataforma para o fim de 2024 ou início de 2025 está mantida.

Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas