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Os investidores brasileiros devem dolarizar no mínimo 16% da carteira se quiserem fugir do impacto da variação da moeda americana sobre seu consumo, diz estudo do FGVcef (Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas).
O levantamento calculou o quanto cada faixa de renda no Brasil está sujeita ao sobe e desce da moeda americana, considerando-se que o poder de compra do brasileiro é impactado pela inflação que chega via itens importados (insumos ou produtos finais), viagens internacionais e pela volatilidade cambial.
A conclusão é que mesmo os brasileiros menos atingidos pelos picos e vales da moeda dos Estados Unidos, que são os de renda média, deveriam ter 15,75% do seu portfólio investidos em dólar. No caso dos brasileiros de renda média alta, o percentual é o maior, de 18% da carteira.
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Isso não quer dizer que os brasileiros de renda baixa não sofram, muito pelo contrário: o peso da variação cambial para essas faixas de renda é de 17% – lembrando que a produção de alimentos, que possui forte participação na cesta de consumo de quem ganha menos, é afetada pelo dólar em diferentes fases da cadeia.
“Os alimentos sofrem impactos importantes do câmbio, que vão dos fertilizantes importados ao combustível utilizado no transporte”, aponta Ricardo Rochman, coordenador do FGVcef e um dos autores do levantamento.
O estudo afirma que há levantamentos feitos por pesquisadores brasileiros que indicam que até 25% da cesta de consumo do Brasil é afetada pelo dólar.
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Além de matérias-primas e insumos da indústria química e farmacêutica, o impacto vai de itens mais caros, como perfumes, chocolates ou vinhos, aos mais básicos, como trigo.
Mas não é só isso. O câmbio também é um elemento importante levado em conta pelas grandes empresas para decidir o preço dos alimentos. Há ainda o efeito da possibilidade de ganhar mais com exportação do que a venda no mercado interno, o que pressiona preços.
Esse impacto não necessariamente é automático. Outro achado importante do estudo é que o efeito do câmbio vai acontecendo ao longo dos meses, segundo Rochman.
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“Em novembro, dezembro de 2024 vimos um grande salto no dólar. Alguns desses efeitos são imediatos, mas dependendo do produto consumido, há um ciclo de produção que está chegando só agora, ou chegará nos próximos meses, na cesta de consumo”, diz ele.
Confira abaixo o peso do câmbio na cesta de consumo, das viagens internacionais e da volatilidade do dólar por faixa de renda:
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E os investimentos em dólar do brasileiro?
A partir de dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), o levantamento chegou à conclusão que o patrimônio aplicado no exterior por fundos de investimento do Brasil representa somente 1,56% do total da média das categorias de renda fixa, multimercados e ações.
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É por isso que o Brasil é um dos países em que a população mais investe em ativos domésticos, aponta o levantamento.
Um estudo feito pelo Fundo Monetário Internacional em 2014 mostra que o Brasil é a 10ª nação onde as carteiras são mais concentradas em ativos do próprio país. Isso acaba deixando os investidores mais à mercê das altas e baixas da moeda americana.
Veja abaixo os países com os maiores percentuais de investimentos em ações domésticas nas carteiras de investimento sobre o valor total dessas carteiras:
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Mas qual é o melhor momento para comprar dólar?
Para Rochman, o alerta que fica ao investidor é que não tem data para comprar dólar, já que o câmbio é muito imprevisível e possui esse impacto espalhado ao longo do tempo.
“As pessoas não devem procurar a melhor data para comprar dólar. A melhor dinâmica é ir comprando sempre um pouquinho, ou investir em ativos internacionais, tendo em mente que a tendência de longo prazo é que o real se desvalorize, e não que se valorize”, afirma.
Outro ponto importante, diz o pesquisador, é que investir em títulos atrelados à inflação não garante proteção contra a volatilidade cambial. “Isso é uma falácia, porque depende muito da exposição que o investidor tem ao dólar. O IPCA é uma média geral. Dependendo da renda e dos hábitos de consumo, a exposição cambial é muito maior.”