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5 ações americanas têm dividendos crescentes há mais de 40 anos e pagam acima dos juros dos EUA; veja lista

Levantamento da VG Research inclui companhias consideradas resilientes para os interessados em proventos e que estão com os preços descontados atualmente

Katherine Rivas

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Com a inflação nos Estados Unidos ainda elevada, Wall Street está cada vez mais preocupada com a possibilidade de que a alta dos juros americanos leve a economia do país à recessão – não seria a primeira vez que isso ocorreria.

Os últimos movimentos de alta de juros foram o estopim de crises profundas na economia dos Estados Unidos. “Temos como exemplo a bolha da internet nos anos 2000 e a crise das hipotecas suprime em 2008”, diz Vicente Guimarães, CEO da VG Research. Na visão do analista, a chance de uma nova crise deixa o mercado americano “nervoso” e em uma névoa de incerteza, o que pode afetar o preço das ações.

Para o investidor que compra ações com foco na valorização, não é a melhor notícia. Já para aquele que busca dividendos em dólar, o momento pode representar uma oportunidade para comprar e acumular boas ações a preços mais baixos, destaca Guimarães. Mas como garimpar as melhores opções para estratégias focadas em proventos?

Segundo Guimarães, o segredo é escolher empresas que distribuem dividendos estáveis, previsíveis e crescentes ao longo dos anos. As ações que reúnem tais características costumam ser chamadas no mercado americano de Dividend Aristocrats, ou aristocratas dos dividendos”, algumas das quais aumentaram o volume de proventos pelo menos nos últimos 25 anos.

Um levantamento da VG Research, realizado com exclusividade para o InfoMoney, foi ainda mais fundo e identificou cinco ações americanas que podem ser consideradas Super Dividend Aristocrats.

Foram considerados alguns critérios. Para entrar no levantamento, as ações precisavam apresentar um dividend yield (taxa de retorno com dividendos) mínimo de 4% nos últimos 12 meses, superior à taxa de juros americana atual, que está na faixa de 3% a 3,25% ao ano.

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Além disso, deveriam ter distribuído proventos em todos os anos dos últimos 40 anos, e sempre em valores crescentes a cada exercício. O último critério era apresentar um aumento nos dividendos pagos nos últimos cinco anos de pelo menos 3,5% ao ano.

Das ações que restaram, cinco são cotadas atualmente abaixo do preço justo, considerando as projeções de mercado. Confira a lista completa abaixo:

Empresa Ticker da ação nos EUA Tiker do BDR na B3 Setor Cotação da ação (US$) Preço justo da ação (US$) Dividend Yield (12 meses) Número de anos de dividendos crescentes Crescimento médio anual dos dividendos nos últimos 5 anos
Walgreens Boots WBA WGBA34 Varejo Farmácias 36,24    41,75 5,60% 47 3,70%
3M MMM MMMC34 Bens industriais 116,64  142,52 5,10% 64 4,90%
Leggett & Platt LEG L1EG34 Consumo Cíclico  37,04  41,00 4,90% 51 4,10%
Franklin Resources BEN F1RA34 Serviços Financeiros  24,82  24,89 4,80% 42 4,70%
Abbvie ABBV ABBV34 Farmacêutico 142,66 158,85 4,00% 50 17,10%

Fonte: VG Research. As cotações das ações são do dia 19/09/2022. Os preços justos consideram as projeções de mercado compiladas pelo Yahoo Invest. As ações pagam dividendos trimestralmente.

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Todas estas empresas são negociadas nos Estados Unidos e no Brasil possuem BDRs (recibos de ações estrangeiras) disponíveis para o investidor pessoa física.

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Por que faz sentido prestar atenção às “aristocratas de dividendos”?

Guimarães explica que diferentemente do Brasil, onde o investidor costuma ter um comportamento mais especulativo e de curto prazo na Bolsa, nos Estados Unidos a cultura de investimentos é diferente. Ele cita que muitos investidores buscam aplicações de longo prazo e de caráter previdenciário, que ofereçam dividendos para garantir uma aposentadoria mais tranquila.

É por este motivo, que as empresas que possuem condições de rentabilidade, lucratividade e geração de caixa acima da média, se esforçam para gerar um fluxo de dividendos estável, previsível e crescente, destaca o analista. Há alguns nomes bem conhecidos nessa jornada – companhias como Coca-Cola e Procter & Gamble, por exemplo, distribuem dividendos crescentes há mais de 60 anos.

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Guimarães explica, contudo, que é muito difícil manter esses resultados. Segundo ele, no Brasil nenhuma empresa da Bolsa poderia ser considerada uma aristocrata – nem mesmo a Taesa (TAEE11), que o analista considera a melhor pagadora de dividendos do Brasil nos últimos dez anos.

“Mesmo com dividendos constantes e elevados na última década, com uma média de dividend yield próxima aos 11%, a Taesa não conseguiu manter seus pagamentos estáveis, previsíveis e nem crescentes neste período”, destaca. Veja no gráfico a evolução dos proventos da empresa:

dividendos por ação taesa
Fonte: VG Research

Por outro lado, a empresa americana do ramo de farmácias Walgreens Boots (WBA; WGBA34), que integra o levantamento, reuniu as características dos aristocratas na última década, como demonstra o gráfico abaixo:

Fonte: VG Research

Segundo Guimarães, não é obra do acaso. Ele explica que existe de fato um esforço por parte das empresas americanas para atingir e manter seu status de aristocratas de dividendos. A maioria delas controla o fluxo de pagamentos de dividendos.

Em anos positivos, quando poderiam pagar dividendos gordos, as companhias costumam aumentar o nível dos proventos em centavos, de acordo com o analista. No lugar de distribuir tudo, os recursos são destinados a uma reserva de lucros utilizada para manter ou elevar os dividendos em períodos áridos, quando a geração de receita e lucro da companhia é menor.

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Os quatro pilares de uma “super aristocratas de dividendos”

Para conseguir encontrar uma dessas joias raras na bolsa americana, que sobreviveram a crises, recessão, inflação e juros elevados, Guimarães destaca os quatro critérios do levantamento.

O dividend yield mínimo de 4%. Mesmo que uma companhia ofereça dividendos por ação altos e crescentes, eles não necessariamente se traduzem em um retorno com dividendos atrativo. Um exemplo é a Walmart, que paga dividendos crescentes há 49 anos, mas tem um dividend yield de apenas 1,64% ao ano, segundo Guimarães.

Os 40 anos de dividendos crescentes. Embora o conceito geral das aristocratas envolva a distribuição de dividendos consistentes e crescentes durante 25 anos, Guimarães acredita que 40 anos são um indicador de resiliência da empresa e de sua capacidade de pagar dividendos em qualquer cenário econômico.

O crescimento médio anual dos dividendos de 3,5% nos últimos cinco anos. Guimarães explica que algumas aristocratas apresentam aumento pequeno dos proventos. É o caso do Walmart, que teve um crescimento médio de apenas 1,8% ao ano nos últimos cinco anos. Já outras empresas, como a Caterpillar, do segmento de equipamentos, teve um avanço de 9% ao ano no mesmo período.

A cotação abaixo do preço justo. A máxima de que o preço importa para os investidores focados em dividendos é considerada por Guimarães. Na visão do analista, é importante encontrar empresas de qualidade, mas também baratas.

Ele explica que até o dividend yield pode ser utilizado como um indicador. “Um dividend yield abaixo de 2% pode significar que o preço das ações está muito alto”, diz. Para os padrões americanos, ele acredita que uma taxa de 4% ao ano tanto sugere bons dividendos quanto preço barato dos ativos.

Guimarães explica que a holding Walgreens Boots opera no ramo de farmácias e é dona das marcas Walgreens e Boots. A companhia atua na fabricação e distribuição de produtos farmacêuticos.

Já a 3M é um grupo multinacional americano que atua em seis mercados: indústria e transporte, saúde, consumo e escritório, segurança, produtos elétricos e comunicação, controle de tráfego e comunicação visual. O portfólio da companhia tem 55 mil produtos. A 3M paga dividendos desde 1916 (106 anos) e tem dividendos crescentes há 64 anos.

A Leggett & Platt foi a primeira empresa do mundo a patentear um sistema de molas para colchões e trabalha com a produção de molas internas, mecanismos reclináveis, camas ajustáveis, arame de aço, estruturas para assentos, utilizados para produtor de casa, automóveis e até aeronaves. A companhia tem 145 fábricas em 18 países.

A Franklin Resources é uma gestora de ativos, oferecendo uma ampla variedade de fundos, com destaque para os internacionais e de valor. E a Abbvie é uma biofarmacêutica, que fabrica produtos de imunologia, oncológicos, estéticos, neurológicos, oftalmológicos e de saúde feminina. “Um dos seus produtos mais famosos e difundidos é o Botox”, cita Guimarães.

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Investir diretamente nas ações ou comprar BDRs?

Guimarães explica que o investidor pode aplicar nas super aristocratas identificadas no levantamento de duas formas: comprando as ações diretamente nas bolsas americanas ou por meio dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts) na B3.

No primeiro cenário, o investidor precisará abrir uma conta em uma corretora americana. Atualmente, existem algumas opções para fazer isso por meio de instituições brasileiras (que possuem unidades nos Estados Unidos), com prazo de abertura de até 48 horas. Essa conta permite ao investidor comprar tanto ações quanto ETFs (fundos de índice), Reits (equivalentes aos fundos imobiliários) e outros ativos.

A vantagem, na visão do analista, é receber dividendos em dólar. Contudo, a principal dificuldade apontada pelos investidores é não saber como declarar ativos internacionais, ganhos patrimoniais e dividendos no Imposto de Renda.

Já no caso dos BDRs, Guimarães destaca que a opção pode ser mais cômoda, já que o investidor pode adquiri-los na própria B3 por meio de sua corretora brasileira e a declaração do IR é mais simples. Contudo, ele ressalta que o BDR é que um recibo, e não uma ação em si. “É como se o investidor aplicasse em um fundo, com uma taxa de administração que abocanha parte dos dividendos pagos pelas ações. Ele investe indiretamente na empresa por meio de um intermediário”, diz.

Vale lembrar que nos Estados Unidos, o imposto sobre a distribuição de dividendos é de 30%, retido na fonte. Além disso, os dividendos distribuídos pelas ações que originam os BDRs estão sujeitos a uma taxa cobrada pela instituição responsável pela emissão dos recibos, normalmente de 3% a 5% sobre os proventos. Ao final, o investidor brasileiro recebe 60% a 70% dos dividendos pagos pela empresa.

Confira no quadro abaixo as principais diferenças entre investir diretamente nas ações nos Estados Unidos e comprar os BDRs na B3:

Ações nos EUA BDRs na B3
Como? Por meio de corretora internacional Por meio de corretora brasileira
Que papéis estão disponíveis? Acesso a todas as ações listadas nas bolsas americana; são mais de 8.000 ativos Acesso aos ativos que são trazidos pelos emissores de BDRs para o Brasil; são cerca de 1.000 ativos
Moeda Dólar Real
Liquidez Alta Baixa
Câmbio É preciso realizar remessa para dólar Não é necessário fechamento de câmbio
Investidor compra ações ou recibos? Ações, investindo diretamente no mercado americano Recibos, investindo indiretamente no mercado americano; as ações pertencem ao emissor dos BDRs
Investidor recebe dividendos? Sim Sim
Custos e impostos sobre os dividendos IOF na transação do câmbio; imposto de 30% sobre os dividendos, retidos na fonte nos EUA Imposto de 30% sobre os dividendos, retidos na fonte nos EUA; taxa de 3% a 5% sobre os dividendos cobrada pelo emissor dos BDRs
Impostos sobre o ganho de capital Isenção de IR caso as vendas de ações somem até R$ 35 mil/mês IR de 15% para operações comuns e de 20% para operações de day trade
Taxa de corretagem Existem opções de corretoras que não cobram Muitas corretoras não cobram

Fonte: VG Research

Como declarar os dividendos recebidos de ações nos EUA?

Samir Choaib, especialista em direito tributário e sócio do escritório Choaib, Paiva e Justo Advogados Associados, explica que dividendos recebidos por ações mantidas no exterior são tributados também no Brasil, seguindo a tabela progressiva mensal, com alíquotas que vão até 27,5%.

No caso das ações americanas, porém, há um detalhe. “Os Estados Unidos e o Brasil têm um acordo de compensação de tributos federais”, diz Choaib. Como o imposto cobrado sobre os dividendos nos EUA já supera a alíquota máxima aplicada no Brasil, o investidor não precisa fazer recolhimentos adicionais. Na prática, o efeito tributário é zero, explica o advogado.

Pode haver necessidade de recolhimentos adicionais caso o investidor brasileiro possua ações listadas em outros países em que as alíquotas sejam inferiores às praticadas no País. A apuração, nesse caso, é realizada mensalmente, por meio do carnê leão.

No caso das ações americanas, Choaib lembra, no entanto, que mesmo estando em uma conta no exterior, é preciso incluir na declaração do Imposto de Renda os ganhos obtidos e tributação paga lá fora.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.