‘Dividendos’ com renda fixa? É possível com títulos públicos e crédito privado

Com Selic em 13,25% ao ano, papéis que pagam juros semestrais garantem recorrência e permitem uma carteira de renda passiva

Monique Lima

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Renda passiva é o objetivo de muitos investidores brasileiros. Conseguir esse dinheiro pingando todo mês com fundos imobiliários ou ações é uma estratégia bastante difundida, mas e com renda fixa? 

Os títulos públicos e privados estão em alta neste momento em que os juros estão rendendo 13,25% ao ano, o que faz desses ativos a escolha número um para as carteiras. Alguns desses títulos também fazem pagamentos recorrentes – os chamados cupons, que se assemelham aos dividendos da renda variável. 

É possível construir uma carteira de renda passiva apenas com instrumentos de renda fixa. Uma estratégia que Thiago Manso, gerente de vendas e negociações de renda fixa na XP, afirma ser mais previsível do que os dividendos da renda variável. 

“Diferentemente da renda variável, em que o dividendo depende da receita das empresas ou dos fundos para ser pago, na renda fixa, o pagamento de juros está previsto em contrato e deve ser cumprido. Para os títulos públicos isso é fácil de entender, mas mesmo no caso do crédito privado, o credor tem prioridade frente aos acionistas no caso da empresa ter problemas”, diz Manso.

Títulos públicos oferecidos via Tesouro Direto têm opções que pagam juros semestrais. No crédito privado, é possível encontrar debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e do Agronegócio (CRAs) que pagam juros periódicos. Com uma combinação desses ativos, a “mágica” da renda mensal pode acontecer. É uma questão de análise da recorrência de juros e administração dos vencimentos dos títulos.

Montando a carteira 

Para a estratégia de receber pagamentos recorrentes com renda fixa, o investidor deve focar em ativos que entregam juros periódicos: mensais, trimestrais ou semestrais. Essa é uma informação pública, que o emissor deve indicar na descrição do título. É possível verificar nos aplicativos de corretoras ou em sites que listam esses ativos, como o da Anbima. 

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Entre os títulos públicos, o Tesouro Direto disponibiliza quatro papéis que pagam juros semestrais. Três deles estão atrelados à inflação e o outro é prefixado. Combinados, esses títulos pagam juros em seis meses do ano: fevereiro e agosto para os títulos IPCA+ com vencimento em ano par, maio e novembro os vencimentos do IPCA+ em ano ímpar e janeiro e julho os títulos prefixados. 

Nos seis meses restantes, a indicação é intercalar com títulos de crédito privado. Samer Serhan, sócio e CIO de crédito privado e infraestrutura da JiveMauá, afirma que a melhor opção é olhar para empresas conhecidas, com muitas informações públicas e boa governança corporativa. Grandes nomes, negociados em Bolsa, são recomendados pelo gestor. Além disso, os setores de infraestrutura, saneamento, energia, transporte e logística são destaques

“É importante se ater a empresas grandes, que se conhece o negócio, o fluxo de caixa e as principais informações. Questões como previsibilidade de renda são importantes, assim como ter uma boa governança corporativa”, diz Serhan. 

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Para criar as recorrências mensais, a recomendação é olhar para três quesitos: o calendário de pagamentos de juros (disponível no site da Anbima), o vencimento do título (sempre optar por prazos maiores, entre cinco e oito anos) e o rating de crédito da empresa (focar no grau de investimento). 

O gestor da JiveMauá tem preferência por papéis indexados à inflação (IPCA) para carteiras em títulos diretamente. O prêmio não deve se sobrepor muito aos títulos públicos, 3% acima dos juros oferecidos pelo Tesouro Direto são um limite para Serhan, a não ser que sejam papeis estruturados, de maior risco.  

“Olhar somente para a taxa é um erro. Uma carteira de renda precisa focar no longo prazo e na recorrência de pagamento, mais do que no volume pago”, diz Serhan. 

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Mês de pagamento dos jurosAtivo Rentabilidade anual
JaneiroTesouro Prefixado 203514,64%
FevereiroTesouro IPCA+ 2032IPCA+ 7,29%
MarçoDebênture Eneva (ENEV29)IPCA+ 7,00%
AbrilCRA Marfrig (CRA02200C6Z)IPCA + 7,33%
MaioTesouro IPCA+ 2035IPCA + 7,59%
JunhoDebênture Sabesp (SBSPC7)DI + 2,2500%
JulhoTesouro Prefixado 203514,64%
AgostoTesouro IPCA+ 2032IPCA+ 7,29%
SetembroDebênture Eneva (ENEV29)IPCA+ 7,00%
OutubroCRA Marfrig (CRA02200C6Z)IPCA + 7,33%
NovembroTesouro IPCA+ 2035IPCA + 7,59%
DezembroDebênture Sabesp (SBSPC7)DI + 2,2500%
Fonte: Tesouro Direto, Anbima DATA. Referência: 03/02/2025.

Riscos 

Os dois principais riscos que envolvem títulos de renda fixa são marcação a mercado e liquidez. Manso afirma que os dois casos são minimizados em uma carteira voltada para renda

Marcação a mercado é muito importante no caso de investidores que pretendem vender os títulos no mercado secundário, com foco no ganho de capital. “Se você vai carregar o título até o vencimento, a marcação no preço não é uma preocupação, porque todo o dinheiro pago será corrigido pela inflação no final”, diz o gerente. 

Já a liquidez também é uma consideração mais significativa nos casos de ganho de capital. Porém, ainda assim, Manso e Serhan poderam que o mercado de crédito privado está mais aquecido e em franco crescimento. O volume de negociações aumentou de 1,5 bilhão por dia em 2021 para 4,5 bilhões por dia no ano passado

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“Hoje em dia é mais fácil vender os papeis no mercado secundário do que já foi no passado”, diz Manso. Papéis de grandes empresas, com bons prêmios, de setores defensivos, têm ainda mais saída. 

Serhan também pondera sobre o risco de escolha e administração da carteira. Segundo ele, a escolha de papéis de crédito envolve muita análise sobre as condições de pagamento das empresas, sobre o projeto ao qual está atrelado aquele investimento e também sobre a emissão dos títulos. Segundo o gestor, optar por fundos de crédito privado, que tem uma equipe de gestão, é mais seguro

“Hoje em dia é possível encontrar muitos fundos voltados para renda, que pagam com recorrência e têm bons retornos. É uma opção mais segura para quem não tem tanta familiaridade com o crédito”, diz Serhan.