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Após divulgarem os balanços do primeiro trimestre, Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú (ITUB4) ganharam destaque entre os “bancões”. Com resultados considerados sólidos, reforçaram a imagem de resiliência mesmo em cenários econômicos adversos. Ambos lideraram em retorno sobre patrimônio líquido (ROE): o do BB foi de 20,8% e o do Itaú, de 20,7%.
Foram esses fundamentos que colocaram os dois bancos no radar das recomendações dos analistas, tanto pensando na valorização dos papéis quanto na distribuição de dividendos. De 15 bancos e corretoras, 14 recomendam compra para as ações do Itaú. Outras dez casas, de 14 que cobrem a empresa, recomendavam compra para os papéis do BB, segundo levantamento do TradeMap.
Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11), por outro lado, não andam despertando tanto interesse. De 14 recomendações, quatro são de compra para as ações do Bradesco, sete de manutenção e três de venda. No caso do Santander, de 13 recomendações, seis são de venda e 7 de manutenção.
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As preferências são as mesmas quando os analistas são questionados sobre as perspectivas para dividendos: BB e Itaú vistos com bons olhos; Bradesco e Santander, com ressalvas. Além dos resultados, pesam fatores como a postura conservadora que pode pressionar o payout (parcela do lucro destinada a proventos) e os preços dos ativos.
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Por falar em preços, já virou um lugar comum dizer que “as ações do Banco do Brasil estão baratas para os resultados que a empresa entrega”. Serão as únicas descontadas?
Não parece ser o caso. Levantamento feito por Fábio Sobreira, analista CNPI-P da Ivest Consultoria, a pedido do InfoMoney, indica que as ações dos quatro “bancões” podem atualmente ser consideradas baratas.
Sobreira considerou o preço sobre o lucro – múltiplo conhecido como P/L – para identificar quais ações estão descontadas atualmente, comparando o indicador médio dos últimos cinco anos com o projetado para 2023. O papel foi considerado “barato” quando o P/L projetado era inferior à média histórica.
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O analista calculou ainda o poder de lucro da empresa, que indica sua capacidade de pagar dividendos caso opte por distribuir 100% do lucro neste ano. Para quem busca retornos com proventos acima da renda fixa, Sobreira apontou ainda o preço máximo de compra para assegurar dividend yield (taxa de retorno com dividendos) acima de 13,75% ao ano, patamar atual da Selic.
Confira os detalhes na tabela abaixo:
Ação | P/L médio dos últimos 5 anos | P/L projetado para 2023 | Situação da ação | Dividend yield nos últimos 12 meses | Poder de lucro projetado para 2023 | Preço máximo de compra para obter dividend yield de 13,75% ao ano |
Banco do Brasil (BBAS3) | 6,9 | 3,44 | Barato | 12,17% | 29,08% | R$ 34,47 |
Itaú (ITUB4) | 12 | 7,57 | Barato | 5,06% | 13,21% | R$ 10,41 |
Bradesco (BBDC4) | 11,4 | 8,54 | Barato | 5,16% | 11,71% | R$ 7,92 |
Santander (SANB11) | 10,9 | 9,40 | Barato | 5,29% | 10,63% | R$ 14,20 |
Fonte: Fábio Sobreira, Ivest Consultoria. O levantamento considera o preço dos ativos em 16/05/23. P/L = Preço/Lucro
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E o vencedor é….?
Após um trimestre sob nova gestão, o mercado gostou do que viu no Banco do Brasil, apontado como a melhor alternativa do setor para dividendos em 2023. As projeções indicam um dividend yield de 11% neste ano.
Os agentes de mercado elogiam o controle de inadimplência, que diminuiu, na contramão dos pares; o ROE elevado; e o crescimento da carteira de crédito.
Ação | Dividend yield projetado para 2023 | Preço-teto | Recomendação | Quem recomenda? |
Banco do Brasil (BBAS3) | 11% | R$ 41,50 a R$ 52 | Compra | Benndorf Research, Ticker Research, GuiaInvest, VG Research e L4 Capital |
Itaú (ITUB4) | 5% a 6% | R$ 28 | Compra (para valorização, não dividendos) | L4 Capital e Benndorf Research |
Bradesco (BBDC4) | 6% a 8% | R$ 18 | Compra | VG Research, Ticker Research |
Santander (SANB11) | 3% a 4,5% | R$ 25 | Neutro | L4 Capital e Benndorf Research |
Fonte: InfoMoney
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Para Sergio Biz, sócio do GuiaInvest, um ROE elevado conta muito. “Com a empresa aumentando o seu lucro líquido em relação a 2022, acredito que possa atingir o guidance [projeção] para 2023 e ter espaço para distribuir bons dividendos”.
Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research, destaca o forte controle de despesas, que “demostra uma gestão de riscos qualificada da companhia”.
Em relação à carteira de crédito, a exposição ao agronegócio favorece, mas o banco tem uma divisão equilibrada entre produtos para pessoas físicas, empresas, governo e pequenas e médias empresas.
Apesar do sucesso operacional, as ações do banco – controlado pela União – ainda apresentam desconto frente aos pares, dada a desconfiança quanto a interferências do governo que afetem a eficiência da instituição.
“Sem dúvida, o mercado penaliza o Banco do Brasil. Acreditamos que um retorno sobre patrimônio líquido de 21% não justifica a precificação que o mercado tem hoje”, afirmou recentemente Marco Geovanne Tobias, CFO da companhia.
A CEO Tarciana Medeiros já chegou a afirmar que não há qualquer pressão para que o banco atue em linhas que não tragam resultado. E que não vê espaço para o banco atuar com política de crédito sem amparo técnico.
Mas para os analistas, o risco de interferência sempre vai existir enquanto o banco for estatal. “Existe uma preocupação do mercado com a possibilidade de maior uso do banco para concessão de créditos não rentáveis. Até o momento, ele vem fazendo o dever de casa”, explica Tahara. O desconto, que considera exagerado, pode diminuir, caso o banco entregue bom resultado também no segundo trimestre. “Isso reforçaria que a gestão atual está focada em gerar valor”.
Tahara enxerga que os fundamentos construídos desde 2016, aliados à transformação tecnológica, melhora no modelo de risco e gestão, não devem mudar facilmente.
Os mais céticos, como Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research, desconfiam até da contratação de novos funcionários, como um desvio da eficiência do Banco do Brasil.
Recentemente, o banco abriu um edital de concurso para 4 mil funcionários, algo “incomum” no setor bancário, dada a tendência de redução de custos e de colaboradores diante da transformação digital. “Contratar funcionários para áreas de tecnologia faria sentido, mas para o comercial, não”, pontua. Para Sanches, será importante acompanhar a evolução da folha de pagamentos nos próximos anos, gerando custo extra e gestão pouco eficiente.
Os analistas esperam que o Banco do Brasil mantenha o payout de 40% neste ano, podendo melhorar com um cenário de recuperação de crédito. O dividend yield, consensual entre as casas consultadas pelo InfoMoney, é calculado em 11%.
Em 2023, o Banco do Brasil deve pagar dividendos trimestralmente, em oito fluxos, com quatro pagamentos antecipados e quatro complementares. Recentemente, o BB aprovou a distribuição de dividendos de R$ 0,12 por ação e juros sobre capital próprio (JCP) de R$ 0,65, depositados no dia 12 de junho para quem tiver posição em 1º de junho.
Um payout conservador
Pelos seus resultados, eficiência e boa gestão, o Itaú é considerando o mais seguro entre os bancos, mas isso o levou a ter uma postura mais conservadora em cenários adversos que acabou pressionando os dividendos.
Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, avalia que o Itaú acabou perdendo oportunidades de rentabilizar por essa prudência com os clientes, deixando de cobrar taxas e tarifas maiores. Ou sendo menos arrojado no fechamento de agências e otimização de custos. O crescimento na área de serviços e seguros deixou a desejar.
Os juros elevados também afetaram a carteira de crédito, que teve um crescimento menor e, como já sinalizado pelo CEO, deve permanecer assim em 2023.
Segundo Queiroz, por essa postura conservadora, o payout não deve ser elevado neste ano, mesmo com o banco apresentando resultados bons e recorrentes. “O payout será de cerca de 35% em 2023, com um dividend yield de 5% a 6%”, aponta.
Para ele, o dividend yield é baixo se comparado com Banco do Brasil ou bancos regionais, como ABC e Banrisul. “O payout do Itaú poderia ser maior, o índice de cobertura e o de Basileia estão em patamares adequados, mas a prudência do banco não deve fazer com que aumente”, pondera.
Melhorias no payout são esperadas apenas em 2024, quando poderia chegar a 45% do lucro, segundo Queiroz – por isso, considera o Itaú uma alternativa pensando em crescimento, com a expectativa de que a ação valorize 18%, chegando ao preço-alvo de R$ 32.
Tahara tem uma visão parecida e espera um payout de até 40% neste ano, com postura mais conservadora no crédito. O dividend yield projetado é de 5%. “Atualmente a tese é de valorização, esperamos que Itaú seja mais agressivo nos dividendos em 2024”, pontua.
Oportunidade para o longo prazo
No Bradesco, a inadimplência – puxada pelos segmentos de pessoa física e micro e pequenas empresas – preocupa os analistas, que esperam melhorias apenas no segundo semestre.
Para Milton Rabelo, analista do setor financeiro da VG Research, a taxa de inadimplência do banco só deverá cair na segunda metade do ano. Se a taxa Selic começar a baixar, o processo pode se acelerar, principalmente em 2024.
Segundo Rabelo, quando a inadimplência melhorar, o banco pode vir a fazer mais empréstimos. Por enquanto, contudo, a expectativa é de que o lucro seja semelhante ao de 2022.
O analista espera que o payout seja de 50%, com um dividend yield de 6% em 2023. Ele destaca que, embora modestos, os dividendos ainda superam a média do mercado. “Nos preços atuais, bastante descontados, o Bradesco pode ser opção para um investidor que busca dividendos no longo prazo”.
Sanches também aguarda uma recuperação a partir do segundo semestre, com potencial de garantir um dividend yield e um ganho de capital maior do que os pares nos próximos anos.
Ele projeta dividendos de 6% a 8% em 2023, com um payout de 50%. O preço-teto de compra apontado por ambos os analistas é R$ 18 para BBDC4.
Maior credor financeiro da Americanas (AMER3), em recuperação judicial desde janeiro, o Bradesco chegou a fazer uma provisão de R$ 4,9 bilhões no balanço do quarto trimestre de 2022. Recentemente, o banco anunciou que espera chegar a um acordo até junho.
Para Rabelo, se o Bradesco conseguir o valor total ou parcial dos empréstimos concedidos à varejista, as provisões poderão ser revertidas em resultados futuros, beneficiando o lucro e os dividendos.
Ficou para 2024
O Santander (SANB11), que enfrenta crescimento da inadimplência neste ano, perdeu a reputação de bom pagador de dividendos.
Segundo Tahara, o banco deve ter resultados fracos e um crescimento menor nos próximos trimestres, pela redução do seu apetite ao risco. “Sua carteira ainda é bastante exposta a pessoas físicas e financiamentos de consumo e deve sofrer com o cenário macroeconômico”, defende.
O analista não enxerga o banco como uma alternativa para ganhar dividendos em 2023, e espera que o banco tenha um payout de 40%. O dividend yield seria de 4,5%, com preço-teto de R$ 25 para SANB11.
Comparando os múltiplos atuais com a média histórica, o Santander pode ser considerado barato, segundo os analistas. Mas Tahara pontua que, observando as perspectivas ruins, o ativo na verdade é considerando caro.
Queiroz está mais otimista e espera uma retomada dos resultados no segundo semestre, o que dependerá do balanço do segundo trimestre. Embora esteja conservador na concessão de crédito, Queiroz avalia que o banco tem um bom mix de serviços e seguros, nos segmentos habitacional e de veículos. “Isso pode gerar bons frutos no futuro”.
Com um ROE atual de 10,6%, o Santander teria capacidade de oferecer dividend yield de 3% a 3,5% ao ano, projeta Queiroz. O payout é de 40%. “Não faz sentido ter Santander para dividendos em 2023, mas pode ser um bom banco a partir de 2024”, avalia.
Para Queiroz, se o ROE se recuperar para 20%, o banco teria capacidade de voltar a pagar entre 8% e 9% de dividendos anuais. Neste ano, seu preço-alvo para SANB11 é de R$ 36.