SÃO PAULO – Em um ambiente de juros progressivamente mais baixos, atingindo o piso histórico de 2,25% ao ano, e com uma surpreendente crise desencadeada pela pandemia de coronavírus, o investidor brasileiro tem tido mais dificuldades para alocar o patrimônio.
Se na parcela de risco as incertezas no horizonte freiam o ímpeto de destinar mais recursos à Bolsa, na fatia mais conservadora da carteira, o investidor se depara com um juro básico próximo da variação da inflação.
Dessa forma, no pedaço do portfólio a ser destinado à famosa reserva de emergência, as opções também têm rendido cada vez menos. Há, contudo, diferenças importantes de retorno e risco entre as alternativas para alocar o dinheiro tidas como um “seguro”.
E embora seja o produto preferido dos brasileiros, o retorno da caderneta de poupança deveria ser motivo para a aplicação não ocupar tanto espaço no portfólio. Mas os investidores continuam apegados ao investimento.
Com o estabelecimento pelo governo de um auxílio emergencial mensal de R$ 600 para brasileiros de baixa renda para minimizar os impactos da pandemia, a poupança registrou captação líquida recorde de R$ 37,2 bilhões em maio, levando a um saldo positivo da ordem de R$ 64 bilhões no ano.
Apesar de ser uma aplicação simples, conservadora e isenta de Imposto de Renda, a caderneta concorre com produtos mais atrativos e, inclusive, mais seguros.
É o caso do título publico Tesouro Selic, de fundos DI de baixo custo e até de alguns Certificados de Depósitos Bancários (CDBs).
Isso porque, com a taxa básica de juros igual ou abaixo de 8,5% ao ano, a poupança passa a render automaticamente 70% da taxa Selic anualizada, mais a Taxa Referencial (TR), zerada há dois anos.
Com os juros básicos mantidos em 2,25% ao longo de 12 meses, a poupança teria um rendimento anual de 1,57%. Mesmo sendo tributado, um produto indexado ao CDI (indicador que anda lado a lado com a Selic), como um CDB, renderia 1,86%, no mesmo período.
Confira a seguir uma simulação de quanto R$ 10 mil renderiam em 12 meses se aplicados na poupança e em produtos que rendessem 100% e 120% do CDI. Foram considerados três cenários para a Selic: com a taxa mantida em 2,25%, 2,00% e 1,75% ao ano.
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Com os juros no Brasil cada vez menores, o investidor corre o risco de ver a inflação corroer o retorno de aplicações como a da caderneta. O relatório Focus, do Banco Central, mostra uma expectativa de inflação de 1,61% para este ano.
Nos últimos cinco anos, a poupança registrou ganhos de 33,9%, enquanto o CDI teve variação de 55%. No período, a inflação acumulada foi de 24,2%.
Em outras palavras, se um investidor tivesse aplicado R$ 10 mil em 2015, teria lucrado R$ 3.390 com a poupança e R$ 4.675 com uma aplicação que rendesse 100% do benchmark de renda fixa, descontada a menor alíquota de Imposto de Renda, de 15%.
Confira a seguir os retornos da poupança, do CDI (variação bruta e com o Imposto de Renda descontado) e a inflação em três períodos diferentes de tempo.
As melhores alternativas para a reserva
Eduardo Akira, assessor de investimentos no escritório Vero Investimentos, destaca sua preferência pelo título público indexado à taxa básica de juros, o Tesouro Selic.
“É um papel que paga 100% do CDI com risco soberano, rendimento que é até difícil de se encontrar hoje nos CDBs [Certificados de Depósitos Bancários] de grandes bancos”, diz, em referência aos produtos com a mesma liquidez e considerando a isenção de taxa de administração para o Tesouro Direto (o que é bastante comum no mercado hoje).
O planejador financeiro com certificação CFP Marco Harbich também diz gostar desse título do governo, mas lembra que é importante que o investidor saiba da taxa de custódia cobrada pela B3, de 0,25% ao ano, que passa a ter maior peso sobre o retorno, à medida que a Selic está em trajetória de queda e no piso histórico.
Desta forma, se um fundo DI “puro”, isto é, sem exposição a crédito privado, for isento ou tiver uma taxa de administração menor que 0,25% a.a., ele tende a ser mais vantajoso que o Tesouro Selic, permitindo ao investidor o acesso ao recurso em caso de resgate no mesmo dia.
Um ponto importante, contudo, recai sobre a cobrança de “come-cotas”, que pesa contra os fundos. Essa é uma antecipação obrigatória do Imposto de Renda sobre o lucro da aplicação, que incide sobre fundos DI a cada semestre.
Além disso, dado que fundos DI não permitem grandes manobras por parte do gestor, uma vez que as carteiras devem ser alocadas majoritariamente em títulos públicos federais, Akira afirma que é importante que o investidor fique atento às taxas de administração, dando prioridade àquelas de menor custo (compatíveis com a taxa de custódia do Tesouro Direto).
Matéria do InfoMoney publicada em maio chamou atenção para o custo desproporcional de alguns fundos DI cobrados por instituições financeiras, com destaque para bancos.
Há fundos DI, porém, isentos de taxa de administração e com valores mínimos na faixa dos R$ 500, o que pode ser interessante para o investidor, ressalta o assessor.
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Do lado do Tesouro Direto, pesa contra o tempo de liquidação: enquanto o valor resgatado do Tesouro Selic fica disponível somente no dia útil seguinte ao pedido, os fundos DI tendem a apresentar liquidez imediata, com os recursos disponíveis no mesmo dia.
Por fim, Harbich cita produtos bancários como CDBs como uma terceira alternativa para montar o colchão de emergência – desde que ofereçam liquidez diária. Neste caso, é importante que o produto pague no mínimo o encontrado no Tesouro Selic, de 100% do CDI, diz.
E cabe ao investidor avaliar o risco de crédito do emissor, para evitar ter de recorrer ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC), em caso de quebra da instituição, respeitando, ainda, o limite de proteção de R$ 250 mil. O risco implícito do CDB é maior que o do Tesouro Selic e de um fundo DI sem crédito privado.
Em plataformas de corretoras independentes, há opções de CDBs de bancos médios com liquidez diária e rentabilidade de até 103% do CDI, com valor mínimo de investimento por volta de R$ 1 mil.
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