“Dever de casa” melhoraria indicadores no Brasil, diz economista-chefe da XP Asset

Para Fernando Genta, cenário internacional não ajuda, mas números devem piorar devido a fatores internos

Iuri Santos

Os jornalistas Mariana Amaro e Mitchel Diniz entrevistam Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset (Foto: Divulgação/InfoMoney)
Os jornalistas Mariana Amaro e Mitchel Diniz entrevistam Fernando Genta, economista-chefe da XP Asset (Foto: Divulgação/InfoMoney)

O cenário internacional desafiador com aumento do dólar globalmente, uma relação mais complexa com a Europa e mudanças políticas na China não ajudam a situação do Brasil no próximo ano, mas uma mudança de postura interna poderia melhorar os principais indicadores econômicos, avalia o economista-chefe da XP Asset, Fernando Genta.

Leia também: Mesmo em cenário desafiador, é hora de investir, diz estrategista-chefe da XP

“Se conseguíssemos fazer o dever de casa, teríamos espaço para uma depreciação muito grande da taxa de câmbio, um fechamento da curva de juros, uma retomada do crescimento em um nível forte”, disse economista no primeiro dia do Onde Investir 2025, evento organizado pelo InfoMoney.

Apesar disso, o executivo não acredita que será possível reverter o atual cenário. A expectativa é de um PIB crescendo entre 1,5% e 2%, dólar em em alta e taxa de juros no patamar de 15%.

Leia também: EUA é melhor tese de investimento do ano, diz Reider, da WHG

A avaliação é de que o governo já não tem muitas alternativas para melhorar a questão fiscal em 2025, um dos principais fatores responsáveis pela desancoragem das expectativas do mercado no decorrer do último ano.

“Não vemos medidas estruturantes que melhorem o fiscal. Todos os olhos do mercado se voltam agora para essa reforma da renda e da questão do Imposto de Renda”, avalia Genta.

Ele se refere à proposta de aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda para até R$ 5 mil. Pela sua análise, uma isenção como essa poderia até ter efeito superavitário, já que dá para a classe média em torno de R$ 50 bilhões em gastos. “O problema é que, de novo, você vai dar muito dinheiro para quem gasta. Esse dinheiro não necessariamente ajuda a frear a economia.”

Leia também: Onde Investir 2025: Brasil, EUA e alocação são destaques do 1º dia; saiba tudo

O prognóstico é de que as medidas propostas pelo governo no último ano apenas compensam um aumento dos gastos, e não efetivamente levam a cortes, o que mantém a economia aquecida. Para Genta, isso encarrega o Banco Central de conter a inflação por meio de elevação nos juros — a XP projeta que eles acabem o ano em 15,5%.

No cenário internacional, o governo Trump é um dos principais temas do ano. “O dólar deve se fortalecer contra todas as moedas, inclusive o real brasileiro. A economia americana deve continuar crescendo muito e o Banco Central americano, na minha visão, não corta mais os juros”, aponta.

“Quando a gente olha para a Europa, é um parceiro super importante também. Há uma situação política super complexa lá. Tem a questão da economia alemã que se baseou muito em um modelo que tinha como ponto de partida o gás por preço barato, e agora vem essa concorrência com os carros elétricos chineses”, diz Genta.

Inflação vai atingir a meta?

Para Genta, apenas uma redução drástica da inflação neste ano conseguiria derrubar a inflação à meta no horizonte relevante estipulado pelo Comitê de Política Monetária (Copom), no primeiro trimestre de 2026, de 3%.

“Se nossa projeção estiver correta, de 6% para este ano, seria uma desaceleração muito grande de 2025 para 2026, um ano eleitoral, os estados com caixa, uma expansão do gasto público por parte deles, a proposta de isentar o Imposto de Renda até R$ 5 mil”, explica.

Choques no agronegócio ou de confiança ou mesmo uma apreciação do Real poderiam alterar o cenário, mas não é um cenário visto como provável pela XP. “Não é um cenário em que o Banco Central abandonou a meta, nós só temos algumas premissas diferentes. Elas já foram mais diferentes, agora com esse ciclo de alta estamos nos aproximando”

PIB subestimado em 2025?

Há alguns anos que economistas tem enfrentado dificuldades para acertar suas projeções sobre o PIB. Essa foi uma realidade desde 2020, quando a retomada após a crise causada pela pandemia foi mais rápida que o esperado em função de estímulos fiscais e monetários e o veloz desenvolvimento das vacinas.

Para Genta, o aumento dos gastos com o Bolsa Família já no governo de Jair Bolsonaro e na sequência da gestão Lula levou a um aquecimento do mercado de trabalho para suprir a produção. “Nós fizemos uma expansão tão grande no Brasil exatamente onde há maior efeito multiplicador, que é das pessoas que gastam 100% da renda. Essas ondas são coisas que nós, economistas, prevemos mal.”

Ainda é possível se inscrever para o Onde Investir 2025! Participantes inscritos garantem acesso às transmissões online desta semana e a um e-book com as principais recomendações feitas durante os painéis. As transmissões online começam na terça-feira (14) e vão até quinta (16), das 18h às 21h.

Iuri Santos

Repórter de inovação e negócios no IM Business, do InfoMoney. Graduado em Jornalismo pela Unesp, já passou também pelo E-Investidor, do Estadão.