Publicidade
Na primeira quinzena de agosto, o governo federal lançou o Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Com volume total de investimentos previstos em R$ 1,7 trilhão, a principal novidade do programa no terceiro mandado de Lula é a participação relevante da iniciativa privada.
Estão previstos R$ 612 bilhões em investimentos de empresas privadas, enquanto R$ 371 bilhões virão da União, R$ 343 bilhões de estatais e R$ 362 bilhões de financiamentos.
Com o volume grande de investimentos de estatais e empresas privadas, o mercado de capitais e os investidores podem se beneficiar do programa. Isso porque as empresas devem emitir dívida –ou, de forma simplificada, “pegar empréstimos” junto aos investidores – por meio de debêntures incentivadas, instrumentos isentos de Imposto de Renda.
Continua depois da publicidade
O impacto do Novo PAC previsto para esse mercado cresce ao considerar que o governo ampliou, em decreto, o número de setores que podem emitir debêntures incentivadas. Além de energia, portos e saneamento básico, empresas ligadas à educação, saúde, segurança pública e até equipamentos culturais e esportivos podem captar recursos com esse instrumento.
O programa anunciado pelo governo vai investir em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, expansão de banda larga – especialmente no Norte e Nordeste –, implementação do 5G, abastecimento de água, geração de energia e outras áreas. A promessa é de que a nova versão do programa terá cuidado com questões ambientais.
Leia mais:
Continua depois da publicidade
Regulamentadas em 2011, as debêntures incentivadas – ou debêntures de infraestrutura, como também são chamadas – logo caíram no gosto dos investidores brasileiros, justamente por serem livres de tributação. Neste ano, dos cerca de R$ 90 bilhões emitidos em debêntures até julho, pouco mais de R$ 14 bilhões foram captados com as incentivadas.
Atualmente, a maior parte das debêntures com remuneração atrelada à inflação é formada por papéis incentivados – mais de 90% de um grupo de cerca de 350 acompanhadas pelo Bradesco BBI. As taxas são consideradas elevadas: variavam de 5% a 8% ao ano no início deste mês, fora a atualização pelo IPCA, no caso de emissores com as notas de crédito mais elevadas (AAA).
Para especialistas, o Novo PAC terá efeito positivo no mercado de renda fixa ao trazer mais opções para investidores e liquidez no mercado secundário. Odilon Costa, head de renda fixa da SWM, classifica a inclusão de novos setores como “muito benéfica” para o mercado, mas logo avisa que os efeitos “tendem a tardar um pouco”.
Continua depois da publicidade
Seguindo a linha de Costa, Leonardo Ono, gestor de crédito privado da Legacy Capital, diz que a primeira impressão do projeto é boa, “mas não sabemos qual o timing para implementação das diretrizes”.
Ou seja, ainda não é possível dizer quando o Novo PAC fará preço nas debêntures, apesar da certeza de que o projeto vai mexer com o mercado.
O PAC com maior participação da iniciativa privada vem após mudanças regulatórias que deixaram empresas privadas mais competitivas contra as estatais. As mais importantes delas foram o Marco Legal do Saneamento e o Marco Legal do Transporte Ferroviário. “Hoje temos mais empresas acessando o mercado de debêntures isentas com profundidade”, comenta Costa.
Continua depois da publicidade
Novos setores animam?
É preciso, porém, considerar o volume que os novos setores podem trazer ao mercado. A entrada de empresas de saúde, educação e cultura nas debêntures incentivadas pode ser boa para diversificação da carteira, mas não animam em termos de volume.
“R$ 100 milhões para uma faculdade privada é muito dinheiro, enquanto uma obra de saneamento requer muito mais do que isso. Esses novos setores demandam muito menos capital”, compara Ono. Em julho, a Águas do Rio, do Grupo Aegea, por exemplo, emitiu R$ 5,55 bilhões em debêntures de infraestrutura.
Para o especialista da Legacy, as novas debêntures incentivadas precisam ser analisadas com cuidado pelos investidores. Uma das preocupações são os ativos tangíveis dos novos setores: “Se o investidor compra debêntures de uma empresa de energia e ela tem problemas, suas linhas de transmissão ainda terão valor para outra companhia. Mas é preciso procurar ativos tangíveis em empresas de inovação ou produção cultural”.
Continua depois da publicidade
BNDES pode ‘atrapalhar’?
Há outra fonte de financiamento que, em um governo petista, vem retomando espaço: o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As empresas podem recorrer ao banco para financiar os projetos, levando volume menor para o mercado de capitais.
Porém, Costa acredita que o BNDES não é uma ameaça para a renda fixa privada e que a instituição e outros bancos podem “coexistir” no financiamento de projetos. “O BNDES tende a crescer como fonte de financiamento, mas é um projeto muito extenso, com espaço para os bancos e o mercado de capitais”, diz o especialista.