SÃO PAULO – Cuidar do dinheiro de terceiros é responsabilidade de peso que um número cada vez maior de profissionais deseja assumir. Com o mercado financeiro em um ritmo acelerado de crescimento, mas ainda com muito espaço para se difundir entre os brasileiros, há quem comece desde cedo a aprender sobre dinheiro em casa, com sua própria família, enquanto outra parcela só passa a ter contato com o tema na fase adulta.
Esse é o caso da maior parte dos cinco profissionais do mercado que compartilharam com o InfoMoney, neste dia das crianças, como foram suas jornadas de aprendizado financeiro e o que pretendem passar, ou já passaram adiante, aos filhos.
Sem um “manual” a ser seguido para garantir o sucesso nessa trajetória, cada um teve uma experiência diferente e hoje tenta aplicar os maiores aprendizados no dia a dia de suas famílias.
E mostram ainda preferências diversas quando o assunto é a escolha dos investimentos para os herdeiros, que vão desde a tradicional previdência a carteiras com fundos de índices (ETFs), ações e até fundos de private equity. Confira a seguir os principais trechos das conversas.
Marcelo Giufrida, sócio e CEO da Garde Asset Management
Com um filho e uma filha com cerca de 30 anos, Marcelo Giufrida, 58, à frente da Garde Asset Management, estabeleceu desde cedo uma contribuição periódica para formar uma reserva para quando as então crianças chegassem à faculdade. A escolha recaiu sobre ações.
“Aplicava um montante em dólar fixo por mês. Quando a Bolsa caía, eu adiantava os aportes de dois ou três meses. Quando ela subia demais, eu recuava. Fazia de acordo com o manual, sem deixar o emocional dominar”, conta.
Sem nunca ter contado aos filhos da poupança, Giufrida conseguiu presentear Guilherme, de 32 anos, e Patricia, 29, com o dobro do valor planejado. E conta orgulhoso que ambos reservaram uma parte para continuar a poupança, além de terem decidido comprar seus carros.
A partir de uma mesada, o engenheiro tentou orientar seus filhos desde cedo a compreender o que seria um orçamento e a priorizar suas escolhas, aprendizados que guarda da própria infância.
“A noção de orçamento ficou arraigada. Meu pai não dava uma mesada, mas eu vivenciava discussões em família sobre ter um orçamento apertado”, recorda. “Como tive a sorte de evolução rápida na carreira, tive uma folga um pouco maior, mas em vez de fazer disso um mimo, transformei numa mesada para os meus filhos.”
Fernanda Rosalem, diretora de Real Estate do Patria Investimentos
Com a noção desde nova de que teria que batalhar por seus objetivos, Fernanda Rosalem, diretora de Real Estate do Patria Investimentos, tem como grande aprendizado familiar a ideia de que nada lhe seria entregue de graça.
“Sempre esteve muito claro em casa que meus pais iriam proporcionar o que pudessem em termos de estudo, mas que teríamos que ir atrás do que quiséssemos conquistar.”
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Com o tempo, conta, as conquistas profissionais geraram a possibilidade de fazer investimentos, e foi assim que a diretora, nascida em Botucatu (SP), comprou seu primeiro apartamento.
Formada em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fernanda, 46, tem um filho de 14 anos e três enteados.
A dinâmica em casa é um pouco diferente da vivida em sua infância, mas ela tenta passar adiante a necessidade de lutar pelos objetivos. A instituição de uma mesada, diz, ajuda na compreensão.
As conversas em casa vão na mesma linha, de tentar ensinar o valor do dinheiro. “Até pelo trabalho, conversamos bastante sobre os cuidados com dinheiro, com aplicação. É preciso ser antenado, saber o que acontece no mundo para investir bem”, diz.
Um dos grandes ensinamentos que quer passar adiante é o sentido de impermanência das coisas. “É importante saber que imprevistos podem acontecer, que a vida pode nos levar para outros caminhos, que temos que pensar muito mais à frente”, observa Fernanda. “E o tempo sempre está a favor de quem é jovem. Então quanto antes você começar a fazer, melhor.”
Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP Investimentos
De uma família dedicada à área da saúde, com pai médico e mãe dentista, Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP Investimentos, aprendeu sobre o universo financeiro por conta própria.
“Meus pais não tinham muito conhecimento do meio financeiro, mas eu sempre me interessei mais por números do que pela carreira médica”, conta.
Sem mesada fixa na infância, Ferreira, que tem 37 anos, recorria aos pais para gastos específicos e podia contar mais com a mão aberta do pai, que passava longas horas longe de casa trabalhando, do que da mãe, mais controlada com dinheiro.
Como ocorre com a maior parte dos brasileiros, o estrategista também não pôde ter a escola como aliada na educação financeira. Seu primeiro contato com o tema se deu na adolescência, a partir da leitura do best-seller “Pai Rico, Pai Pobre”, de Robert Kiyosaki e Sharon Lechter.
Fã de esportes, a atividade foi outro pilar que ajudou Ferreira na trajetória financeira, diante das lições de persistência e disciplina.
“Sempre fiz muito esporte e isso me ajudou muito a ter determinação para ir atrás do que quero, levantar quando as coisas não dão certo, ter objetivos”, diz.
Formado em administração de empresas pela FGV, o estrategista ingressou no mercado financeiro ainda na faculdade, com o primeiro trabalho em um banco de investimentos. Por isso, o fascínio pelo mercado de capitais vem desde aquela época, tendo feito o primeiro investimento em ações.
Com duas filhas, de cinco anos e um ano, pela primeira vez, Ferreira decidiu dar um presente de dia das crianças em dinheiro para a mais velha, para que ela decida como vai gastar.
Enquanto as filhas são pequenas, a ideia é “apenas” a de ensinar o valor do dinheiro. “Quero abordar muito mais o lado da escassez com minhas filhas, porque tem muito pai que estraga as crianças, dão tudo que elas querem e não colocam limites.”
Na parte de investimentos, Ferreira tem um plano de previdência em nome das filhas.
Patrícia Palomo, sócia-diretora da Sonata Gestora de Patrimônio
Mãe da Marina, de quatro anos, e da Beatriz, de dez meses, a sócia-diretora da Sonata Gestora de Patrimônio, Patrícia Palomo, conta que conceitos essenciais para que o investimento tenha maior chance de gerar bons frutos mais à frente já começam a ser aos poucos enraizados nas filhas, de maneira lúdica. Um exemplo é o valor do dinheiro ao longo do tempo.
“A Marina gosta muito daqueles chocolatinhos com recheio de amendoim, e, às vezes, quando me pede, falo que posso dar cinco naquele momento, ou dez, se ela esperar mais alguns minutos”, afirma a gestora, que reconhece que nem sempre a tática funciona. “Se ela não aceita, de vez em quando, aumento a oferta, ofereço 12 chocolatinhos, mas não é sempre que dá certo.”
De todo modo, com o exercício, explica, a intenção é mostrar o ganho que pode ser obtido ao fazer algum tipo de poupança no momento presente, em nome de uma recompensa no futuro.
“O investimento nada mais é do que a troca intertemporal entre o consumo presente e o consumo futuro”, afirma a gestora, lembrando que, quanto mais tempo tiver para poupar, mais arriscado, e potencialmente rentável, pode ser o portfólio, já que há mais tempo para se recuperar de eventuais perdas.
Filha de pais da área da saúde, Patrícia, que tem 38 anos, afirma que foi ela quem passou a introduzir o conceito das finanças no cotidiano da família após ingressar na faculdade de Economia. Desde cedo, as filhas têm investimentos feitos em nome delas pela mãe coruja, e que seguem a mesma filosofia que a diretora passa para os clientes da Sonata – um mix entre ETFs locais e globais, carteiras com gestão ativa de diferentes abordagens e ações.
Para selecionar os melhores fundos para a carteira, a diretora da Sonata diz que gosta de analisar a rentabilidade em períodos de janelas móveis de dois ou três anos, para identificar os gestores com mais consistência ao longo do tempo.
“Gestores que batem o benchmark em um ano não é difícil de encontrar; o difícil é a consistência”, afirma Patrícia. Ela diz ainda que, para aquelas pessoas que dedicam um pouco mais de tempo à análise dos investimentos, a alocação direta nas ações de maior convicção também pode ser uma boa estratégia para a poupança dos filhos.
Marcus Vinicius Gonçalves, diretor-presidente da Franklin Templeton no Brasil
Com 47 anos, o diretor-presidente da Franklin Templeton no Brasil, Marcus Vinicius Gonçalves lembra que sua educação financeira ocorreu em uma época em que o país convivia com a hiperinflação e os sucessivos e, em alguns casos, desastrosos planos econômicos.
No período, o conceito de longo prazo era pouco difundido não só no mercado local, mas para os brasileiros de um modo geral, recorda. “Quando o salário caía, era uma corrida da família para fazer as compras no supermercado”, diz o executivo.
Aos trancos e barrancos, a evolução econômica do país ao longo das últimas décadas hoje permite que o especialista construa um portfólio para o filho Gabriel, de dez anos, em que ativos de menor liquidez, que demoram anos para maturar, representam a maior parte da carteira.
Fundos de private equity que investem em setores como infraestrutura, e que tendem a resultar no futuro em melhorias no país que poderão ser usufruídas pelo próprio filho, fazem parte da cesta de investimentos que o presidente da unidade brasileira da gestora Franklin Templeton constrói desde 2010 para Gabriel.
Na porção líquida do portfólio do primogênito, a preferência recai sobre ETFs de mercados emergentes.
Segundo o gestor, ao completar 18 anos, Gabriel poderá usufruir da poupança em formação da maneira que bem entender. Mas se puder influir na decisão, vai recomendar ao filho investir na educação após a graduação na faculdade.
De família da área jurídica, sendo o próprio Gonçalves formado em Direito, além de Economia, ele conta que seu pai lhe pagou um ensino de excelente qualidade, até a formação no colégio.
“A partir da faculdade, ele falou que, se quisesse estudar em uma instituição privada, eu teria de pagar por conta”, recorda o gestor, que estudou na USP e começou a estagiar no segundo ano de faculdade no Bradesco. O diretor acabou sendo o responsável por negociar a joint venture do banco com a Franklin Templeton, encerrada em 2006, quando conheceu seus futuros empregadores.
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