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SÃO PAULO – Sob gritos de “É campeão”, Adriano de Souza, o Mineirinho, saiu do mar na mítica praia de Pipeline, no Havaí, para os braços da torcida. Campeão mundial de surfe em 2015, ele dedicou aquela vitória ao amigo e também surfista profissional Ricardo dos Santos, morto no começo daquele ano, e ao irmão mais velho, Ângelo de Souza, que lhe deu a primeira prancha quando tinha 8 anos. “Por R$ 30 ele comprou uma prancha de surfe para mim. Na época eu sei que era muito dinheiro para ele. E hoje eu estou no topo do mundo por [causa daqueles] R$ 30”, disse muito emocionado logo após o término da bateria. Era o auge da carreira do jovem que nasceu em uma comunidade no Guarujá, cidade do litoral de São Paulo, e que vinte anos antes daquela final da WSL (World Surf League) levava todos os dias o almoço para o irmão, que servia o Exército e trabalhava perto da praia. “Eu ia entregar a comida dele. Passava pertinho do mar e já nesta época começou a minha paixão pela água”, lembra, em entrevista exclusiva ao InfoMoney.
Ângelo, que na época tinha 19 anos, costumava surfar aos finais de semana. Mineirinho passou a ir junto e logo aprendeu a dar as primeiras remadas. Notando o entusiasmo do garoto, o irmão resolveu lhe dar a prancha. “Eu evolui muito rapidamente. Quando tinha 10 anos já participei de um campeonatinho de surfe”, lembra. Também foi de Ângelo que veio o apelido. “Meu irmão era quieto, então tinha o apelido de Mineiro. Quando comecei a andar com os amigos dele, passaram a me chamar de Mineirinho”, conta.
Aos 14 anos ele venceu um campeonato e levou para casa R$ 8 mil e uma moto 0 km. “Eu pensei: o que vou fazer com esta moto? Só vou poder andar com ela daqui a 4 anos. Então decidi vender, juntar com o prêmio em dinheiro e começar a construir uma casa fora da comunidade”, conta. A consciência sobre as finanças e o futuro se iniciava ali. Hoje ele tem algumas casas na cidade em que nasceu, que garantem renda de aluguel, e mora em Florianópolis (SC).
Com os títulos cada vez mais frequentes, não demorou para que Mineirinho recebesse propostas de patrocínio, ainda na adolescência. “Aos poucos fui percebendo que o surfe poderia ser meu futuro. Comecei a fechar contratos mais longos com os patrocinadores e fui vendo que poderia viver daquilo”. Desde aquela época ele se preocupava em economizar, já que a carreira de um surfista profissional não é muito longa. “Todo mundo quer ter dinheiro, quer poder comprar as coisas. É algo natural e bom. Claro que eu também gosto de ter minhas coisas, mas tenho consciência. Lógico que não salvo 99% da minha renda, mas eu procuro poupar e investir sempre uma parte daquilo que ganho”, afirma.
Há um ano o surfista deu um passo ainda maior. Percebeu que poderia acumular mais recursos e melhorar a maneira como investia, só que não tinha muita ideia de como fazer isso. Durante um bate papo com o amigo Charles Saldanha, pai do surfista Gabriel Medina, o videomaker Henrique Daniel, que integra a equipe de filmagem de Gabriel, disse que ele poderia usar uma corretora com plataforma aberta, que disponibilizasse produtos de vários bancos. “Comecei a pesquisar e me interessei. Abri uma conta na XP Investimentos há cerca de um ano e já fiz 4 cursos”, conta. Há alguns meses a XP passou a patrocinar o surfista. “O Mineirinho representa uma nova geração de atletas de surfe, com foco em performance e preparação física. E tem uma história muito bacana. Com muito esforço e dedicação atingiu o topo do surfe mundial”, comenta Gabriel Leal, sócio e diretor de distribuição da XP Investimentos.
Antes de mergulhar no mundo das finanças, o atleta ainda cometia alguns deslizes. Se esquecesse de pagar uma fatura do cartão de crédito na data do vencimento, por exemplo, não dava muita importância. “Eu pensava: são só alguns dias, não vai ter problema. Hoje eu vejo como isso é errado, porque os juros são altos demais”, diz.
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Agora Mineirinho aprendeu a usar os juros a seu favor. A maior parte dos seus investimentos está na renda fixa, em produtos que se beneficiam da alta taxa de juros praticada no país. Uma fatia um pouco menor ele investe em fundos multimercados e com exposição a ativos internacionais. Já uma pequena parcela ele quer reservar para aplicações mais arriscadas de renda variável. “Vejo meus investimentos como uma pirâmide. Na base está a renda fixa, no meio os fundos multimercados e na ponta o mercado acionário. Mas ainda não me sinto seguro na Bolsa, talvez daqui um ano ou um pouco mais eu comece a investir”, afirma.
O surfista diz que a maior parte dos atletas não tem muita noção de como lidar com as finanças. “Isso não quer dizer que eles saiam por aí gastando tudo o que ganham. Mas muitos não tem consciência de que poderiam ganhar muito mais se saíssem da poupança, por exemplo. Uma boa parte ainda investe mal”, conta. Experiente e tranquilo, ele diz que sempre que alguém lhe pergunta sobre finanças ele procura contar sua história pessoal. “Falar sobre dinheiro é sempre delicado. Então acho que precisa haver um interesse da pessoa. Se algum atleta fala comigo, eu conto o que funciona pra mim”.
Aos 29 anos, o atleta lembra que dificilmente um surfista profissional continua na carreira depois dos 40 anos – salvo algumas exceções, como o norte-americano Kelly Slater, que ainda surfa em alto nível aos 44 anos. “Pretendo competir por mais 10 anos. Depois quero parar e aproveitar a vida”, revela. Se depender da renda dos seus investimentos, o futuro parece mesmo garantido.