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O crédito privado foi uma das classes de destaque no mundo dos investimentos em 2024. A categoria quase dobrou (+96%) o volume de emissões nos dez primeiros meses do ano em comparação com o mesmo período de 2023 e essa oferta não só foi completamente absorvida como existe demanda para mais.
Debêntures, debêntures incentivadas, certificados de recebíveis imobiliários (CRIs) e do agronegócio (CRAs) emitiram R$ 461,2 bilhões até outubro, segundo a XP, e a maior parte desse volume entrou na carteira dos fundos de crédito – que foi a classe de fundos que mais captou no ano.
Juros altos, mudança na regulamentação de ativos isentos e fim dos fundos exclusivos são algumas das justificativas dadas por gestores para a demanda tão alta. A questão é: o mercado está aquecido e os investidores continuam atrás de retornos mais altos do que o de títulos públicos. Acontece que, em 2025, as condições estarão piores para as empresas emissoras em termos de custos de captação, o que pode diminuir o volume de emissões.
“Juros a 14% não é bom para ninguém, em nenhum cenário. Vai ser difícil para as empresas virem ao mercado com um custo de capital tão alto. Devemos ver mais equilíbrio nas emissões de crédito que estavam num momento muito forte, a caminho de um ápice”, diz Carlos Prates, diretor geral da Moody’s Local, braço da Moody’s Rating no Brasil.
10 anos para dobrar valor
Em relatório da XP, assinado por Clara Sodré, analista de fundos, e Camilla Dolle, head de renda fixa, a possível refreada nas emissões pode ser positiva para equilibrar os prêmios de risco dos ativos, que fecharam muito no segundo semestre dando uma falsa simetria de menor risco para os ativos.
“Este movimento de ajuste pode reduzir o risco de os investidores, em busca de retornos mais altos, alocarem capital em títulos mais arriscados sem avaliar adequadamente os riscos de crédito subjacentes”, diz o relatório.
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Para Sodré, o retorno desses ativos vai continuar alto – afinal, os juros devem chegar a 14,25%, segundo sinalizado pelo próprio Banco Central –, mas os prêmios em relação aos títulos públicos devem diminuir nos títulos e fundos de empresas com grau de investimento e liquidez imediata.
Papeis e fundos com maior risco, os high yield, pagaram melhor em 2024 e devem pagar melhor em 2025, mas o risco de crédito e alongamento de prazos são características que o investidor deve estar disposto a se expor.
Em 2024, até 5 de dezembro, o crédito high yield pagou 12,23% de retorno médio aos investidores, à frente dos high grade, com 11,67%. O crédito com liquidez imediata teve o menor retorno, com 10,58%.
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A XP não recomenda a maior exposição a risco para conseguir retorno. No relatório, as especialistas defendem o carrego (levar o título até o vencimento).
“A taxa de juros real ultrapassou os 7% ao ano. Calculamos que, a este nível, o capital investido dobra, em termos reais, a cada 10,3 anos”
Infra e agro
Os fundos de debêntures são uma das escolhas do BBI dentro do crédito privado. “A elevada exposição a empresas com perfil de rating torna a classe de ativos bastante resiliente, mesmo em um ambiente de juros elevados”, diz um relatório do banco.
Pelo menos 67% do estoque atual de debêntures têm grau de investimento AAA, considerando as emissões com rating atribuído. Os setores de infraestrutura (Utilidades Públicas, Transporte e Logística e Telecomunicações) se saem melhor, devido a boa previsibilidade de geração de caixa.
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As perspectivas para o agronegócio também são positivas entre os analistas do BBI. “Estimativas do Bradesco apontam para crescimento da renda agropecuária de 7,6% ano a ano na safra 24/25, com renda de lavouras crescendo 6,7% e da pecuária 9,5%”. Além disso, o Conab e o IMEA apontam para uma melhora relevante na margem dos produtores de soja e milho para a mesma safra, com chances de superar a média histórica.
Isso significa aumento de renda para o setor, que deve refletir em margens maiores e contribuir com a melhora no perfil de crédito do setor. “Esses dois segmentos somados, soja e pecuária, representaram 70% dos pedidos de recuperação judicial no agro no primeiro semestre de 2024, segundo a Serasa.