Crédito privado ficou “menos óbvio” e exige cautela do investidor, avaliam gestoras

Casas chamam atenção para movimentos abruptos nos spreads, que chegaram a ficar negativos em algumas emissões

Bruna Furlani

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As mudanças na tributação de fundos fechados e as alterações nas emissões de títulos isentos ajudaram a puxar um fechamento (recuo) forte dos spreads de papéis de crédito privado nos últimos meses, que chegaram a ficar negativos, exigindo mais cautela do investidor. A visão foi defendida por gestores durante painel no evento Brazil Investment Forum, organizado pelo Bradesco BBI, nesta terça-feira (2).

“Tem muita dispersão. Tem debêntures com spread [juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação aos dos títulos públicos] negativo. O desafio está em selecionar melhor a amostra e tirar proveito disso”, afirmou Alexandre Muller, sócio e gestor de crédito da JGP.

Ana Rodela, gestora de crédito do Bradesco Asset Management, que também participou do painel, defendeu que o movimento deve fazer com que a escolha dos ativos agora seja mais cautelosa. A executiva observou que o mercado tem apresentado operações com nível mais “amassado” de spread, que tem ficado próximo ou até mesmo abaixo da média histórica.

“Quanto mais perto estamos da média, menos óbvio fica esse call [ativo]. A decisão e a escolha tem que ser mais cautelosa. Giro de carteira é muito levando em consideração quais papéis foram demais e quais não foram ainda”, afirmou a especialista do Bradesco.

O movimento chama atenção em meio ao aumento da demanda por títulos isentos em detrimento até mesmo de papéis públicos. “As NTN-Bs (Tesouro IPCA+) estão sendo vendidas de maneira relevante, e há uma demanda abaixo da média histórica, enquanto há uma busca maior por títulos privado”, destaca Renan Rego, gestor de portfólio e sócio da G5 Partners, que também participou do painel.

Debêntures de infraestrutura

Além das mudanças recentes nas emissões de títulos isentos, outra novidade promete afetar ainda mais o mercado nos próximos meses: a assinatura do decreto, na semana passada, que restringiu a utilização de debêntures de infraestrutura para o pagamento de outorgas de concessão e que também a emissão de títulos por alguns setores, como o de óleo.

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A criação das debêntures de infraestrutura buscou complementar as já conhecidas “debêntures incentivadas”, também regulamentadas pelo decreto. Na prática, a grande diferença para os títulos anteriores é que as empresas é que terão o benefício fiscal para captar com títulos de infraestrutura.

Ao comentar sobre a novidade, Muller, da JGP, diz que viu o decreto como “restritivo”, ao restringir a parte de saúde e educação a projetos de oferta pública, o que deve deixar o mercado mais apertado que ele esperava.

“Me parece que o Governo tenta cercar a possibilidade de lastro para os títulos que gozam de isenção. Isso tende a achatar os spreads no mercado de incentivadas. Tende a faltar oferta e a demanda está quente”, observa o executivo da JGP.