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Os fundos multimercados sofreram com resgates nos últimos meses, com um fluxo que teve como destino final a alocação em ativos isentos de renda fixa – e o movimento não está perto do fim, na avaliação de Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset Management.
“Tem uma corrida de multimercado para produto isento, e essa corrida está no meio [do caminho]”, defendeu o executivo, durante evento da Hedge Investments nesta quarta-feira (20). “Já saiu muito dinheiro de multimercados, mas ainda tem mais pra sair”.
A fala de Stuhlberger ocorreu depois de ter sido questionado sobre mudanças recentes feitas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que restringiram os lastros de emissões de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e do Agronegócio (CRAs), além de ter alterado os prazos de vencimentos de Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e do Agronegócio (LCAs).
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Segundo o gestor, um dos fatos que mais lhe chamou a atenção depois das mudanças do CMN foi o comportamento das taxas de LCIs e LCAs: para sua surpresa, em vez de caírem, subiram. “A Caixa Econômica [Federal] não baixa [taxas], pois é o Governo. Você baliza para todos os bancos grandes a uma taxa parecida com ela. O investidor de posse hoje consegue aplicar e receber 98%, 99% do CDI”, destacou o executivo.
Levantamento feito pela Quantum Finance ao InfoMoney mostrou que a taxa média das LCAs pós-fixadas emitidas em janeiro foi de 83,29% do CDI para os papéis com vencimento em 12 meses. Já em fevereiro, após as alterações promovidas pelo CMN, os títulos com as mesmas características passaram a oferecer taxa média de 88,36% do CDI.
Os dados da Quantum ainda destacam como o aumento dos prazos de LCAs teve impacto positivo no mercado: em janeiro, foram emitidos 102 papéis pós-fixados com vencimento em seis meses. No mês seguinte, apenas cinco vieram ao mercado.
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Já as comparações de taxas das LCIs ficaram prejudicadas pela seca de ativos em fevereiro, segundo o levantamento. O número de títulos pós-fixados de 36 meses saiu de 122 em janeiro para apenas dois no mês passado.
Segundo Stuhlberger, o recuo nas taxas tem sido visto em debêntures incentivadas ligadas à infraestrutura, com uma queda de cerca 0,5 ponto, diante de uma “febre de emissões”, e que algumas estão vindo “carecas”, ou seja, sem prêmio em relação ao título público equivalente.
Estrangeiro “influenciado”
Já ao ser questionado sobre a Bolsa brasileira, o profissional ressaltou ver uma boa “oportunidade de compra”. Segundo ele, o Ibovespa não está “caro”, porque um dos indícios de que o preço está elevado é que há muita abertura de capital (IPO, na sigla em inglês).
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“Não está acontecendo. Não há IPOs, follow-ons [ofertas subsequentes]. Tem gringo saindo. Tem todos os sinais de que é um buy opportunity [oportunidade de compra]”, disse.
O gestor também se mostrou surpreso com a saída expressiva de capital estrangeiro neste ano e disse não entender muito bem o porquê.
“Quando o presidente Lula fala, você pode interpretar se isso é signal [sinal] ou noise [ruído]. Se você olha a condução da política econômica do Haddad, você pode interpretar isso como noise, ou como buy opportunity [oportunidade de compra]. É difícil de achar que isso não pega no comportamento do investidor de fora. Eles são pessoas e são influenciadas”, observa Stuhlberger.
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Apesar disso, o gestor completa que o investidor estrangeiro sabe comprar no contrafluxo, o que não está acontecendo nesse ano – o que chama a atenção do executivo e levanta dúvidas em sua cabeça.