Corrida ao dólar com tensão Rússia x Ucrânia, avanço das commodities, seis altas de juros nos EUA: o que a SPX espera para a economia global

Ao InfoMoney, Beny Parnes e Ylan Adler, sócios da gestora, explicam por que veem as projeções de inflação incompatíveis com os juros previstos pelo mercado

Bruna Furlani

(Getty Images)
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O crescimento das tensões envolvendo a Rússia e a Ucrânia e demais países do Ocidente, como os Estados Unidos, ganharam as manchetes dos principais jornais nas últimas semanas. Agora, agentes financeiros tentam precificar quais seriam os impactos de um conflito.

Na opinião da SPX, uma das mais renomadas gestoras brasileiras, que possui R$ 61 bilhões sob gestão, uma possível guerra entre os dois países poderia gerar uma corrida para o dólar e provocar forte impacto sobre ações europeias e commodities.

Quem detalha a percepção da casa sobre o conflito são os sócios Beny Parnes, que é responsável pela área de crédito, e Ylan Adler, gestor de commodities. Ambos conversaram com exclusividade ao InfoMoney.

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Para Parnes, um dos fatores que ajudam a impulsionar as tensões é o fato de que o momento é favorável para Vladimir Putin, presidente da Rússia. Isso porque os preços do petróleo estão elevados, há uma crise energética na Europa e o mundo passa por um processo de transição energética.

Na prática, diz o gestor, o presidente russo está exercendo uma “diplomacia de repressão”. “Ele quer manter a sustentação dele no poder. Quer deixar o regime estável”, destaca.

Embora acreditem que um evento como esse poderia gerar um grande choque negativo sobre uma economia global que já está em processo de redução de estímulos, uma guerra ainda não é o cenário principal da casa neste momento, avaliam.

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De acordo com Parnes, as próximas semanas serão de intensa negociação. “Guerras são custosas e vão fragilizar a economia russa”, pondera.

Beny Parnes, SPX
Beny Parnes, responsável pela área de crédito da SPX. Crédito: Divulgação

Commodities: forte impacto e preços para cima

Uma das preocupações da casa está no poder russo em termos de exportação e produção de commodities, diz Adler. “Se houver um choque, provavelmente a Europa seria a mais afetada. A Rússia é uma fonte importante de petróleo para o continente. Em caso de conflito, o petróleo deve reagir para cima”, destaca.

Outro fator que causa certo temor é o uso de gás natural, diz. Responsável pela gestão de commodities, Adler explica que a situação é ainda mais “apertada” do que o petróleo. “O estoque está extremamente baixo na Europa e a Rússia fornece um terço do gás natural importado pela União Europeia”, diz. “Se a Rússia desligar a torneira, não vemos como suprir o mercado europeu sem uma produção russa”.

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O adiamento da aprovação do polêmico gasoduto Nord Stream 2, duto que liga a Rússia à Alemanha, também gera apreensão, observa o gestor. Segundo a imprensa local, o duto foi concluído, mas a agência reguladora alemã bloqueou o processo de certificação, em novembro do ano passado, por causa de formalidades jurídicas.

O problema: agora circula na imprensa a informação de que o gasoduto pode não ser inaugurado em caso de invasão russa na Ucrânia. “A expectativa era de que ele fosse aprovado para o último inverno europeu, e até agora nada. É um produto extremamente importante para a Europa e talvez seja o mais apertado”, diz Adler. “A aprovação e esse potencial conflito só pioram a situação”.

Commodities metálicas também não escapariam em um cenário de conflito. O gestor destaca que, desconsiderando a produção chinesa, a Rússia tem uma parcela forte do mercado global de commodities metálicas. Logo, interrupções na cadeia produtiva poderiam impactar o alumínio, por exemplo, e afetar os preços de latas, carros, entre outros produtos.

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“O níquel também poderia ser afetado e ele é muito usado em baterias. Caso o mundo ocidental imponha sanções sobre a Rússia, isso pode deixar o mercado apertado e fazer com que os preços subam”, afirma o gestor.

Novo boom?

Embora um possível conflito possa levar a novas altas nas cotações de commodities, mudanças em aspectos macroeconômicos reforçam a ideia de que não é apenas uma possível guerra entre ambos os países que pode alterar o cenário dessas matérias-primas para próximos anos.

Ao ser questionado se o mundo pode passar por um novo boom de commodities, Adler responde que sim. Mas faz uma ressalva: segundo ele, os movimentos desse tipo de ativo não são lineares e não há como antecipar o que vai ocorrer lá frente, semelhante ao que é feito por analistas com as ações listadas nas bolsas.

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Ylan Adler
Ylan Adler, gestor de commodities da SPX. Crédito: Divulgação

Embora haja desafios de precificação, um dos fatores que podem impulsionar esse novo “boom” é o processo de transição energética que a economia global está passando. “É a primeira vez na história que o mundo está propondo sair de uma sociedade mais produtiva para uma menos produtiva. E isso precisa ser feito. Não existe outra opção agora no mundo”, destaca.

O problema, diz Adler, é que não há hoje uma matriz energética para fazer essa substituição de forma rápida. Ou seja, para ele, o processo vai demandar muito tempo e aumentar bastante o uso de commodities. Entre as que podem ser mais beneficiadas estão as metálicas, como o cobre, níquel e alumínio, por exemplo. O cobre é muito utilizado em placas solares e em carros elétricos, e há chances de que o seu balanço fique deficitário nos próximos anos, se a demanda seguir crescendo.

Isso sem contar, observa, que no último ciclo de commodities a demanda chinesa começou a subir muito. Houve o boom de minério de ferro e isso fez com que os mercados tivessem certa folga,. “Agora, não há mais essa folga. Logo, os preços devem ir para cima”, reforça.

Pressão inflacionária e estagflação global

A ideia de que os preços de commodities podem subir ainda mais, diante de um mercado menos folgado em oferta, pode ter impactos também na inflação, alerta Adler.

O responsável pela área de commodities explica que a última corrida por essas matérias-primas foi acompanhada por uma subida de preços e por um aumento da produção e do investimento.

O detalhe agora, diz, é que deve haver um boom nas cotações porque a demanda vai seguir forte, mas a produção e o investimento não devem crescer no mundo porque não há incentivo para isso devido às pressões de investidores por uma agenda mais ESG (conjunto de práticas ambientais, sociais e de governança), por exemplo.

“O que pode ser um problema. Pode fazer com que tenhamos um cenário de potencial estagflação global”, destaca. Emenda: “O preço começa a dar incentivo, mas as empresas não conseguem investir”.

Na prática, estagflação é um fenômeno em que ocorre baixo crescimento econômico, aumento da taxa de desemprego combinado com o aumento contínuo de preços.

O especialista em crédito acrescenta ainda que a humanidade sempre produziu bens em massa e conseguiu fontes de energia abundantes. Agora, afirma, não há oferta de energia, nem é possível contar apenas com fontes renováveis. “É preciso ter uma fonte de energia estável”, destaca.

“O mundo ainda está se recuperando. No curto prazo, temos essa questão com a Rússia, que pode levar a um choque. No médio prazo, a transição energética é a maior ameaça à economia mundial”, afirma Parnes.

Juros nos EUA: seis altas neste ano e visão para emergentes

Diante de um cenário mais difícil para a economia global, os Estados Unidos também não devem escapar de apertos monetários mais duros. Essa pelo menos é a visão de Adler. Segundo ele, a expectativa hoje da casa é de que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, eleve os juros seis vezes neste ano.

“O que o mercado projeta hoje de juros e de inflação é incompatível. Se não apertar, não vai desacelerar [a inflação]”, diz. “Enxergamos que o processo de desinflação vai ser mais demorado e, para isso, o remédio vai ter que ser mais enérgico”.

Para Parnes, vai na mesma linha e reforça que as “estrelas da bandeira americana nos Estados Unidos estão alinhadas para o excesso de demanda”. Nessa situação, observa, o Fed deve reagir. “É preciso esfriar a demanda agregada e aumentar o custo do financiamento. Nós sabemos o que ele vai fazer, mas não sabemos onde ele vai chegar”, avalia.

Além de juros mais elevados, a expectativa da SPX é de que o dólar se mantenha forte e que os Estados Unidos sigam com diferencial de crescimento em relação ao resto do mundo, especialmente porque estão mais avançados em termos de ciclos de aperto monetário.

Nesse ambiente, o cenário para países emergentes vai ser mais difícil daqui pra frente, avalia Parnes. Para ele, o investidor estrangeiro não vai “pousar” na América Latina.

“Essas sociedades emergentes não têm uma robustez institucional, fiscal e política para resistir a um choque desses na economia sem grande turbulência”, alerta o executivo, referindo-se ao choque em termos de oferta e demanda provocado pela crise sanitária.

Ao falar especificamente sobre Brasil, Parnes diz que a percepção do País pelos estrangeiros é muito ruim. “Em termos de questões energéticas e relacionadas ao meio ambiente, o Brasil é visto de forma ultra negativa. Foca-se muito no discurso do presidente”, observa.

Para o responsável pela área de crédito da SPX, o fenômeno de rotação de carteiras – que ajudou a trazer grandes fluxos para o Brasil neste começo de ano – deve diminuir. O executivo diz que os fluxos só poderão seguir altos se o País tiver “sorte” e se fizer grandes reformas.

Parnes pondera que os ativos estão baratos, mas que o nível da dívida é muito elevado, o que demandará um aumento de carga tributária. Em sua opinião, o que poderia ajudar o País agora é o investimento autônomo, ou seja, investimentos ligados especialmente a concessões. “Pode ajudar, mas não é suficiente para contrastar com um cenário fiscal ruim”, afirma o especialista.

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