Conheça as ações “queridinhas” dos fundos e as perspectivas dos gestores

No topo do ranking, ações preferenciais da Petrobras estão no portfólio de mais de mil fundos que, somados, possuem R$ 19,5 bilhões nos papéis

Pedro Ladislau Leite

SÃO PAULO – O setor de fundos de investimentos responde pela gestão de mais de R$ 5 trilhões no Brasil. Delegar a compra e a venda de ativos a um profissional é a opção mais indicada para quem não tem conhecimento ou tempo para operar no mercado.

E, com mais de 300 empresas negociadas em Bolsa, o mercado de ações é um dos principais palcos para os gestores mostrarem suas habilidades. Mas você sabe quais são os papéis “queridinhos” deles?

Levantamento da provedora de informações financeiras Comdinheiro revela quais são as ações que marcam maior presença nas carteiras dos fundos de investimentos no país (foram considerando todos os 16,7 mil fundos cadastrados na CVM). Foram utilizados dados referentes a setembro, mês mais recente em que a abertura das carteiras era obrigatória.

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O ranking é liderado pela ação preferencial da Petrobras, com uma alocação de R$ 19,5 bilhões distribuídos em 1.149 fundos. A segunda posição ficou com o papel ordinário da Vale, que aparece no portfólio de 1.051 fundos com um total de R$ 18,7 bilhões.

Confira a seguir as 20 primeiras colocações do ranking e entenda quais são as perspectivas de gestores para as principais companhias mencionadas. A Litel Participações foi excluída do levantamento, por se tratar de uma holding pela qual Previ, Petros, Funcef e Funcesp investem nas ações da Vale.

1º) Petrobras (PETR4)

Wagner Salaverry, sócio responsável por renda variável na gestora Quantitas, conta que a ação preferencial da estatal é uma posição relevante do fundo de ações da casa, o Montecristo. A exposição líquida ao papel é de 8%, já depois de uma redução no portfólio, por conta da valorização do ativo. Em 2019, o papel subiu 37,5%.

Entre os fundamentos da empresa, ele destaca a qualidade do atual comando, encabeçado pelo economista Roberto Castello Branco. “A atual gestão vem reduzindo dívidas, vendendo as refinarias, saindo do gás. E estão colocando foco em exploração e produção”, diz Salaverry.

Sobre os riscos, ele diz não acreditar em uma queda relevante do preço do petróleo no curto prazo, ainda que mundo esteja avançando para outras matrizes enérgicas.

2º) Vale (VALE3)

Para Luiz Constantino, gestor dos fundos de ações do Opportunity, as ações da Vale, que subiram 7,3% em 2019, ainda estão abaixo do valor justo da empresa. “A empresa ficou descontada desde a tragédia de Brumadinho, com toda a incerteza em relação ao passivo das indenizações, à queda de produção e à interrupção do pagamento de dividendos”, avalia. “Já houve a troca de presidente da empresa e o foco tem sido as indenizações e as mudanças nas barragens.”

Uma das maneiras de ver esse desconto é comparar Vale com as mineradoras australianas, explica Constantino. “O desconto nas ações desde a tragédia foi de 30%, mas, quando se calcula o valor das indenizações, deveria ser de 10%”, calcula o gestor. “A produção de minério está se recuperando aos poucos e a empresa está gerando muito caixa. Vemos a Vale com capacidade de pagar um dividend yield de 9% a 10% nos próximos anos.”

A mineradora está entre os cinco maiores investimentos nos fundos de ações da gestora, conta Constantino.

3º) B3 (B3SA3)

A terceira empresa no ranking é a B3, com R$ 11,2 bilhões alocados em fundos. A companhia também é uma aposta dos fundos do Opportunity. “Achamos que a empresa passa por um cenário favorável, com o atual desenvolvimento do mercado de capitais e os juros baixos atraindo dinheiro para ativos de maior risco”, diz Constantino.

“A empresa tem uma política de preço que repassa parte dos incrementos de volume para diminuir o preço; ela conta com uma alavancagem operacional importante, não demanda muitos custos para crescer”, acrescenta ele.

Ele entende que tem havido “ruído” em relação a uma maior concorrência com a B3, que levou os preços da empresa excessivamente para baixo. “Mesmo em um cenário de competição, achamos que o efeito não é tão grande quanto colocado no preço”, diz. Em dezembro, o ativo caiu quase 10%, mas fechou 2019 com forte ganho de 63,6% mesmo assim.

No início do ano, a empresa divulgou sua nova política de tarifas, em que reduzia o equivalente a cerca de R$ 250 milhões da receita com tarifas nos últimos 12 meses.

4º) Bradesco (BBDC4)

Na quarta, quinta e sexta posição do ranking estão os grandes bancos: Bradesco, Itaú Unibanco e Banco do Brasil, respectivamente.

Na gestora Perfin, o Bradesco era a principal aposta no setor até novembro do ano passado. A partir de então, conta o gestor Alexandre Sabanai, a casa passou a aumentar os investimentos no Itaú e zerou a posição no concorrente.

A Perfin ficou com o Bradesco por um ano na carteira, período em que a valorização das ações do banco superou a do Itaú em mais de 15%, conta Sabanai. “Saímos de Bradesco porque a evolução das despesas administrativas surpreendeu negativamente no terceiro trimestre”, afirma.

5º) Itaú Unibanco (ITUB4)

Sabanai vê oportunidades no setor em meio à recuperação da economia brasileira, com a retomada do crédito, entre outros fatores. Ele cita ainda a participação do Itaú na XP como um atrativo do banco em meio a um ambiente de ascensão de modelos de negócio digitais.

Ainda assim, o gestor reconhece que a competição no setor aumentou. “Nem de longe quero assumir que não tem risco nenhum, mas houve um pessimismo do mercado, a visão foi negativa demais”, afirma.

6º) Banco do Brasil (BBAS3)

Já o Banco do Brasil é a principal posição do fundo de ações da Quantitas, diz Salaverry, com uma exposição em torno de 17%. A gestora ampliou a posição no banco público desde a última oferta pública. O follow-on, de R$ 5,8 bilhões, foi concluído em 23 de outubro, com preço de R$ 44,05 por ação. Naquele dia, o papel no mercado fechou a R$ 47,05.

“O papel está, em termos de desconto para o valor patrimonial, valendo metade do Itaú. É uma ação barata, com uma gestão que melhorou, com o banco posicionado que em um setor que o desconto por ser estatal nos parece muito elevado e deveria diminuir”, afirma.

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Pedro Ladislau Leite

Repórter de investimentos do InfoMoney, cobre os mercados de renda fixa (Tesouro Direto e títulos privados) e de renda variável, acompanhando as movimentações dos principais gestores de fundos no país.