SÃO PAULO – A crise atual está provocando estragos na carteira de muitos investidores — mas nem todos estão sendo atingidos da mesma maneira.
Entre 21 de fevereiro (sexta-feira que antecipou o carnaval e antecedeu o movimento de pânico que começou a derrubar os preços no mercado financeiro) até 12 de março, o Ibovespa caiu 36%. No ano, a baixa é de 37% e, no acumulado de 12 meses, fica em 26%.
Mas há fundos de ações com perdas bem menores que as do índice, e fundos multimercado com rendimentos positivos em todos esses períodos. São poucos, mas vale conhecê-los e entender sua estratégia na turbulência.
Os melhores de ações na crise
No grupo de fundos de ações, entre 21 de fevereiro e 12 de março, nenhum fundo conseguiu acumular ganhos, mas muitos tiveram desempenho melhor do que a queda de 36% do Ibovespa no período.
Confira a seguir os dez melhores fundos de ações no intervalo, segundo dados da provedora de informações financeiras Economatica. Para a análise, foram considerados fundos com a média do patrimônio líquido em 12 meses superior a R$ 100 milhões e mais de 99 cotistas, no dia 21 de fevereiro. O levantamento exclui fundos de fundos, fundos espelho e de previdência, além de carteiras lançadas em 2020. Também não são considerados fundos setoriais, monoações (com um só papel) ou FGTS.
Os melhores fundos de ações |
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Fundos de ações | Gestora | Retorno de 21/02/2020 a 12/03/2020 | Retorno em 2020 até 12/03/2020 | Retorno em 12 meses até 12/03/2020 |
NCH Maracana FIA | NCH Brasil Gestora de Recursos | -0,91% | 2,76% | 16,80% |
Sharp LB Feeder Fc FIA | Sharp Capital | -7,90% | 1,23% | 23,72% |
Safra Arquimedes FIA BDR Nivel I | Safra Asset Management | -10,65% | -13,28% | -5,85% |
BB Ações Long Bias Private Fc FI | BB DTVM | -12,61% | -11,43% | -5,57% |
IP Value Hedge Fc FIA BDR Nivel I | IP Gestão de Recursos | -14.60% | -12,98% | -2,46% |
BTG Pactual Absoluto LS FIC FIA | BTG Pactual | -15,15% | -13,24% | -2,35% |
Western Asset FIA BDR Nivel I | Western Asset | -15.17% | -1,97% | 21,62% |
Caixa FIA BDR Nivel I | Caixa | -16,97% | -6,58% | 14,51% |
Bradesco FICFIA BDR Nivel I | Bram | -17,33% | -7,04% | 13,09% |
Safra Consumo Americano FIA Bdr Nivel I | Banco J Safra SA | -19,40% | -9,03% | 13,19% |
Ibovespa | -36,15% | -37,24% | -25,81% |
Fonte: Economatica
James Gulbrandsen, CIO da NCH Capital, conta ter reduzido substancialmente o risco da carteira de novembro para dezembro, com menor exposição a ações e com um aumento das opções de venda de Ibovespa.
A preocupação estava voltada principalmente aos Estados Unidos, mas também havia uma percepção da casa de que a Bolsa brasileira estava subindo mais por fatores técnicos que por fundamentos do país.
Agora, contudo, o fundo está indo às compras. “Estamos ativamente comprando ações desde quinta-feira, aumentamos nossa exposição novamente”, diz Gulbrandsen, ressaltando que estava com um caixa de 30% por conta das alterações feitas na carteira no fim do ano.
Os investimentos têm sido em papéis já presentes no portfólio, como B3, Banco do Brasil, Weg, Totvs, BB Seguridade e JBS.
Na avaliação do gestor, a maior parte da correção do mercado já foi realizada e a iniciativa tem sido de aproveitar os preços mais baratos dos ativos aos poucos, assim como de reduzir as opções de venda.
“Agora estamos num patamar bem mais atrativo em termos de valuation. Minha única preocupação e a razão pela qual não estou gastando todo o meu caixa é o governo americano não reagir como deveria, e o Bolsonaro seguindo Trump, sem endereçar o problema”, afirma.
“Não posso gastar todo o meu caixa ou zerar todas as proteções nesse momento pela falta de agilidade de reação dos governo brasileiro e americano.”
Destaque na lista dos fundos menos afetados nesta turbulência para carteiras com foco em BDR, que podem estar sendo pressionadas pelos preços das ações em Wall Street, mas contam com a variação do dólar a seu favor. De 21 de fevereiro a 12 de março, a moeda americana acumulava valorização da ordem de 11% em relação ao real.
Os melhores multimercados
Confira a seguir os dez melhores fundos multimercados desde o dia 21 de fevereiro, considerando fundos com a média do patrimônio líquido em 12 meses superior a R$ 100 milhões e mais de 99 cotistas, no dia 21 de fevereiro.
Os melhores fundos multimercados |
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Fundos multimercados | Gestora | Retorno de 21/02/2020 a 12/03/2020 | Retorno em 2020 até 12/03/2020 | Retorno em 12 meses até 12/03/2020 |
Itaú Personnalité Hedge Plus Mult FICFI | Itaú Unibanco | 12,20% | 12,69% | 28,86% |
Murano FICFI Mult | Murano Investimentos | 8,22% | 5,05% | -13,55% |
Sharp Long Short 2x Feeder Fc FI Mult | Sharp Capital | 7,35% | 12,51% | 20,89% |
Itaú Hedge Mult FI | Itaú Unibanco | 6,11% | 6,57% | 16,49% |
Órama Ouro FI Mult | Orama Dtvm S A | 5,14% | 21,13% | 50,06% |
Versa Long Biased FI Mult | Versa Gestora de Recursos | 5,03% | -4,45% | 18,03% |
Gávea Macro Fc de FI Mult | Gavea Investimentos | 3,92% | 5,06% | 7,98% |
Sharp Long Short FI Mult | Sharp Capital Gestora de Recursos | 3,66% | 6,37% | 12,17% |
Garin Special FI Mult | Garin Investimentos | 3,51% | 2,78% | 8,77% |
BNP Paribas Capital Proteg V Fc FI Mult | BNP Paribas Asset | 2,32% | 5,33% | 16,64% |
Ibovespa | -36,15% | -37,24% | -25,81% | |
CDI | 0,19% | 0,82% | 5,57% |
Fonte: Economatica
Dois desses fundos foram premiados no ranking InfoMoney-Ibmec de melhores fundos do país. O Sharp Long Short foi escolhido um dos melhores fundos multimercado da década na edição de 2020. Já o Itaú Hedge Plus, que investe em mercados como os de ações, juros e câmbio, foi premiado em 2019.
O Murano é um fundo quantitativo. Nesse tipo de estratégia, os investimentos são executados via algoritmos. Os gestores contam com a tecnologia para implementar uma gestão automatizada para explorar padrões de comportamento e ineficiências do mercado.
O fundo da Versa, que já havia sido destaque em fevereiro, voltou a ter um bom desempenho. Conforme matéria publicada pelo InfoMoney, o fundo long biased da Versa contava com uma grande proteção a seu favor, com a posição comprada em Bolsa brasileira neutralizada e com o fundo começando a ficar vendido no índice acionário americano S&P 500.
Segundo Luiz Fernando Alves Junior, gestor da Versa, o hedge da carteira foi montado por conta das incertezas e a casa segue com a visão de que o choque é temporário, sem uma mudança econômica estrutural. Diante disso e das fortes quedas dos últimos pregões, a exemplo da NCH, a Versa tem voltado a comprar.
“As ações começaram a ficar ridiculamente baratas, estamos numa baita promoção. Por causa disso, eliminamos todos os hedges”, conta Alves Junior, ressaltando que a gestora consumiu boa parte do caixa aumentando as posições em papéis nos quais já eram acionistas. Na seleção, destaque para nomes como Banco do Brasil e BR Properties.
Patrimônio investido em ações encolhe
Neste ambiente de crise, os fundos com maior exposição a risco são naturalmente os mais afetados.
Em 12 de março (última data disponível de atualização de todas as cotas), o patrimônio líquido de todos os fundos de renda fixa (excluídos fundos de fundos, fundos espelho e de previdência) era de aproximadamente R$ 1,8 trilhão, bem próximo do apurado no fim de 2019 e a 21 de fevereiro.
No caso dos multimercados, o patrimônio de quase R$ 693 bilhões mostrava uma queda de 6,2% na comparação com 21 de fevereiro, mas de apenas 1,7% na comparação com o início do ano.
Já os fundos de ações registram uma perda de um terço (33%) do patrimônio em relação à data anterior ao carnaval e uma redução de 26% em relação ao fechamento de 2019.
Categoria de fundo | Patrimônio líquido em 31/12/2019 | Patrimônio líquido em 21/03/2020 | Patrimônio líquido em 12/03/2020 |
Renda Fixa | R$ 1,789 trilhão | R$ 1,798 trilhão | R$ 1,788 trilhão |
Multimercados | R$ 705 bilhões | R$ 739 bilhões | R$ 693 bilhões |
Ações | R$ 339 bilhões | R$ 376 bilhões | R$ 250 bilhões |
Fonte: Economatica
Foco no longo prazo
Embora as perdas vistas nos mercados acionários nesta segunda-feira voltem a despertar insegurança por parte de investidores, o planejador financeiro com certificação CFP Caco Santos destaca que cabe ao investidor lembrar que investimento de risco deve ter como horizonte o longo prazo.
A venda antecipada, portanto, de ativos com perda só poderá fazer sentido para investidores que perceberem que não toleram os riscos assumidos, que estão descasados das escolhas feitas. “Só pelo movimento de mercado, a venda não faz sentido”, diz. “As crises anteriores, mesmo a de 2008, mostraram que a racionalidade uma hora volta, que boas empresas voltam a lucrar.”
Agora é hora de se segurar, assinala Santos, porque a chance de os mercados retomarem os preços é maior do que a do investidor recuperar as perdas por meio de outros investimentos.
E o cuidado também vale para a análise de aplicações que estão com bons desempenhos na crise.
“É muito importante entender por que um fundo foi bem. Se deu sorte ou por que tem um processo de investimento consistente. É preciso investigar se foi uma política de risco ou se apostou na formiguinha e acertou o elefante.”
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