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SÃO PAULO – O ambiente de juros baixos e de grandes incertezas diante da pandemia de coronavírus tem levado o investidor brasileiro a entender cada vez mais a necessidade de diversificar os produtos de sua carteira, tanto no que diz respeito a classes de ativos, adicionando mais risco para garantir maior rendimento, como em relação à geografia do portfólio, com ampliação da fatia alocada no exterior para expandir as oportunidades na alocação.
Nessa busca por uma melhor eficiência entre risco e retorno, os fundos de investimento representam uma alternativa importante no leque de produtos à disposição do investidor, por comportarem diferentes estratégias com a curadoria de gestores profissionais.
E diante de um número crescente de fundos com objetivos e custos distintos nas prateleiras das instituições financeiras, torna-se ainda mais relevante fazer uma análise criteriosa antes de tomar uma decisão.
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Na hora da seleção, a recomendação de especialistas do mercado é evitar a concentração em produtos de propostas semelhantes, bem como escolher fundos alinhados com seus objetivos e perfil de risco para evitar ter de lidar com surpresas negativas.
Para facilitar a tarefa, o InfoMoney buscou respostas para seis questões-chave sobre o investimento em fundos, com orientações dadas por gestores de patrimônio da XP Advisory, Sonata Gestão e Portogallo Investimentos e pela planejadora financeira com certificação CFP Leticia Camargo. Confira:
1. Investimento em fundo ou direto nos ativos: o que é melhor?
Opção capaz de agradar diversos perfis de investidores, os fundos podem se sobrepor à escolha individual de ativos de acordo com o conhecimento do alocador sobre o mercado financeiro, além de sua disponibilidade e disposição para acompanhar os mercados, defende a planejadora Leticia Camargo.
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Em sua avaliação, se o investidor não conhece com profundidade os instrumentos financeiros, não tem tempo ou vontade para estudar, o melhor é delegar a tarefa para um gestor profissional.
Não há receita de bolo para montar um portfólio, diz Leticia, dado que as posições e os ativos escolhidos devem variar de acordo com o perfil de risco, assim como seu objetivo e prazo de investimento. “Mas não importa se a pessoa vai aplicar diretamente em ações ou via fundos de ações: o importante é diversificar entre as classes de ativos”, afirma.
Dessa forma, é possível ter todo o patrimônio alocado em fundos, mesclando entre produtos de renda fixa, variável e multimercados, além de uma parcela de alocação no exterior.
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A recomendação, segundo Patricia Palomo, sócia da gestora de patrimônio Sonata, é pensar toda alocação como uma estratégia complementar à outra, buscando gestores que se destaquem em cada uma delas.
Na categoria de ações, por exemplo, há diversos tipos de fundos, como focados em espelhar o desempenho do Ibovespa (indexados), dedicados a ações consideradas boas pagadoras de dividendos ou voltados para ações de menor capitalização na Bolsa, entre tantos outros.
Para ter um portfólio mais eficiente, Patricia indica a mescla entre produtos de gestão ativa, em que o gestor pinça as melhores oportunidades do mercado buscando superar o benchmark, e passiva, como fundos de índices (ETFs), que acompanham o desempenho do índice de referência e têm como atratividade a facilidade de diversificar a carteira com baixo custo.
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“Não vejo por que trabalhar com um ou outro. O que traz diversificação é o ‘e’, sempre na medida do que o bolso comportar”, afirma.
2. Como definir o percentual a ser alocado em cada classe de ativo?
Leticia explica que o investidor deve dividir o portfólio em “caixinhas”, com estratégias diferentes para cada objetivo que tiver. “O cliente pode ter uma fatia de curto prazo, para emergências ou para trocar de carro, por exemplo, como de médio e longo prazos, como para a aposentadoria”, diz.
Assim, o investidor pode ter fundos de renda fixa DI para a fatia de maior liquidez e fundos de ações para objetivos de longo prazo, por exemplo. “Se a pessoa quer trocar o carro daqui a dois anos, não precisa colocar tudo no CDI, mas também não pode colocar tudo na Bolsa, por conta do risco”, explica.
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Segundo a planejadora, o que vai definir o risco a ser assumido será tanto o momento de vida da pessoa quanto a propensão a ter um portfólio mais arrojado.
Teoricamente, diz, um investidor mais novo pode assumir mais risco, dado que tem um tempo maior para recuperar possíveis perdas. “Mas se ele não conseguir dormir com a decisão de investimento, também não ajuda”, ressalta.
Por outro lado, mesmo que tenha um perfil mais arrojado, um investidor mais velho que esteja próximo da aposentadoria não deve colocar muito risco na carteira, dada a proximidade da data em que deverá demandar o capital.
3. Como escolher um fundo de investimento?
No momento de seleção dos fundos, a planejadora financeira destaca a importância de escolher produtos que não tenham alta correlação, ou seja, que tenham características distintas e se comportem de forma diferente nos movimentos dos mercados e entre si.
Em uma correlação positiva, por exemplo, quando um ativo sobe, o outro tende a subir também. Seria como investir em um fundo de ações com gestão passiva e em um ETF que busca acompanhar o Ibovespa. Já em uma correlação negativa, na subida de um ativo, o outro tende a apresentar queda.
“O investidor precisa buscar produtos que sejam o menos correlacionado possível, para não se enganar de que está diversificando quando na verdade está comprando fundos iguais”, diz a planejadora.
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Uma boa estratégia para comparar produtos semelhantes, segundo Guilherme Anversa, sócio e gestor da XP Advisory, é analisar o gráfico com o nível histórico de volatilidade dos fundos e também com uma comparação com o nível da oscilação do Ibovespa ou do Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA), que mede o desempenho dos multimercados de gestão ativa.
Ele afirma observar ainda a consistência do fundo por meio da rentabilidade auferida em janelas móveis de 12 meses, de forma a entender o comportamento do gestor em diferentes cenários e analisar em quantos intervalos o fundo conseguiu superar o benchmark (índice de referência).
Medir qual foi a queda de um fundo em relação à sua cotação máxima e a posterior recuperação por meio da análise do indicador conhecido como drawdown também é uma opção na hora de escolher os melhores investimentos, destaca Patricia, da Sonata.
“Com os fundos expostos às mesmas condições de mercado, como na pandemia, é possível ver quais apresentaram maior queda, como se recuperaram e quanto tempo levaram para a retomada”, afirma a especialista.
Mario Melilli, sócio da gestora de patrimônio Portogallo Investimentos, reforça ainda a importância de o investidor levar em consideração o prazo de resgate e de liquidação dos fundos, para que estejam integrados aos seus objetivos e necessidades.
“O cliente não entende que a foto não vai ser batida ao pedir o resgate, apenas na cotização; e é aí que entra o pânico, por não saber como estará o mercado lá na frente”, afirma.
Na Portogallo, dado o cenário de grande incerteza, a preferência tem sido por incluir nos portfólios fundos com prazos de até 30 dias corridos aproximadamente.
4. Como conhecer as estratégias do fundo escolhido?
Ao analisar um fundo de investimento, o primeiro documento com o qual o investidor deve ter contato é a lâmina, que funciona como uma “bula” do fundo. A partir dela, é possível encontrar informações como público-alvo (a quem é destinado o fundo), objetivos, política de investimentos e risco, que dão uma dimensão da proposta do veículo e da estratégia da casa.
Na lâmina do renomado fundo Verde, por exemplo, o investidor confere que o produto é um multimercado, com o objetivo de proporcionar retorno por meio de uma estratégia de investimento diversificada.
Já na política de investimentos, o fundo determina que vai buscar estratégias baseadas em cenários macroeconômicos de médio e longo prazos, procurando entregar uma rentabilidade acima do CDI, seu índice de referência. Trata-se, portanto, de um fundo com gestão ativa.
Este item da lâmina mostra ainda quais estratégias são permitidas. No caso do fundo Verde, o gestor pode aplicar até 20% do patrimônio líquido em ativos no exterior; até 50%, em crédito privado; e não pode utilizar derivativos para proteção da carteira nem se alavancar. Já o risco está levemente acima de quatro em uma escala de um a cinco, sendo um, mais conservador, e cinco, mais arriscado.
Por mais que rentabilidade passada não seja garantia de performance futura, observar o histórico do gestor é importante para entender a consistência do fundo e a rentabilidade em momentos de crise, diz Anversa, da XP Advisory. “Não é uma garantia de que isso vai se repetir, mas passa uma ideia do que esse fundo pode entregar em momentos de maior estresse.”
Além disso, a leitura das cartas mensais e semestrais ajuda o investidor a ter uma ideia de como pensa a asset, bem como onde os gestores estão posicionados e o que esperam à frente, diz Patricia, da Sonata. “Se o investidor tem posição em duas casas que pensam igual, qual a vantagem, do ponto de vista da diversificação, de estar nas duas? E se ambas estiverem erradas?”, questiona.
Para conferir os arquivos, o investidor pode consultar os sites das gestoras, que concentram as cartas e todos os documentos dos fundos.
5. Quantos fundos ter na carteira?
Diversificar é fundamental, mas, quando em demasia, pode prejudicar o desempenho de um portfólio, sob o risco de concentração das estratégias.
“Se o investidor tiver mais de um gestor da mesma estratégia, é muito provável que tenha uma sobreposição de ativos, como as mesmas ações, por exemplo. Neste caso, ele vai pagar mais taxa para fazer coisas semelhantes”, diz Patricia, da Sonata.
Na gestora, a preferência é por um número reduzido de fundos para cada classe. “Não colocaria mais do que dois gestores por estratégia, porque a chance de haver sobreposição é muito grande”, afirma.
Anversa, da XP, diz que ter até 10% do patrimônio em uma mesma asset ou em um fundo é positivo e ajuda a evitar uma exposição muito grande em uma mesma estratégia.
Por mais que gestoras renomadas e com amplo histórico tenham uma fatia maior nas carteiras dos clientes da XP Advisory, o alocador diz também gostar de dedicar um espaço, porém de menor tamanho (de 2% a 3% no portfólio por fundo), para novas casas, com exposição máxima de 15% do total da carteira.
No ano passado, durante a “Expert XP”, o megainvestidor Ray Dalio, fundador da gestora Bridgewater Associates, que tem cerca de US$ 150 bilhões em ativos sob gestão, afirmou que o “Santo Graal para ganhar dinheiro” é ter de 10 a 15 bons investimentos não correlacionados na carteira.
Na Portogallo, Melilli afirma que as carteiras costumam ter entre 10 e 12 fundos, no máximo, diversificando entre as classes de ativos.
Para o cliente que quer ter exposições menores a um número maior de produtos, uma alternativa, segundo Melilli, é alocar em fundos de fundos (FOFs), em que o gestor consegue acessar produtos fechados para novos investimentos e nos quais não há penalização de tributação ao fazer a troca de posições dentro da carteira.
Isso porque nas realocações de investimento dentro do fundo de fundos não há cobrança de Imposto de Renda, ao passo que, se o investidor optar por trocar de fundos (comprar e vender) individualmente, será tributado.
O investidor precisa ficar atento, contudo, à duplicidade de taxas, uma vez que terá que pagar a taxa de administração do próprio FOF e ainda arcar com as taxas dos fundos que compõem sua carteira.
6. Faz sentido ter exposição internacional?
Com o ambiente ainda bastante incerto por conta da pandemia de coronavírus e dos ruídos fiscais no âmbito doméstico, a avaliação geral dos gestores é que ter uma parcela do portfólio alocada no exterior é fundamental.
Leticia lembra que hoje o investidor pessoa física tem um leque variado de opções para investir no exterior, seja via fundos com exposição internacional, por ETFs ou Brazilian Depositary Receipt (BDRs), entre outros.
“É uma posição que faz sentido, principalmente quando vemos que esses investimentos são pouco correlacionados com o CDI e demais investimentos no Brasil, contribuindo para uma diversificação”, avalia.
Segundo ela, a alocação vai depender da estratégia do investidor e do perfil de risco, mas é possível ter posição internacional em todas as classes, desde renda fixa a ações.
O investidor vai ter que optar por investimentos com hedge (proteção), sem exposição ao dólar, ou com desempenhos atrelados à moeda americana.
Quando o produto não tem hedge, Leticia reforça que são dois os componentes de risco a serem considerados: a variação do preço do ativo, como as ações do índice S&P 500, por exemplo, e a oscilação do dólar, que no ano já se valoriza em cerca de 7% em relação ao real.
Patricia aponta que produtos de crédito privado, multimercados e fundos de ações com exposição internacional estão no radar da Sonata, com a distribuição do risco entre as economias desenvolvidas nos Estados Unidos, Europa e Ásia.
Já na carteira dos clientes da XP Advisory, Anversa conta que possui uma média de 10% a 15% em ações globais, metade alocada nos Estados Unidos e a outra fatia dividida entre os mercados asiático e europeu.
A preferência, afirma o gestor, é por fundos de renda fixa e multimercados globais em reais, sem a exposição à variação do dólar. Já no caso dos fundos que investem em ações no exterior, a recomendação é pelos que ficam sujeitos ao câmbio.
“Quando compramos um veículo de renda fixa ou multimercado em dólar, a volatilidade da moeda esconde a rentabilidade. Já em um produto de ações, a volatilidade compensa, principalmente em momentos de maior estresse”, diz Anversa.
A gestora da Sonata afirma que prefere não montar a posição de hedge da carteira por meio dos fundos globais. Para essa fatia de proteção, podem ser usados fundos cambiais ou de ouro, diz. Em um portfólio de perfil arrojado, uma posição de 5% a 10% pode ser adequada para adotar proteções, avalia.