Como reinvestir títulos do Tesouro Direto, CDBs e outros papéis? Fim da alta da Selic impõe desafios

Para especialistas, momento é oportuno para aproveitar taxas que ainda estão elevadas; nos próximos meses, investidor pode ter que correr mais risco

Bruna Furlani

Crédito: Shutterstock
Crédito: Shutterstock

Publicidade

O vencimento de mais de R$ 173 bilhões em títulos públicos atrelados à inflação (NTN-B 2022) no início desta semana suscitou uma dúvida na cabeça de investidores: o que fazer com o valor que pinga na conta quando um papel do Tesouro Direto, um CDB ou outras aplicações de renda fixa vencem?

A questão é pertinente. Depois de mais de um ano de taxas em alta, que tornaram as aplicações cada vez mais atraentes, a maior parte dos agentes financeiros acredita que o ciclo de aperto monetário está no fim e que na próxima reunião, em setembro, o Comitê de Política Monetária (Copom) apenas manterá a Selic em 13,75% ao ano, segundo mostram os contratos de opção de Copom negociados na B3. E já há quem comece a traçar cenários de queda a partir do segundo semestre de 2023.

O risco de reinvestimento dos valores resgatados de outra aplicação – ou seja, a chance de não conseguir obter uma remuneração equivalente à anterior ou em condições melhores que as atuais – tende a ficar mais exacerbado em períodos de manutenção ou de queda da Selic, como explica Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos da XP.

Continua depois da publicidade

“Quando um título adquirido anteriormente vence, pode ser que a trajetória de juros e de inflação seja outra. Pode ser que a rentabilidade obtida na carteira não seja mais possível e, por isso, a performance do portfólio pode cair”, alerta Sgavioli.

Leia mais:
Vencimento de NTN-B 2022 movimenta R$ 173 bilhões; quanto o título rendeu após disparada das taxas?

Bruna Centeno, economista e especialista em renda fixa da Blue3 ressalta que investimentos de curto prazo – títulos que vencem no fim deste ano ou começo do próximo – serão os mais afetados. Nesse caso, quem conseguiu investir a taxas elevadas – de 14% ou 15% ao ano meses atrás – terá que reinvestir de forma mais diversificada para obter bons ganhos daqui para frente, ou aceitar tomar um risco maior incluindo Bolsa.

Continua depois da publicidade

Reinvestir em prefixados ou pós-fixados?

Considerando que os cortes da taxa básica de juros devem iniciar no segundo semestre do ano que vem e que as taxas oferecidas por papéis de renda fixa seguem elevadas, a sugestão de alguns especialistas é aproveitar o momento para tentar “travar” bons retornos, já que a remuneração da renda fixa em geral ainda está elevada.

“Mesmo com o fechamento da curva [recuo nos juros] visto nos últimos dias, é o momento de travar essas taxas a 12%, 13%, 14% ao ano, se de fato for o fim do ciclo do BC”, observa Bruna, da Blue3. Ainda que goste da ideia de manter papéis prefixados na carteira, a especialista sugere fazer esse movimento com cuidado, priorizando prazos de dois a três anos em títulos que estão oferecendo a partir de 12% ao ano.

Isso porque os prefixados podem sofrer oscilações de preço até o vencimento devido à marcação à mercado. Quando os juros estão em queda, como deve ser o caso daqui para frente, a tendência é de que os prefixados antigos, comprados com taxas mais altas, valorizem – o que pode beneficiar quem optar por esse tipo de investimento. Porém, se alguma intempérie provocar novas elevações nos juros nesse meio tempo, o mais provável é que percam valor. E nesse caso, quem precisar se desfazer dos papéis no meio do caminho pode ter prejuízo.

Continua depois da publicidade

Por isso, para evitar solavancos e perdas, Sgavioli, da XP, sugere que o investidor prefira ativos pós-fixados atrelados ao CDI (taxa de referência da renda fixa) ou à Selic em um eventual reinvestimento que desejar fazer – se o objetivo de resgate for em até um ano.

Ele explica que, se o investidor conseguir uma taxa de 13% ou 14% ao ano em um papel prefixado, e considerar o Imposto de Renda (com alíquotas que variam de 22,5% a 15%), o retorno líquido pode se aproximar muito do oferecido nos pós-fixados – o que não seria vantajoso, se o investidor levar em conta os riscos adicionais a que ficaria exposto.

Na visão de Bruna, da Blue3, o reinvestimento em títulos pós-fixados deve ser feito nos que entreguem pelo menos 112% a 114% do CDI.

Continua depois da publicidade

Levantamento feito pelo InfoMoney com dados da plataforma Yubb – que compila informações de produtos oferecidos em várias corretoras – mostrou que os juros mais elevados em CDBs prefixados com vencimento em dois anos era de 14,5% ao ano nesta quinta-feira (18). Para prazos de três anos, chegava a 13,93% ao ano.

O primeiro era um CDB oferecido pelo Banco BMG, enquanto o segundo era emitido pelo Banco Pine. Ambos os retornos não levam em conta o desconto do Imposto de Renda (IR).

No caso de CDBs pós-fixados, era possível encontrar títulos que ofereciam até 117% do CDI com vencimento em 12 meses. O papel em questão era emitido pela BRK Financeira.

Continua depois da publicidade

Leia mais:
Taxa média de CDB cai a 100% do CDI em vários prazos após Copom; maior retorno de prefixados é de 14,34%

Alocações em títulos públicos prefixados também podem ser uma boa pedida, com preferência para ativos que vencem em 2025, conforme explica Cal Constantino, responsável pela área de renda fixa da Santander Asset.

Ele prefere o vencimento intermediário porque os retornos de prefixados de curto prazo sofreram bastante com o recuo recente da curva de juros – quando o mercado deixou de precificar altas mais agressivas para a Selic neste ano. Por isso, tais papéis estão com os prêmios (juros) menos atrativos.

“Preferimos alongar, mas não dá para alongar muito, porque há a questão fiscal e as políticas econômicas dos candidatos à presidência no radar, que ainda não foram muito abordadas”, observa Constantino. Segundo ele, a casa está recomendando papéis prefixados, mas que não está com apostas muito agressivas porque o cenário é de cautela.

Segundo o especialista do Santander, o ambiente internacional tem inspirado mais cuidados do que o local no momento. Ele alerta que os indicadores de inflação nos Estados Unidos surpreenderam positivamente o mercado, mas que não devem ser comemorados porque ainda mostram muitas pressões inflacionárias, especialmente em serviços. Além disso, há uma questão bastante delicada envolvendo o gás natural na Europa. Pressões altistas nas curvas internacionais podem provocar mudanças no Brasil, pontua.

De olho em um cenário conturbado, é preciso estar ciente de que ativos atrelados à inflação também podem ser afetados pela forte volatilidade, tanto para o lado positivo quanto para o negativo. A expectativa de que o IPCA (índice oficial de inflação no Brasil) volte a registrar deflação (recuo dos preços na economia) em agosto é um dos fatores de alerta.

Leia mais:
Deflação: o que acontece com títulos de renda fixa atrelados ao IPCA quando o índice fica negativo?

“No curtíssimo prazo, saiba que o seu título tende a ter rendimento negativo, devido à deflação projetada no IPCA. Porém, isso não desqualifica uma alocação em ativos atrelados à inflação, que deveriam ser levados ao vencimento”, avalia Sgavioli, da XP.

Na avaliação do especialista da corretora, o ideal é pensar em prazos mais longos e diversificar vértices e vencimentos na hora de selecionar um ativo atrelado à inflação.

No caso do Tesouro Direto, a preferência de Sgavioli é pelos papéis com vencimento em 2026 e 2035, que estão com melhor relação entre risco e retorno e podem ser trunfos na carteira, em meio a um cenário que ainda inspira cuidados com a alta de preços.

ACESSO GRATUITO

CARTEIRA DE BONDS