Como o Bitcoin virou tema das eleições nos EUA – e pode ter destino nas mãos de Trump

Ex-presidente já demonstrou apoio ao setor, mas Kamala Harris ainda não fez um pronunciamento oficial sobre o tema; entenda como a moeda digital cavou espaço no debate político americano

Lucas Gabriel Marins

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Os candidatos à presidência nos Estados Unidos normalmente tratam de temas como economia, saúde, imigração e segurança nacional, seja para vender o próprio peixe ou atacar o oponente. Neste ano, no entanto, um novo elemento entrou no debate político e ganhou espaço nas entranhas do lobby do país: as criptomoedas.

O Bitcoin (BTC) e as altcoins ganharam o palanque após o candidato republicano Donald Trump, até então um crítico da indústria, abraçar o setor. Enquanto em 2021 ele chegou a dizer para a Fox News que o BTC “parece uma farsa”, neste ano participou de eventos cripto, virou a celebridade do X com mais tokens e afirmou que, se eleito, vai manter uma reserva de BTC nos EUA, estratégia criticada por autoridades.

A candidata democrata, a vice-presidente dos EUA Kamala Harris, ainda não fez um aceno oficial sobre o Bitcoin. Seu partido, no entanto, não é muito benquisto pelos players do setor, principalmente por causa das ações movidas pela Comissão de Valores Mobiliários do país (SEC) e o veto do presidente Joe Biden à resolução que liberaria custódia de criptoativos por bancos.

Um dos alvos do xerife do mercado de capitais dos EUA foi a exchange de capital aberto Coinbase (C2OI34). No ano passado, a SEC processou a corretora por supostamente violar as leis federais de valores mobiliários. Fábio Plein, diretor regional da Coinbase no Brasil, disse para o InfoMoney que a empresa passou anos tentando trabalhar com a SEC para criar regras sensatas para o setor, mas foram “recebidos com silêncio”.

Apesar da “briga judicial”, a empresa procura não assumir nenhua posição política, diferente da maioria dos outros players do setor, como os irmãos Cameron e Tyler Winklevoss, cofundadores da corretora de cripto Gemini, que doaram US$ 8,75 milhões para a campanha de Trump.

“Cripto é uma rara questão bipartidária, e a Coinbase não assume posições políticas. Argumentamos que o futuro das criptomoedas nos EUA depende da eleição de candidatos e da promulgação de políticas que apoiem regras responsáveis e justas para as criptomoedas”, falou Plein.

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Ele disse que o impulso para as criptomoedas já repercutiu entre os candidatos dos EUA, e os democratas têm uma nova oportunidade de se posicionar para competir. Para ele, a indicação da atual vice-presidente para disputar o pleito já é um recomeço para o Partido Democrata e seu posicionamento em relação o setor.

Alguns grupos vêm pressionando o partido a adotar uma abordagem mais amigável às empresas cripto. “Kamala Harris deve definir sua própria agenda para criptoativos ou corre o risco de ceder terreno inteiramente aos republicanos”, disse o Monetary and Financial Institutions Forum (OMFIF), um think tank independente que trata de bancos centrais, política econômica e investimento público.

Impacto no preço do Bitcoin

Por causa do apoio declarado de Trump, o banco britânico Standard Chartered disse recentemente que o Bitcoin tem fôlego para bater os US$ 100 mil com a vitória do candidato republicano. Se a previsão se concretizar, seria um avanço de 67% frente aos US$ 59.600 registrados na quinta-feira (8).

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Em relatório recente, a corretora Bernstein disse que o BTC continua sendo um “Trump Trade”. “Não é surpreendente que, à medida que as probabilidades do Polymarket (mercado de previsões) entre Trump e Harris diminuíram, as negociações de Bitcoin e as criptomoedas enfraqueceram”. No Polymarket, o candidata republicano aparece com 50% de vitória e a democrata com 49%.

Alex Carvalho, analista de investimentos da CM Capital, concorda que a entrada de Trump na Casa Branca iria acelerar altas. No entanto, falou, “caso ocorra a vitória de Harris, não significa o fim para as criptomoedas, e o mercado deve continuar em ritmo de expansão, porém de forma mais controlada, sem euforia do mercado no primeiro momento”.

Para Carvalho, outros fatores podem impactar também o avanço ou a queda do preço dos ativos digitais, como uma política monetária favorável, incentivos fiscais, regulamentações mais adequada para o setor, fomento de inovação tecnológica e, principalmente, estabilidade econômica.