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O contexto de crescimento econômico fraco, inflação em alta e taxa de juros no maior patamar dos últimos quatro anos tem embolado o meio de campo para os investidores brasileiros. Se tudo isso não bastasse, as eleições presidenciais devem trazer um ingrediente extra de incerteza, passando a ditar o rumo dos ativos e ampliando a volatilidade do mercado. Como montar uma carteira de investimentos diante desse cenário?
Na avaliação de alocadores e gestores de patrimônio consultados pelo InfoMoney nas últimas semanas, o ambiente exige parcimônia, com alocações ponderadas e portfólios diversificados, por meio de investimentos descorrelacionados – que reajam em direções distintas aos fenômenos econômicos e políticos.
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Fugir dos ativos de risco pode até contribuir para que o investidor evite grandes perdas, mas também pode inibir os ganhos. Por isso, as casas têm optado por incluir fundos multimercados que possam surfar diferentes mercados, fundos de ações com estratégias mais flexíveis, assim como papéis de renda fixa que se beneficiem do aumento da Selic e da inflação.
Confira as sugestões de alocação de três casas para 2022:
Renda fixa ganha espaço
Com a taxa básica de juros em 9,25% ao ano e perspectivas de novas altas da Selic, o investidor mais conservador que quiser alocar em títulos de renda fixa pós-fixados – isto é, atrelados à Selic ou ao CDI – pode encontrar bons resultados e alta liquidez.
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Mas isso não vai ajudar se a inflação não começar a ceder, destaca Rodrigo Sgavioli, chefe da área de alocação e fundos da XP. Se a alta dos preços não arrefecer, a rentabilidade real (acima da inflação) será comprimida, um fator a que o investidor deve ficar atento.
Uma alternativa é incluir na carteira títulos do Tesouro Direto atrelados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), os chamados Tesouro IPCA+, de prazos até 2026, segundo o especialista da XP. Eles têm oferecido a inflação mais uma taxa da ordem de 5% ao ano.
Uma “pimentinha” da carteira conservadora pode estar ainda nos títulos prefixados de vencimento para no máximo dois anos, que pagam hoje prêmio acima de 10% ao ano. A fatia, contudo, deve ser pequena, destaca Sgavioli, dado o cenário de alta dos juros e de incerteza política-fiscal.
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Wilson Barcellos, CEO da Azimut Brasil Wealth Management, também diz que gosta de alocações em Tesouro IPCA+, dado que os títulos oferecem uma relação entre risco e retorno “interessante”.
Ele afirma que se a busca do cliente é por conservadorismo, a recomendação é procurar prazos mais curtos nos ativos de renda fixa, dado que quanto mais longos, mais sensíveis ao cenário macroeconômico e políticos estarão os papéis.
Já na fatia de crédito privado, Marco Bismarchi, sócio e gestor da Tag Investimentos, diz gostar de ativos de crédito high grade (títulos com alta qualidade de crédito e, portanto, menor risco), que negociam hoje com taxas de CDI mais 2%.
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A casa gosta ainda de ter uma parcela alocada em crédito high yield (que embutem maior expectativa de risco e retorno), em que é possível encontrar retornos de CDI mais 6%.
Incerteza pede a flexibilidade dos fundos multimercados
Na avaliação de Sgavioli, da XP, todo investidor – com exceção do ultraconservador – deveria ter uma fatia alocada em multimercados, ampliando a alocação à medida em que o perfil de risco se sofistica.
Eles são atemporais e há algumas subclasses de multimercados que adoram pegar quebra de comportamento e aproveitar a volatilidade do mercado
Rodrigo Sgavioli, chefe da área de alocação e fundos da XP
Sgavioli destaca que são fundos que conseguem operar em vários mercados, podendo mudar de mão de forma mais rápida do que um investidor comum. O alocador reitera, contudo, que devem ser investimentos feitos com perfil de longo prazo, com uma janela de no mínimo três anos para captar melhores desempenhos.
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Na XP, a carteira sugerida aponta para alocação de 28% em multimercados no portfólio de investidores moderados e de 25% no de arrojados.
As posições são semelhantes na Portogallo Investimentos, com 30% nos portfólios de investidores com perfil de risco moderado e arrojado. Já na Tag, a fatia é de 10% para todos os perfis. É importante frisar que a recomendação vai variar de acordo com o perfil e objetivos do cliente.
Barcellos, da Azimut, pensa de forma semelhante. Segundo ele, a alocação em multimercados é uma posição estrutural que todo investidor deveria ter. O foco no longo prazo, contudo, é fundamental para conseguir bons retornos, reitera.
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Bolsa ainda tem oportunidade
Após reduzir as posições em Bolsa no início do segundo semestre de 2021, o alocador da Azimut diz ver uma porta de entrada mais clara com o Ibovespa negociando por volta dos 100 mil pontos.
Ele destaca que deixar de estar posicionado em Bolsa também oferece o “risco” de perder a oportunidade de potenciais ganhos. “Estar conservador neste momento pode limitar as perdas, mas também os ganhos”.
Devido ao cenário de maior incerteza, Barcellos tem preferido fundos de ações com estratégia “long biased”, que oferecem maior flexibilidade para o gestor escolher onde estão as assimetrias de mercado.
Assim como na Azimut, a Tag também monta posição em Bolsa via fundos de ações. Quanto mais conservador o investidor, maior é a fatia alocada em estratégias “long biased” e quanto mais agressivo, maior em fundos de ações “long only”.
Além da exposição à Bolsa brasileira, a gestora conta ainda com fatias destinadas a ativos ilíquidos, como fundos de private equity e venture capital, dado que o ticket médio de investimento na Tag é de R$ 10 milhões.
As fatias alocadas nesses produtos de maior risco e menor liquidez, contudo, são pequenas. Para os conservadores, que têm 10% em renda variável, 3% estão nessa parte ilíquida. Nos moderados, dos 20% em risco, 5% estão alocados nesses fundos. Já nos investidores de perfil arrojado, 8% dos 32% estão em private equity e VC.
Fugindo do risco-Brasil
Com um ambiente doméstico mais desafiador, pautado nas eleições presidenciais, uma alternativa descorrelacionada recai sobre investimentos internacionais, tanto na renda fixa quanto na renda variável.
Sgavioli, da XP, avalia que a bolsa americana, por exemplo, já está com preços esticados e que a grande oportunidade hoje está nos ativos de renda fixa, em especial os de investment grade (risco de tesouro nacional) dado o aumento de juros nas economias globais.
Dado o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, contudo, as alocações internacionais têm sido feitas com hedge, isto é, sem exposição à variação cambial.
Criptomoedas começam a entrar no radar de alocadores
Após um 2021 de grande destaque para as criptomoedas, com maior participação da classe na carteira de investidores, gestores já têm monitorado as moedas digitais de forma a montar posições recomendadas aos clientes.
Ainda que as criptos não façam efetivamente parte das carteiras recomendadas, Sgavioli, da XP, afirma que esses ativos devem entrar nos portfólios da casa em 2022.
O caminho mais provável, segundo ele, seria por meio de investimentos indexados, caso dos fundos de índice (ETFs) atrelados a criptomoedas, dado que permitem acesso por um ticket baixo e oferecem diversificação.
O alocador destaca que os próximos meses irão provar se o excesso de liquidez no mercado e os juros baixos são drivers de crescimento dos preços no mundo cripto. “Se isso por verdade, com os juros voltando a subir no mercado internacional e não havendo excesso de liquidez, os retornos podem recuar”, avalia.
A posição também tem sido repensada por Bismarchi, da Tag. Segundo ele, a casa já tem feito posições para clientes que querem, entendem e têm perfil de risco compatível com os ativos (arrojado). Os gestores da casa, contudo, estão estudando para entrar nesse mercado em “um futuro próximo”, inicialmente via fundos ou ETFs.
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