Como investir R$ 50 mil hoje? Especialistas apontam o melhor caminho para cada perfil de investidor

Fundos que investem em bolsa local e internacional aparecem nas recomendações, além de títulos públicos e privados atrelados à inflação

Bruna Furlani

(scyther5/Getty Images)
(scyther5/Getty Images)

SÃO PAULO – O lançamento de vacinas para combater o coronavírus repercutiu em cheio nas projeções para o crescimento da economia mundial. Se um ano atrás, as perspectivas para a retomada eram mais cautelosas, hoje há mais clareza do mercado com relação à reabertura das economias e à gradual volta à normalidade.

Na prática, nos investimentos, essa visão se traduz em uma inclinação por ativos de maior risco, até porque as taxas de juros mundo afora e no Brasil vão seguir baixas, ainda que possam ser elevadas.

A alta das bolsas, contudo, já se estende há alguns anos e há quem questione se o cenário de retomada econômica já não está nos preços dos ativos. A julgar pela visão de gestores de patrimônio e assessores de investimentos, o movimento favorável para a renda variável não deve ser interrompido tão cedo.

A alocação em Bolsa pode responder por 10% do portfólio de investidores com perfil conservador e chegar a até 50% nos mais agressivos. É o que mostra um levantamento feito pelo InfoMoney com quatro instituições focadas na pessoa física para ajudar um investidor a montar uma carteira de R$ 50 mil.

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Para o estudo, foram considerados investidores que já possuem uma reserva de emergência que corresponda a cerca de seis meses de salário em aplicações conservadoras, como Certificados de Depósito Bancário (CDBs) de grandes bancos, com liquidez diária e que oferecem 100% do CDI, além de fundos DI e de títulos atrelados à Selic, como Tesouro Selic.

A ideia é explorar as aplicações ideias para o patrimônio, respeitando o apetite e a disponibilidade para risco dos investidores.

As apostas mais expressivas na bolsa local residem na visão de que ela estaria relativamente barata em relação às demais emergentes e às bolsas de países mais desenvolvidos, segundo Dennis Kac, CIO da gestora de patrimônio Brainvest.

Responsável pela gestão de portfólios com tíquete mínimo de R$ 10 milhões, Kac diz que o Banco Central deve ter sucesso em ancorar a inflação para 2022 e que, se isso ocorrer, não vai precisar subir tanto os juros. “Se o juro neutro estiver perto de 6,5%, entendemos que ainda será estruturalmente muito baixo, o que força a ida para ativos de risco.”

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Além de olhar para a Bolsa, os profissionais do mercado veem boas oportunidades para quem deseja aproveitar os descontos que alguns fundos imobiliários estão oferecendo em relação ao valor patrimonial. A preferência está em fundos de fundos, com gestão ativa de qualidade, além de fundos voltados para segmentos de shoppings e logística.

Na renda fixa, diante de um cenário de pressão inflacionária, boa parte dos especialistas acredita que há também oportunidades em títulos públicos atrelados à inflação com prazos de vencimento mais longos, entre 2035 e 2050.

Dan Kawa, CIO da Tag Investimentos, por exemplo, diz que a preferência pelos títulos públicos de prazo mais alongado está nos retornos oferecidos para esses prazos, sem contar que há ainda a proteção contra a perda do poder de compra ao longo do tempo.

Renda fixa conservadora, o começo

Para montar a base de uma carteira de R$ 50 mil, uma boa parcela das apostas deve estar em títulos atrelados à inflação. Há, contudo, opções atrativas também fora do Tesouro Direto, segundo Wagner Ronchi, gestor de portfólios da Blue3, empresa de investimentos e evolução patrimonial vinculada à XP.

Ele, que é responsável por gerir portfólios com tíquete mínimo de R$ 5 milhões, sugere que um investidor conservador tenha cerca de 40% da alocação de renda fixa em títulos indexados à inflação, especialmente privados, 15% em títulos prefixados e outros 15% em títulos pós-fixados.

Ronchi explica que, se a inflação subir, os papéis que seguem a variação dos preços, bem como os pós-fixados, conseguem acompanhar a alta. Mas se esse cenário não se concretizar e a inflação recuar, a ponta prefixada, em que o investidor trava a taxa de juros, fica atrativa.

Ao olhar para os títulos atrelados à inflação, ele afirma que o foco está em papéis privados com vencimento mais alongado, a partir de 2030, pela melhor relação entre risco e retorno.

Como exemplo, o gestor da Blue3 cita debêntures incentivadas que paguem juros reais de 4% ou 5% ao ano. “Vemos setores ligados a transporte, logística, exportação de carnes, metalurgia, concessionárias de rodovias e transmissoras de energia com um retorno interessante”, destaca.

Ao olhar para a inflação como um fator mais pontual, e não estrutural, o gestor de portfólios afirma que a tendência é de uma descompressão dos preços no curto prazo, o que pode gerar oportunidades também nos títulos públicos e privados prefixados.

No caso dos papéis públicos, a preferência é por títulos com prazos de cinco anos, ou seja, especialmente o Tesouro Prefixado com vencimento em 2026, que paga um prêmio próximo a 8,54% hoje. Na avaliação do gestor da Blue3, o mercado está precificando uma inflação exagerada.

“Quando você tem o prefixado e a inflação cai, você tem um ganho. Não imaginamos que a inflação permaneça nesse patamar, considerando a meta de 3,25% do Banco Central para 2023”, diz o gestor de portfólios.

Já no caso dos títulos privados prefixados, apesar de o investidor abrir um pouco mão da liquidez na comparação com os públicos, Ronchi destaca que os papéis com maior potencial são aqueles com vencimento até 2024.

A expectativa de que a inflação recue nos próximos meses também está no radar de Dan Kawa, CIO da Tag Investimentos. Ele diz olhar papéis prefixados de emissores privados com vencimento entre 2023 e 2024, como LCAs de bancos médios. “Hoje, há títulos oferecendo retornos de quase 9%. Acredito que vale a pena comprar, se o investidor conseguir segurar até o vencimento.”

Renda fixa com mais risco

De olho em garantir retornos um pouco mais atraentes com a expertise de ter um gestor por trás, o investidor pode optar ainda por aplicações em fundos de crédito, mas sabendo que há um risco maior do que investir em títulos públicos.

Ao comentar sobre os fundos high yield (que possuem maior risco de crédito, mas que costumam oferecer um prêmio maior do que o CDI), Kawa observa que o maior interesse está em produtos em que o resgate ocorre entre 90 e 360 dias úteis, já que os gestores adquirem papéis de empresas com maior risco, mas não necessariamente de calote. “Você consegue investir nesses fundos que oferecem CDI mais 4% ou 5%.”

Entre os nomes que mais chamam a atenção do gestor estão o Augme 90 FIC FIM CP, da Augme Capital, além do Captalys Orion FIC FIM CP, da Captalys, e o Canvas High Yield FIC FIM CP, da Canvas Capital.

Outra opção, segundo Kawa, são os fundos de crédito high grade (que apresentam classificação grau de investimento) que oferecem retornos de CDI mais 1% ou 1,5% e que podem representar uma aplicação em caixa com uma gordura maior do que o rendimento da Selic. Mas ele pontua que esse tipo de investimento não é para todos os perfis.

“Como as emissões costumam ter prazos mais alongados e as taxas oferecidas são baixas, acredito que valha mais a pena para perfis conservadores. Penso que para perfis moderados e agressivos, faça mais sentido aplicar à medida em que a Selic for subindo mais e eles começarem a pagar CDI+2%.”

Entre os nomes mais indicados na categoria high grade, segundo o especialista da Tag Investimentos, estão ARX Vinson FIC FIRF CP, da ARX Investimentos, Ibiuna Credit FIC FIM CP, da Ibiuna Investimentos, além do Brave I FIC FIM CP, da Portofino.

Fundos imobiliários

A expectativa de uma renda periódica e os preços descontados também fazem com que os fundos imobiliários tenham lugar especial nas carteiras. A maior atratividade está no fato de que esses produtos foram bastante penalizados com a crise sanitária. E recentemente, Kawa lembra que os fundos imobiliários sofreram ainda mais com a possibilidade de que poderiam perder a isenção tributária no primeiro texto da reforma tributária apresentado pelo governo.

“Há muitos FIIs com um yield atrativo. Preferimos fundos de fundos ou multiativos e multirregional, mas sem escolher um segmento específico. A ideia é sempre buscar produtos com gestão ativa e dinâmica”, pontua.

Hoje, ele conta ter na carteira da Tag o fundo Alianza (AFOF11), fundo de fundos que gerou um retorno com dividendo de 12% nos últimos 12 meses. Para quem tem perfil mais conservador, a sugestão de Kawa é que o investidor tenha entre 10% e 15% do patrimônio alocado em fundos imobiliários. Já o perfil moderado deve optar por ter entre 15% a 20% e o perfil agressivo, cerca de 25% na classe, aponta o CIO da Tag.

Os fundos imobiliários também estão no radar de Alexandre Amorim, gestor de investimentos na consultoria ParMais. Sem citar nomes, ele conta que a preferência recai sobre produtos de segmentos como shoppings e logística. “Gostamos de shoppings porque sofreram bastante na pandemia e os preços tendem a se normalizar. Já no caso de logística, acredito que cada vez mais teremos demanda por causa do crescimento do e-commerce.”

Fundos multimercado

Para diversificar ainda mais a carteira, a sugestão de gestores e assessores é optar por fundos multimercados. O gestor de portfólios da Blue3 sugere que investidores com perfil mais conservador apliquem cerca de 20% da carteira em fundos multimercados, enquanto moderados e agressivos devem alocar aproximadamente 30% do portfólio nesse tipo de ativo.

Ronchi diz buscar fundos multimercados que tenham objetivo de retorno entre CDI mais 5% e 6%, com liquidez menor, já que o prazo para resgate varia entre 10 e 30 dias úteis. “Olhamos o histórico e vemos como esses fundos se comportaram em momentos de crise. Preferimos fundos em que a volatilidade não passou de 5%, com mandato de risco limitado”, acrescenta o gestor.

Quem também sugere que uma parcela da alocação esteja em fundos multimercado é o CIO da Tag. Hoje, Kawa diz que possui o Giant Zarathustra FIC FIM e o Solana Equity Hedge Acess FIC FIM na carteira, além do Clave Macro Plataformas FIC FIM.

Renda variável local e internacional

O investidor também pode adicionar mais risco para formar o patrimônio ao aplicar em renda variável, dentro e fora do país.

O gestor da Tag diz que a preferência é por fundos, especialmente do tipo long biased (que permitem lucrar com a alta ou com a baixa dos papéis), long short (em que o gestor busca ganhar por meio de operações em que há simultaneamente a compra e venda de papéis) ou quantitativos (nos quais as estratégias de investimento são executadas via algoritmos, para explorar padrões de comportamento e ineficiências de mercado), como da Kadima e da Giant Steps.

“Acreditamos que vai ser um período melhor para investimentos direcionais focados em crédito e ações. Acreditamos que o stock picking do gestor vai fazer a diferença nesse momento mais desafiador.”
Dan Kawa, CIO da Tag Investimentos

Ronchi também está mais otimista com a Bolsa no Brasil. O gestor conta preferir entrar em renda variável por meio de fundos de gestão mais ativa, contudo não descarta a opção de aplicar uma parte em fundos passivos de índices, como um ETF que replique o Ibovespa.

Para o gestor de portfólios da Blue3, investidores conservadores devem alocar cerca de 10% do patrimônio em renda variável local e internacional. Já investidores moderados devem aportar cerca de 30% em renda variável, enquanto investidores agressivos podem aplicar até 50% da carteira.

E para alocar na renda variável, o olhar não está só sobre o Brasil. O especialista da Blue3 fala que é preciso diversificar regionalmente as apostas entre China, Estados Unidos e Europa.

Kawa concorda e diz que possui alguns fundos globais no portfólio, como o Morgan Stanley Global Brands Advisory FIC FIA IE, além do JP Morgan China Equity Dolar Advisory FIA IE lá fora.

Ao ser questionado sobre as alocações em ETFs que investem em índices internacionais, Kawa diz preferir uma gestão mais ativa nesse momento, para conseguir aproveitar as oportunidades que devem surgir com a alta volatilidade no segundo semestre.

“Podemos até ter uma alocação direcional que seja mais ágil em um ETF, como o IVVB11 [que replica o S&P500], mas preferimos a gestão mais ativa agora”, explica o especialista da Tag Investimentos.

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