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SÃO PAULO – Poucos brasileiros se preparam para a aposentadoria. A falta de planejamento financeiro, a ideia de que a poupança é um bom veículo para deixar o dinheiro e a baixa porcentagem de investidores contribuem para um cenário não muito animador no Brasil quando o assunto é aposentadoria.
Com a reforma da Previdência e juros mais baixos, muitas pessoas precisarão adaptar seu planejamento se quiserem se aposentar com alguma renda. Mas é possível conseguir uma renda complementar para essa fase da vida investindo.
A XP Investimentos divulgou um relatório que mostra quanto é necessário poupar por mês para ter uma renda mensal de R$ 8 mil na aposentadoria. Na simulação foi considerada uma inflação estimada em 4% ao ano e uma rentabilidade anual estimada de 6% a.a.
Quanto mais o tempo passa, menos tempo de contribuição o indivíduo vai ter e, como consequência, o aporte mensal necessário aumenta.
Veja:
Vale lembrar que essa é apenas uma simulação. Mas o questionamento que fica é: como e onde investir com rentabilidade para conseguir esses R$ 8 mil, já que, se o investidor deixar o dinheiro na poupança, não será possível alcançar esse objetivo?
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Por onde começar
Leticia Camargo, planejadora financeira com certificação CFP, explica que a primeira coisa que o investidor precisa fazer é saber seu perfil.
“Não existe uma ‘receita de bolo’ para orientar o investidor. Cada pessoa vê o mundo de um jeito, portanto sua forma de cuidar do dinheiro vai variar. Não tem uma fórmula mágica em que a pessoa coloca o dinheiro e se aposenta com uma renda de R$ 8 mil. É preciso adaptar à realidade dela e fazer um planejamento para alcançar esse objetivo”, explica.
Felipe Dexheimer, coordenador de alocação da XP, frisa que o planejamento para a aposentadoria não é simples. “Tenho a impressão de que as pessoas querem facilitar algo que realmente precisa de dedicação. É a qualidade do futuro que está em jogo”, afirma.
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Desafio para os conservadores
É consenso no mercado que o momento é favorável para a renda variável. Por isso, investidores de perfil conservador vão ter que se adaptar se quiserem ganhar 1% ao mês, o que era simples quando a Selic estava no patamar de dois dígitos.
Fernanda Alves, assessora de investimentos da Praisce Capital, opina que o longo prazo permite ativos de maior volatilidade na carteira.
“Quando falamos de alocação para a aposentadoria é preciso ter disposição ao risco. Se você investe para o curto prazo, a volatilidade pode significar uma perda, porque se nos próximos meses o mercado passar por um período de baixa e a pessoa precisar resgatar, vai realizar um prejuízo”, diz. “Mas, quando se investe para o longo prazo, o montante vai passar por vários momentos de alta e baixa e, mesmo que lá na frente seja um eventual momento desfavorável, já capturou uma boa alta. O saldo final tem mais chance de ser positivo”.
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Leticia aponta que o “risco é não tomar risco”. “Considerando o atual cenário, com uma taxa de 4,5% ao ano, descontado o Imposto de Renda, dá 3,8% que é menos do que a inflação projetada. Não se arriscar é deixar dinheiro na mesa”, afirma.
Dexheimer acrescenta: “Estude e monte sua reserva de emergência. Depois, comece a investir pensando em aposentadoria e acrescentando mais volatilidade ao portfólio”.
Onde aplicar
Considerando os pontos citados, Fernanda acredita que fundos de previdência privada são os mais adequados por serem um veículo que comporta várias classes de ativos e oferece uma boa diversificação.
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“No caso do jovem de 25 anos, que tem quase R$ 600 por mês, é uma boa saída aplicar em um fundo de previdência que vai oferecer em exposição em mais de um único ativo em uma única aplicação”, diz.
Nos últimos anos, o número de fundos de previdência de boas gestoras dispararam no mercado. “Além disso, investir em fundos é prático, porque a pessoa pode delegar a responsabilidade de gestão para um profissional competente especialista nisso. E vale lembrar que fundos de previdência não têm come cotas”, complementa a especialista.
Para ela, 100% desses aportes mensais em todas as idades poderiam ser investidos em diferentes fundos de previdência para construir o patrimônio focado na aposentadoria. Para saber mais sobre quase planos escolher e como funciona a tabela de imposto de renda desse tipo de ativo, clique aqui.
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Como segunda opção, ela sugere uma aplicação em títulos do tesouro IPCA com o vencimento mais longo possível. “O investidor segura até o vencimento e garante juro real”, diz. Hoje, a opção mais longa disponível é o IPCA+2045.
Já Leticia explica que cada investidor terá um portfólio e que não é possível generalizar porcentagens em cada classe de ativos. Ela faz sugestões para três perfis:
- Conservadores: aplicar em ativos de renda fixa pós-fixada e uma parcela em títulos atrelados à inflação, além de fundos de debêntures incentivadas, ou fundos de crédito privado.
- Moderados: ter portfólio um pouco mais apimentado, com fundos multimercados, fundos de ações e fundos imobiliários. “Sempre diversificando entre as opções disponíveis”, diz.
- Arrojado: os mesmos produtos, mas com um maior percentual em risco. “O arrojado também pode aplicar em multimercados, fundo de ações, e ações e porcentuais maiores porque tem mais apetite ao risco”.
“Em todos os casos, é possível encontrar alguns desses produtos empacotados em fundos de previdência. Vai de cada investidor adaptar o seu portfólio à sua realidade”, diz.
Dexheimer acredita que o investidor que quer construir um patrimônio para a aposentadoria deve estar alocado em renda variável. “A única certeza é a mudança. Por isso, pensando no longo prazo, os fundos de ações são boas opções. Sempre aplicando em mais de um”, diz.
Fundos de previdência também são recomendados pelo chefe de alocação da XP. “É possível investir em ações por meio deles e com o tempo e as transformações de mercado é possível fazer a portabilidade de fundos sem incidência de Imposto de Renda. O IR em fundos de previdência é de 10% e em fundos de ação de 15%: 5% a menos de imposto em 50 anos. Vale cada centavo”, diz.
Já os fundos imobiliários, segundo ele, não são ideais para quem está construindo o patrimônio para a aposentadoria, mas sim para quem já tem o dinheiro e está aposentado e pode contar com pagamento do rendimento mensalmente. Vale lembrar que os FIIs são obrigados a pagar 95% de seu lucro aos cotistas mensalmente, e esse dividendo é isento de IR.
“Os FIIs apresentam um risco de longo prazo que é: o mundo muda. Quem sabe se um galpão vai existir daqui 30 anos ou se shoppings no formato que temos hoje se manterão? Você coloca seu dinheiro de longo prazo em algo que você não sabe vai mudar. Se resgatar o dinheiro, corre o risco de reinvestimento”, diz.
Regra dos 100
Nos Estados Unidos, onde o cenário de juros baixo é realidade há muito mais tempo que no Brasil, uma fórmula bastante disseminada é a “regra dos 100”. Dexheimer sugere que os brasileiros também usem.
Basicamente, a conta ajuda o investidor a entender quanto do seu patrimônio ele precisa ter alocado em renda variável se o objetivo for a aposentadoria. “O investidor precisa fazer 100 menos a sua idade. Então, se ele tem 35 anos, deveria ter cerca de 65% do seu portfólio de aposentadoria em renda variável. É uma forma de se orientar para investir”, afirma o coordenador de alocação da XP Investimentos.
A ideia é usar a regra para ajudar a se organizar, mas sempre levando em conta o perfil de investidor, quanto de dinheiro a pessoa tem disponível, entre outros fatores. “Estudar sobre o que está investindo sempre é a solução. Além de pedir auxílio para especialistas”, diz Dexheimer.
Principais riscos
“Estamos falando de 30, 40, 50 anos para frente. Não fazemos ideia de como o mundo será até lá. Nos anos 70, não existia o smartphone, o Google, e tantas outras revoluções aconteceram”, diz Dexheimer.
Por isso, ele explica que o investidor não deve procurar uma única resposta para seus investimentos. “Não aposte em ações de um único setor. Você vai perder ou deixar de ganhar dinheiro. As dez maiores empresas do S&P 500, 40 anos atrás, tinham peso de 25% no índice. Hoje, essas mesmas empresas representam apenas 3,1%. Os setores diminuíram, perderam espaço e transformações aconteceram. Além disso, sete das dez maiores empresas de hoje, não existiam 40 anos atrás”, aponta.
Ele indica ter investimentos que se adaptem aos novos tempos. Exemplo: Comprar o índice S&P ou Ibovespa tem efeito de shopping center: se você ia a um shopping nos anos 1990, via uma loja de CD, que acabou fechando. No lugar dela abriu uma Apple Store. Isso é uma reciclagem de portfólio que vai se adaptando às mudanças.
Outro risco levantando por Dexheimer é o de reinvestimento. Na prática, considerando títulos do tesouro direto, isso significa que se o investidor optar por vender um título e embolsar o lucro, ele pode não encontrar outros títulos públicos com rentabilidade semelhante aos papéis que acabou de vender.
E exemplifica: “Vamos assumir que a pessoa está investindo para a aposentadoria. Ela poderia pensar que não valeria a pena esperar tantos anos por apenas 0,4% a mais. E aplicaria R$ 10 mil no título mais curto”, diz.
“Mas quando o papel vencer, ela terá que reinvestir seu dinheiro, mas em um cenário de corte de juro, ela vai se deparar com papeis de IPCA+2,7% para 2026 e IPCA+3,6% para 2045. Ou seja, não vai encontrar uma rentabilidade como tinha antes. Se tivesse deixado o dinheiro investido no título de longo prazo, teria sido mais vantajoso”, complementa.
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