Como investir em crédito de carbono? COP27 e resgate da discussão ambiental colocam mercado em evidência

Especialistas sugerem alocação via fundos de investimento que investem em mercados regulados, ou diretamente em ETFs americanos ou europeus

Bruna Furlani

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O mercado de créditos de carbono pode passar por intensa transformação nos próximos meses no Brasil, embalado pelas discussões da COP27 no Egito, pela eleição de um governo mais favorável à pauta ambiental e pela necessidade de que o País seja mais competitivo no comércio internacional.

Na avaliação de especialistas ouvidos pelo InfoMoney, a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), juntamente com a sinalização de que há a intenção de criar uma autoridade para rede climática manifestada por membros da equipe de transição, podem ser interpretadas como um primeiro demonstrativo de foco e de maior credibilidade para a entrada de recursos de investidores estrangeiros na área ambiental nos próximos anos.

Para Laura Albuquerque, gerente sênior da WayCarbon, o primeiro passo parece ter sido dado com o anúncio, no começo deste mês, de que Alemanha e Noruega – países investidores de fundos relacionados à mudança do clima no Brasil, como o Fundo da Amazônia – pretendem voltar a apostar no País com a eleição do candidato petista.

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“A partir desse fato, evidenciamos que já existe mais abertura e disposição para voltarmos a acessar esses investimentos tanto no âmbito público quanto no privado”, destaca a especialista da WayCarbon.

Embora o primeiro passo tenha sido dado, Laura não esconde que, ao olhar a pauta da COP27 e o andamento das negociações, é preciso avançar mais. A especialista está em Sharm El Sheik, no Egito, para acompanhar a Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU).

José Pugas, sócio e head de investimentos sustentáveis e engajamento da JGP Asset Management, concorda e espera que os maiores avanços venham na COP28, a ser realizada no fim do ano que vem em Dubai.

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“Acredito que teremos uma clareza de formatos de implementação, de quem serão os players [atores] em Dubai. Teremos a participação de fundos soberanos e parcerias público-privadas mais bem construídas e eficientes”, diz. “Na COP28, devemos ir para um nível em que as finanças ambientais entrarão no mainstream [ficarão mais populares]”, defende Pugas.

O sócio da JGP acredita que o Brasil tem um potencial imenso na área de crédito de carbono, mas reforça que será preciso “reconstruir o seu protagonismo” na área ambiental. “O pedido para sediar a COP30 no Brasil, e especificamente na Amazônia, já é um demonstrativo de foco”, observa Pugas, ao citar que tal fato representa um passo importante.

Ele, no entanto, avalia que o País precisará ir além para trazer de volta o investimento estrangeiro. “Há uma volta da boa vontade, mas ela vai depender do resultado”, destaca.

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De qualquer forma, em sua avaliação, o Brasil não terá escapatória. “Teremos que ter um mercado regulado no próximo governo, senão teremos problema de taxação de produtos. Para ter competitividade no comércio internacional, é preciso regular esse mercado”, destaca.

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O potencial do País para atrair investimentos na área é significativo. Estudo recente divulgado pela WayCarbon em parceria com a Câmara de Comércio Internacional (ICC Brasil) aponta que o Brasil pode atender até 48,7% da demanda global de crédito de carbono até 2030.

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Considerando um cenário otimista em que o preço do carbono ficaria em torno de US$ 100 dólares por tonelada, a pesquisa projeta que o potencial de geração de receitas com crédito de carbono poderia chegar a US$ 120 bilhões até 2030 no País.

Entenda o que são créditos de carbono e as formas de investir

Na prática, cada crédito de carbono corresponde a uma tonelada de carbono equivalente que deixou de ser emitida ou que foi removida da atmosfera. Há dois tipos de mercados: o regulado ou obrigatório, em que os governos impõem metas de emissão; e o voluntário, em que as companhias adquirem créditos de forma espontânea.

O funcionamento do mercado se dá de maneira simples. Julianne Simões, planejadora financeira CFP, explica que, de um lado, estão as empresas geradoras de créditos de carbono que vendem o excedente. De outro, diz, estão as companhias que emitem COacima do que poderiam emitir e que precisam comprar créditos para se manter dentro do compromisso estabelecido no acordo de Paris.

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A movimentação de compra e venda (oferta e demanda) ocorre em alguns mercados acionários dos Estados Unidos e da Europa. O crédito de carbono é precificado e assim são gerados os ETFs (fundos de índice) que replicam um índice que é composto por contratos futuros de créditos de carbono.

Atualmente, há algumas formas de investir em crédito de carbono: via tokens, fundos de investimentos e via Certificados de Operações Estruturadas (COEs), que estão disponíveis em algumas corretoras.

Tokens de créditos de carbono

Um dos tokens mais famosos é o Moss Carbon Credit (MCO2), que foi criado pela plataforma brasileira MOSS. O token tem seu lastro ligado aos créditos de carbono. Na prática, a criptomoeda entra nesse mercado ao tokenizar os créditos, permitindo que qualquer pessoa possa negociar os ativos e não só lucrar com ele, mas ajudar a incentivar estratégias que ajudem o meio ambiente.

Segundo a plataforma, os créditos de carbono da casa têm seus preços definidos no mercado secundário, ou seja, são formados de forma independente e seguem regras de mercado (oferta e demanda). Dados da CoinMarketCap apontam que um token de MCO2 equivalia a US$ 1,85 no fechamento da sessão de quinta-feira (17).

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Fundos e COEs de créditos de carbono

Já os fundos de investimentos e os COEs costumam investir em contratos futuros de crédito de carbono ou em ETFs negociados no mercado americano e europeu, em que já há regulação. Isso porque ainda não há um produto que replique um índice ligado a crédito de carbono no Brasil.

Pugas, da JGP, destaca que recentemente foi publicado um decreto no País criando o mercado de carbono, mas que o texto não trouxe praticamente nenhuma novidade. Ele afirma que o documento não estabeleceu os limites de emissão dos setores e nem deixou claro como irá fazer a cobrança das empresas.

“O decreto é ‘programático’. É mais uma declaração de intenções. Foi a ‘pedra fundamental’, mas o ‘edifício’ mesmo ainda não foi entregue”, avalia. Segundo ele, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está “interessada” no projeto, mas o “custo político” para conseguir viabilizá-lo é grande.

Para o sócio da JGP, se o governo decidir pagar esse custo, o mercado deve responder rápido e assim, talvez aprovar um ETF, como os que existem na Europa e em alguns locais nos Estados Unidos. Até que isso ocorra, o profissional acredita que o investidor que optar por alocar capital nesse tipo de investimento deverá buscar opções reguladas, por meio de fundos de investimento que investem em ETFs ou em mercados futuros, por exemplo.

A razão, explica o especialista da gestora, é que há muitos projetos disponíveis hoje via tokens e em alguns fundos que investem em mercados não regulados, por exemplo, que dependem de pagamento antecipado e que o fluxo de caixa pode não aguentar. Além disso, ele destaca que nem sempre os projetos conseguem passar pelo teste de integridade, ou seja, para verificar se ele é inclusivo, se há uma preocupação com os povos originários, entre outros aspectos.

A planejadora Julianne também defende que o investidor priorize projetos já regulados, especialmente porque o mercado de crédito de carbono é mais arriscado. Ela observa que os fundos que investem em contratos futuros ou em ETFs de crédito de carbono possuem grande volatilidade, que pode ultrapassar 50% em 12 meses em certos casos.

A oscilação de tais produtos costuma ser inclusive maior do que a vista em alguns fundos de ações, em que a volatilidade é de 20%. “É sempre importante que o investidor veja quanto do portfólio, ele suporta ter em um ativo que possui um risco maior do que 40%, 50%. Ou seja, se 5% da carteira oscilar 40%, é preciso ver se o patrimônio da pessoa não será comprometido”, defende a especialista ao destacar que, se isso ocorrer, pode ser importante rebalancear a carteira.

Atualmente, há algumas opções de fundos disponíveis no mercado como o Trend Carbono Zero FIM, o Vitreo Carbono, o BB Multimercado Carbono e o Safra Direct Carbono, por exemplo. A aplicação mínima pode chegar a R$ 0,01 em alguns casos. A maior parte dos fundos analisados possui hedge cambial, ou seja, o investidor não está exposto à variação do câmbio.

Prós e contras

Dentre os produtos disponíveis hoje no mercado, Julianne afirma que a melhor opção para o investidor pessoa física que deseja “tatear” como funciona esse mercado e não possui muita familiaridade com alocações no exterior tende a ser a aplicação via fundos de investimento que investem em ativos do mercado regulado.

Já se o investidor tiver familiaridade com investimentos no exterior e tiver conta em uma corretora internacional, a opção mais atrativa pode ser a aplicação direta em um ETF de crédito de carbono, observa a alocadora.

A razão é que ETFs atrelados a produtos internacionais são tributados a uma alíquota de 15% aqui no Brasil, enquanto a mesma classe nos Estados Unidos possui isenção do Imposto de Renda para residentes brasileiros – sempre que a venda for de até R$ 35 mil.

Ao ser questionada sobre a aplicação em COEs, a alocadora CFP cita o exemplo de um produto que possui investimento inicial de R$ 5 mil, com um prazo de 36 meses e que prevê que a alta do investidor seja limitada.

Segundo ela, a desvantagem de produtos como COEs de crédito de carbono está no fato de que não é possível resgatar antes do vencimento e que a aplicação mínima é mais elevada. “Eu prefiro ter a oscilação do ativo e ter liquidez para sair e entrar”, defende. “O COE é uma estrutura mais travada”.

Outro ponto de atenção do investidor deve estar no prazo. Julianne defende que alocações voltadas para resgates em prazos menores do que cinco anos devem ser evitadas. “É um mercado que ainda não é regulado [no Brasil]. No curto prazo, ainda não sabemos direito o que pode ocorrer. Tem que estar com um pensamento para além de cinco anos e para além do retorno financeiro”, pondera a especialista, já que os retornos podem oscilar e ficarem menores durante um período porque é um mercado muito novo.

A alocadora acredita que, à medida em que o mercado de crédito de carbono for se desenvolvendo, é possível que as rentabilidades oferecidas pelos produtos tenham uma oscilação de preços menor, mas pontua que até lá, é provável que o mercado siga mais volátil.

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