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A “Super Quarta” começou com as bolsas em alta e o rendimento dos Treasuries em queda, mas o cenário mudou logo após o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) manter os juros na faixa de 5,25% a 5,50%, confirmando a expectativa de 99% do mercado, segundo dados do CME Group. Agora, o que os investidores querem saber é: como ficam as ações e os títulos do governo americano?
Após a divulgação do comunicado do Fed, que aconteceu às 15h (horário de Brasília), as bolsas ficaram voláteis, o S&P virou para queda, e o Nasdaq 100 entrou em território negativo. Já os rendimentos de títulos subiram, principalmente nos títulos curtos de dois anos, que atingiram o nível mais alto desde 2006.
O mercado respondeu negativamente ao tom mais duro do presidente do Fed, Jerome Powell, em relação à permanência de juros altos por mais tempo. As projeções trimestrais atualizadas mostraram que 12 dos 19 membros do Fomc estavam a favor de outro aumento das taxas em 2023, em linha com o desejo de garantir que a inflação continue a desacelerar.
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Segundo o comunicado, as taxas devem fechar o ano na faixa dos 5,75% – o que significa um aumento residual de 0,25 ponto percentual ainda em 2023. Além disso, as projeções para 2024 e 2025 aumentaram, saindo de 4,6% para 5,1%, e de 3,4% para 3,9%, respectivamente.
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Repercussão nas ações
Na terça-feira (19), dados de probabilidade do CME Group indicavam 28,9% de chances de um aumento residual de juros em novembro e 35,4% em dezembro. Porém, fontes consultadas pelo InfoMoney afirmaram que esse ajuste ainda não foi precificado pelo mercado, devido à baixa expectativa de que aconteça.
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“Tem ainda uma grande expectativa do mercado de não haver esse aumento residual da taxa de juros”, afirma Guilherme Morais, analista da VG Research. “O principal cenário que pode levar o Fed a esse aumento, na minha opinião, é a pressão do petróleo, que teve aumento de preço considerável nos últimos dias e já impactou o último dado de inflação.”
Dessa forma, analistas apontam que o investidor que já segue uma estratégia de alocação não deve rever o caminho e mudar a carteira agora. É importante manter a consistência e pensar no longo prazo, não na situação imediata por causa dos ajustes de política econômica.
Morais acredita que o mercado de risco pode sofrer um pouco com a precificação deste aumento residual de juros, mas que o pico da taxa no país está próximo e, portanto, a discussão logo caminhará para o próximo tópico: “quando os juros começarão a cair”.
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“O S&P está caminhando bem este ano puxado pelas empresas de tecnologia. Mas quando você tira os sete grandes nomes, o rendimento fica bem menor. Então é preciso selecionar bem e ficar atento”, diz.
É a mesma postura adotada pela BlackRock. Wei Li, estrategista-chefe global de investimentos, escreve em relatório que a visão mais otimista da gestora está voltada para mercados mais internacionais, como Japão. Nos Estados Unidos, o foco tem sido a tese de inteligência artificial.
“Estamos sobreponderados no tema da IA generativa, que tem entusiasmado os mercados, à medida que vemos um ciclo de investimento centrado nesta área, que deverá apoiar receitas e margens”, escreve Li.
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A VG Research também vê oportunidade em outro segmento, as empresas imobiliárias dos EUA – os REITs. Para eles, o aperto dos juros está pressionando bastante essa classe de ativos, porém, eles veem empresas com bons fundamentos e preços descontados.
“Como a gente provavelmente está chegando muito próximo do pico de juros, o mercado imobiliário deve caminhar melhor nesse sentido e performar um pouco melhor ou mais próximo do que a gente tem visto nas outras classes de ativos, pelo menos”, avalia Morais.
Como ficam os Treasuries?
André Diniz, economista da Kinea Investimentos, explica que as decisões do Fed sobre juros afetam principalmente os títulos de renda fixa de curto prazo. Justamente os Treasuries que viraram para aumento de rendimento após o comunicado.
Com a perspectiva de juros maiores por mais tempo, a tendência é que o mercado exija mais prêmios para comprar esses títulos e isso seja observado na queda dos preços dos papéis e aumento do retorno.
Para a BlackRock, os títulos de curto prazo estão em bom patamar para obter renda, devido a esses altos retornos e vencimentos rápidos.
“Estamos convencidos dos fatores que irão aumentar os rendimentos das Treasuries: os bancos centrais manterão as taxas apertadas à medida que as pressões inflacionistas persistem; oferta crescente de títulos à medida que a dívida governamental aumenta; e volatilidade macroeconômica e geopolítica”, escreve Li.
Além da decisão do Fed em si, o aumento da dívida dos Estados Unidos e a instabilidade política também afetam os títulos do Tesouro americano, principalmente os mais longos. “Os Treasuries de 10 anos são os que mais repercutem essas questões fiscais e políticas. Nos últimos meses, o mercado passou a exigir prêmios maiores por esses títulos”, diz Diniz.
Embora estejam pagando bem, os títulos também têm seus riscos. Além dos papéis de curto prazo, a BlackRock voltou suas atenções para os Treasuries da Europa: “vemos uma oportunidade para elevar as obrigações soberanas da área do euro e os gilts (título público) do Reino Unido”.