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A nova política de preços de combustíveis da Petrobras (PETR3;PETR4) foi bem recebida por uma parcela dos agentes do mercado – havia quem esperasse um cenário radical, de congelamento de preços ou subsídios para importação. Diante das mudanças mais “suaves” que o imaginado, as ações da petroleira chegaram a subir mais de 3% ao longo do pregão desta terça-feira (16), refletindo alívio do mercado.
Para os dividendos, contudo, a perspectiva não é animadora, na visão de alguns analistas.
Segundo analistas consultados pelo InfoMoney, há um consenso: embora a nova política de preços de combustíveis não seja tão ruim quanto a verificada durante o governo da presidente Dilma Rousseff, o abandono da paridade com os preços internacionais do petróleo deve provocar uma redução na lucratividade da companhia – o que vai respingar nos dividendos.
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, explica que os novos preços de gasolina e diesel serão formados levando em consideração o custo do cliente, valorizando a perspectiva dos compradores de longa data ou que adquirem um volume maior.
“Isso será positivo para distribuidores, como Ultrapar (UGPA3) e Vibra (VBBR3) , que podem ter acesso a valores mais competitivos”, destaca. Outro elemento da nova política é o custo marginal da Petrobras, que leva em consideração o custo de oportunidade e logística, segundo Arbetman.
O analista aponta que, com esse cálculo, a companhia pode considerar tanto o petróleo no mercado nacional quanto na exportação. Por isso, mesmo sem existir uma relação direta com o preço internacional do petróleo, é possível que os valores lá de fora exerçam alguma influência, afirma.
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Passamos de um cenário A para um cenário B, que é pior do que A. Mas existia a possibilidade de preços congelados ou de uma política que subsidiasse os valores de importação, e não houve nada disso
Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos
Para ele, mesmo se tratando de uma mudança negativa, o mercado responde bem porque não há extremos.
O analista afirma que no balanço do primeiro trimestre já foi possível perceber que o preço de transferência de exploração e produção para o refino deixou de ser apresentado. Segundo ele, o preço do barril de petróleo no mercado internacional integrava a receita e representava um custo para o refino.
Em sua visão, com os preços menores que a nova política da Petrobras pode favorecer, as receitas e as margens da empresa serão pressionadas. Atualmente, a margem Ebitda varia em torno de 65% e 70%, um patamar que deve recuar. “Com margem maior e preço competitivo, sobra mais dinheiro para pagar dividendos. Possivelmente, ao longo do tempo, vai sobrar menos”, pontua.
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Para Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, há alguns pontos complexos na nova política de preços. Ele considera que o cálculo do custo marginal da Petrobras e o custo de oportunidade englobam uma série de fatores que podem não ser identificados com facilidade por quem não faz parte da companhia, dificultando a tarefa de analistas e associações.
Outro aspecto diz respeito ao diesel. O Brasil importa o equivalente a 15% a 30% do consumo do combustível por ano pela ausência de capacidade de refino.
Colocando a gasolina abaixo da paridade internacional, não haverá problemas de abastecimento. Mas o diesel tem um limite. Se ficar abaixo do mercado internacional, as importadoras podem parar de trazê-lo para o Brasil, gerando desabastecimento
Flávio Conde, da Levante Investimentos
Por outro lado, Conde considera que a ausência de uma periodicidade definida para o reajuste dos preços de gasolina e diesel – que vinha acontecendo praticamente toda semana – pode ser positiva para a economia, mas péssima para a Petrobras. “Se houver um evento inesperado e o petróleo disparar 20% no mercado, essa alta vai demorar para ser repassada, e a companhia pode ganhar menos no período”.
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Na visão de Conde, a rentabilidade e os dividendos vistos na Petrobras no primeiro trimestre deste ano não devem se repetir. Para ele, a lucratividade da companhia no segundo trimestre já será menor, e o impacto mais forte virá na segunda metade do ano.
Apenas uma elevação do preço do petróleo, na faixa dos US$ 90 o barril, poderia amenizar a situação da empresa. Embora não seja seu cenário base, o analista trabalha com valores entre US$ 70 e US$ 80 o barril em 2023.
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Dividendos, até quando?
Uma mudança na política de dividendos da Petrobras já é esperada pelo mercado – embora a direção da empresa já tenha sinalizado que não limitará as distribuições aos clássicos 25% do lucro líquido.
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Para Conde, o que deve afetar o pagamento de proventos é a política de investimentos da Petrobras, com a perspectiva de que a empresa destine até R$ 270 bilhões para o segmento de energia eólica. Essa consolidação, segundo ele, deve ocorrer até 2024.
Atualmente, a política de dividendos da Petrobras estabelece uma remuneração mínima anual de US$ 4 bilhões nos exercícios em que o preço médio do petróleo do tipo Brent for superior a US$ 40 o barril. Este valor pode ser distribuído independentemente do nível de endividamento da empresa.
Se a dívida bruta for igual ou inferior a US$ 65 bilhões, a Petrobras precisa distribuir aos acionistas 60% da diferença entre o fluxo de caixa operacional e os investimentos – desde que isso não comprometa a sustentabilidade da companhia. Os pagamentos são trimestrais.
Um ponto de consenso entre os analistas é que isso deve mudar, com as novas distribuições atreladas a uma parcela do lucro líquido da Petrobras. É o famoso payout, métrica adotada comumente entre as companhias listadas na Bolsa.
Conde espera que o payout comece a ser reduzido gradualmente em 2023, para algo em torno a 50% do lucro no segundo trimestre, para depois recuar até os 40% na segunda metade do ano. É com esse patamar que ele acredita que a companhia trabalhará em 2024 também.
Mesmo com a nova política de preços de combustíveis, Conde ainda espera que a Petrobras pague entre R$ 5 e R$ 6 de dividendos por ação neste ano, equivalente a um dividend yield de 19% a 22,7%. “Ainda é superior a outras empresas da Bolsa e outras petroleiras”, avalia.
Contudo, Conde não tem recomendação de compra. Ele defende que o investidor mantenha o papel enquanto a companhia continuar sendo rentável e acompanhar os reajustes de preços da gasolina e diesel. “Permaneça, mas próximo da porta de saída”, completa.
Para Arbetman, da Ativa, os recursos para proventos ficarão mais escassos. O analista espera que o payout da Petrobras fique em 30% a 40% do lucro na nova política de dividendos. “Os dividendos vão secar? Não, mas possivelmente o dividend yield ficará abaixo de 10%”, defende o analista.
Segundo ele, com um retorno em dividendos abaixo de dois dígitos, o investidor precisará avaliar se vale a pena manter as ações, dado o risco político de uma empresa como a Petrobras. “Não temos Petrobras na carteira de dividendos, porque acreditamos que não vale a pena correr o risco”, destaca.
Daniel Nigri, fundador e analista da Dica de Hoje Research, também acredita que o risco não compensa. Para ele, mesmo que a companhia continue lucrativa, a rentabilidade dos acionistas vai ser menor, com dividendos mais baixos. “A empresa já está sinalizando que a política de dividendos vai ser modificada e vai fazer novos investimentos”, diz.
Sua expectativa é de que o payout da empresa seja de 25% a 35% do lucro, com um dividend yield de 12% a 14% em 2023 – dos quais 7% já foram representados pela distribuição de R$ 24,7 bilhões (R$ 1,89 por ação), a serem pagos em agosto e setembro.
Mesmo com dividendos acima de 10%, Nigri defende que a Petrobras nunca foi adequada para uma estratégia de dividendos, dada a falta de recorrência nos pagamentos. Para ele, uma empresa recorrente deve ter dez anos contínuos de distribuições, o que não aconteceu com a Petrobras – de 2014 a 2017, a empresa não fez pagamentos.
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