Como combinar empresas da “velha” e da “nova” economia no portfólio? Gestores explicam

Especialistas da Brasil Capital, Perfin Asset e ARX compartilharam sua visão para a Bolsa nos próximos meses, durante a Expert XP

Lucas Bombana

(Getty Images/Leo Albertino)
(Getty Images/Leo Albertino)

SÃO PAULO – Em um cenário disruptivo como o de 2020, com mudanças radicais no hábito de consumo da sociedade, o setor de tecnologia despontou como o grande cavalo vencedor à frente dos demais.

E embora uma análise macroeconômica para identificar os segmentos promissores seja essencial, ela sozinha não é suficiente para avaliar o potencial de retorno do investimento em uma empresa.

Segundo Ary Zanetta, sócio e gestor da Brasil Capital, a capacidade da diretoria que toca o negócio é um dos pontos mais importantes que ele considera no momento de decidir por um investimento.

Zanetta citou como exemplo a XP, na carteira da Brasil Capital desde o IPO, em dezembro de 2019.

“A XP é um bom exemplo do que pessoas boas, alinhadas, com liderança obstinada e bastante focadas são capazes de fazer”, afirmou o especialista, durante painel da Expert XP sobre empresas resilientes com capacidade de entregar bons retornos ao longo dos anos.

Fazer modelos de fluxo de caixa descontado em planilhas de Excel para identificar o valor em potencial de uma empresa todo mundo no mercado faz, e não será isso que trará um diferencial competitivo para a gestora, afirmou Zanetta.

“O que realmente vai gerar um diferencial é a nossa capacidade de encontrar empresas e negócios com pessoas fantásticas.”

Além da XP, entre os negócios em que a Brasil Capital encontrou uma combinação de perspectivas favoráveis para o setor e pessoas altamente capacitadas, Zanetta citou B3, Mercado Livre, Eneva, Cosan, Magazine Luiza, Hapvida e SulAmérica.

Ganhos com a privatização da Cesp

Assim como Zanetta, Alexandre Sabanai, sócio responsável pelo research e pela co-gestão dos fundos abertos da Perfin Asset, citou a qualidade dos executivos como um fator importante para decidir se a ação de determinada empresa vai ou não entrar no portfólio.

Sabanai apontou a Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e a Hypera Pharma como dois nomes no portfólio em que enxerga bom potencial de ganhos nos próximos meses.

No caso da Cesp, Sabanai entende que o processo de privatização, em outubro de 2018, ainda poderá destravar valor relevante para a companhia nos próximos anos.

Após as mudanças ocorridas no corpo jurídico da elétrica, o gestor da Perfin espera por reversões importantes das provisões no balanço da empresa no médio e longo prazo.

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Em relação à farmacêutica, Sabanai avalia que o preço da ação está excessivamente descontado, sob uma ótica de investimento de dois a três anos, assinalou.

Além da resiliência, a Hypera Pharma acabou de terminar um processo de diligência interna que trará aprimoramentos quanto ao nível de governança, afirmou o gestor da Perfin.

Sabanai explicou que divide a análise sobre os investimentos no radar da gestora em dois grandes blocos – um focado em entender o setor em que a empresa está inserida, e outro mais específico para esmiuçar as particularidades da investida em potencial.

No primeiro grupo, são avaliados itens como barreira de entrada, dinâmica de competição no setor e poder de barganha dos clientes, além da sensibilidade aos ciclos econômicos. Fatores políticos, regulatórios e socioambientais são “riscos de calda importantes”, acrescentou o especialista.

Na análise mais micro, além do histórico da diretoria, a qualidade do balanço, bem como o nível de transparência e de governança das investidas em potencial, foram citados pelo gestor da Perfin como itens importantes no momento do checklist.

Velha economia

O CEO da ARX Investimentos, Rogério Poppe, por sua vez, alertou para o risco que os governos, de uma maneira geral, podem representar para o desenvolvimento de novos negócios em setores promissores.

Uma regulamentação que porventura atrase a adoção por empresas locais de tecnologias inovadoras, que surgem cada vez em maior profusão, é um ponto de atenção no radar da ARX.

“Vimos no passado no Brasil algumas decisões equivocadas com relação a atraso de adoção de tecnologia, que podem trazer prejuízo para as empresas locais”, disse o gestor.

Entre os setores da Bolsa em que vê menor risco de uma interferência prejudicial do Estado, Poppe citou o financeiro.

Nesse caso, a atuação do governo, e do Banco Central (BC) notadamente, para estimular a concorrência tem sido muito positiva, afirmou o CEO da ARX.

“O open banking também é uma discussão presente, que traz desafios para todos os players do mercado, mas também traz muitas oportunidades.”

Além dos setores que mais se beneficiam das mudanças tecnológicas e de hábito da sociedade, Poppe disse que ainda enxerga valor na “velha economia”, no setor de commodities.

“Commodities é um setor que sofreu bastante com a crise, mas tem oportunidades para frente sim”, afirmou o gestor, lembrando que o câmbio mais desvalorizado no novo contexto que se desenha tende a favorecer exportações de matérias-primas por parte de empresas brasileiras.

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