Como Brasil Capital, Dahlia e Tork adaptaram a gestão de seus fundos com a pandemia

Aumento da participação de empresas com foco em crescimento nas carteiras ao longo da crise adicionou métricas de análise aos gestores

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – Em um ano atípico para os mercados, que exigiu uma rápida evolução da tecnologia para a adaptação a uma nova realidade de trabalho em casa, gestores de fundos de investimento também tiveram que ajustar seu dia a dia, mudando estratégias de análise para incluir empresas que por muitas vezes ficavam de fora das carteiras.

Durante painel da 4º edição do Simpósio de Gestores, promovida na manhã desta quarta-feira (25) pela Santander Asset Management, Marcelo Magalhães, gestor da Tork Capital, explicou que muitas das companhias com perfil de crescimento, como as de tecnologia, que ganharam destaque nos últimos meses, não geram caixa e, portanto, exigem uma análise diferente.

“Não se pode usar preço sobre lucro, porque muitas vezes [a empresa] não tem lucro. Tem que olhar como vai ser o negócio ao longo do tempo, entender se a empresa atende a uma necessidade real e se a proposta de valor faz sentido para o mercado”, disse.

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Além da persistência ao longo do tempo, é preciso olhar para a administração da companhia, destacou, de forma a entender o quão preparados os líderes estão para lidar com desafios e para tomar decisões bem fundamentadas.

André Ribeiro, sócio e gestor da Brasil Capital, afirmou que o investidor deve buscar entender, antes de investir, quais as tendências para a tecnologia e qual a demanda dos consumidores.

“Empresas que constroem valor no tempo são muito relevantes, e não só as de tecnologia. Estamos sempre analisando a distorção entre valor potencial e valor de mercado”, afirmou.

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Na América Latina, Ribeiro citou o caso de Mercado Livre que, além de uma plataforma de marketplace, tem ganhado espaço como uma empresa de meio de pagamentos.

Value x Growth

Com divulgações constantes sobre a eficácia de vacinas contra o coronavírus, o mercado financeiro começa a ver valor em empresas muito prejudicadas pela pandemia.

Se até o momento as companhias de tecnologia lideravam as escolhas, empresas de valor, mais cíclicas, têm ganhado atenção dos investidores, diante de uma expectativa de retomada da economia.

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Na avaliação dos gestores da Brasil Capital, da Dahlia e da Tork, contudo, ambas as escolhas podem – e devem – fazer parte de um portfólio, contribuindo para a diversificação dos ativos.

“Se vai ser value ou growth, acho que as duas vão andar. É melhor estar comprado em ações do que ficar selecionando tanto. Hoje, o ruim é ter dinheiro em caixa, rendendo o CDI”, disse Felipe Hirai, sócio e cogestor da Dahlia Capital, que também participou do painel.

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Magalhães, da Tork, concorda, afirmando que o investidor deve buscar um portfólio equilibrado independentemente da rotação setorial, buscando ativos de alto crescimento, com múltiplos que justifiquem a compra, bem como empresas da “velha economia”, bem posicionadas para o futuro, isto é, sem grandes desafios na área de tecnologia.

Ele citou como exemplo a Petrobras que, embora seja do setor de commodities, foi mantida no portfólio ao longo do ano.

Na Brasil Capital, Ribeiro diz gostar de empresas como Vale e Yduqs, com a última se adaptando bem à digitalização.

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Companhias de shopping centers também entram na carteira da gestora, uma vez que a avaliação é de que, apesar do ano ruim para o setor, as empresas deverão retomar seu desempenho com o lançamento de uma vacina.

Lições da crise

Diante de uma crise sem precedentes, amplificada pelas medidas de isolamento social e fechamento das economias, alguns aprendizados ficaram marcados e ajudaram os gestores a encontrarem boas oportunidades na Bolsa.

“A adaptabilidade e a persistência talvez sejam as características mais relevantes do investidor e das empresas nas quais investimos e, certamente, foram muito necessárias neste ano por conta das medidas de isolamento social”, disse Ribeiro.

O gestor da Brasil Capital chamou atenção ainda para a desigualdade corporativa por conta da crise, que levou grandes empresas a se destacarem e ganharem mais participação no mercado por estarem mais bem preparadas do ponto de vista tecnológico, e com acesso ao mercado de capitais.

Magalhães, da Tork, reforçou que os mercados tendem a ser irracionais em situações extremas, levando ao descolamento dos preços dos ativos em relação aos fundamentos e abrindo oportunidade para a alocação em excelentes ativos.

“A melhor forma de atuar em situações extremas é tomar decisões com base no horizonte de longo prazo, ainda que o cenário de curto prazo seja desafiador. É preciso buscar as empresas vencedoras, que viram oportunidade com a liquidez forçada dos ativos, porque é mais fácil fazer essa identificação que saber o desenrolar da crise”, afirmou.

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