Com volatilidade pelas eleições antecipada já em 2021, especialistas veem “copo meio cheio” e oportunidades na Bolsa

Fernando Lovisotto, da Vinci, e Roberto Attuch, da Ohm Research, apontaram boas perspectivas para commodities e agro durante painel do Onde Investir 2022

Alexandre Rocha

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O copo está “meio cheio” e há boas oportunidades na Bolsa brasileira, apesar do risco político representado pelas eleições presidenciais e das mudanças econômicas em andamento no Brasil e no exterior. Esta é a avaliação de Fernando Lovisotto, sócio da gestora Vinci Partners, e de Roberto Attuch, CEO da casa de análises Ohm Research.

Para os especialistas, muitos dos efeitos esperados para 2022 por causa da eleição ocorreram já em 2021, como a saída de capitais estrangeiros do País, a valorização do dólar, a aceleração da inflação e o aumento dos juros. Além disso, eles destacam que há oportunidades baratas na Bolsa com potencial de valorização.

“É uma boa hora para ficar investido [na Bolsa]. Muita coisa foi antecipada em 2021. Eu enxergo um grande potencial de retorno, apesar da eleição”, disse Lovisotto.

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Lovisotto e Attuch participaram, nesta quarta-feira (12), do painel “Bolsa barata? Quais ações são oportunidades em 2022”, parte do evento online Onde Investir 2022, promovido pelo InfoMoney em parceria com a XP Investimentos (veja a agenda de hoje).

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Embora ache ainda muito cedo para especular sobre o resultado do pleito, o sócio da Vinci avalia que as instituições brasileiras avançaram nos últimos 20 anos e, por isso, não acredita na repetição do nível de volatilidade observado em 2002, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito pela primeira vez.

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Naquele ano, o dólar subiu mais de 50% e bateu em quase R$ 4,00. O Ibovespa recuou 31,8% de janeiro a agosto e encerrou 2002 com queda de 17%. Como na época, Lula lidera as pesquisas de intenção de voto em 2022.

Attuch acrescenta, porém, que a realidade econômica do Brasil é outra. O volume de reservas internacionais é muito superior, o Banco Central é independente e em 2002 o país estava pendurado em empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI). “É um quadro completamente diferente”, declarou.

O risco político, segundo o CEO da Ohm Research, está muito mais nas atitudes do presidente Jair Bolsonaro (PL) este ano do que numa eventual vitória de Lula. Ele lembra que o mandatário causou grandes instabilidades no mercado em 2021 em suas tentativas de “comprar popularidade”.

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Foi assim com a troca de presidentes da Petrobras em meio à escalada dos preços dos combustíveis, o risco de furo do teto de gastos para transformar o Bolsa Família em Auxílio Brasil e a promessa de aumento aos policiais federais, que gerou protestos e ameaças de greve de outras categorias do funcionalismo público.

“O maior risco da eleição vem do Bolsonaro, que tem a caneta na mão, e daquilo que ele pode fazer fiscalmente”, disse Attuch.

Além disso, paira no ar o receio de o presidente não aceitar o resultado, caso derrotado no pleito, e se repita no Brasil o que se viu em janeiro de 2021, nos Estados Unidos, quando apoiadores do ex-presidente norte-americano Donald Trump invadiram o Congresso em Washington.

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“Se o ex-presidente Lula ganhar, como em 2002, ele pode tomar o violino com a esquerda e tocar com a direita. Há incentivos para que ele seja ortodoxo em 2023”, observou Attuch.

Na seara externa, os especialistas lembram que vai começar um ciclo de aumento de juros nos Estados Unidos, aliado à retirada de estímulos econômicos. Mesmo assim, há perspectivas de forte crescimento dos EUA e de outros países desenvolvidos. Lovisotto observa que, mesmo com o aumento, a taxa de juros real americana seguirá muito abaixo da brasileira. Isso pode amenizar eventual fuga de capitais.

Há expectativa também de aceleração da economia chinesa, depois de um 2021 conturbado pela política de tolerância zero contra a Covid-19, os gargalos de logística que afetaram cadeias de suprimento ao redor do mundo, as intervenções estatais em empresas privadas e o naufrágio da gigante do setor imobiliário Evergrande. “A China é uma das grandes apostas de 2022”, disse Attuch.

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Commodities, agronegócio e logística

Nesse sentido, os profissionais acreditam que o setor de commodities deve ser beneficiado, assim como as empresas brasileiras do setor listadas em Bolsa. Lovisotto cita como promissores segmentos como os de celulose, petróleo e mineração.

“Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3, PETR4) estão muito baratas. Os grandes bancos estão também muito baratos, e gostamos também das exportadoras”, comentou Attuch.

Na mesma linha, o agronegócio é visto com bons olhos. Ambos citaram a BrasilAgro (AGRO3), empresa que atua com imóveis rurais e produção de cana-de-açúcar, soja, pecuária, milho e algodão. Attuch falou também da Cosan (CSAN3) e Lovisotto, da São Martinho (SMTO3) – as duas do setor sucroalcooleiro.

A avaliação positiva para o agronegócio serve tanto para companhias que atuam diretamente na área como empresas que trabalham ao longo da cadeia, como fornecedoras de insumos e equipamentos.

“O agronegócio é o setor que carrega o Brasil nas costas”, comentou Attuch. “É um setor que dá para surfar de diferentes maneiras, e as possibilidades [na Bolsa] estão crescendo”, acrescentou Lovisotto.

Ainda no ramo agropecuário, Attuch diz que gosta do segmento de proteína animal, ou seja, dos frigoríficos, pois a demanda do mercado internacional é favorável. Lovisotto ressalta, no entanto, que se trata de uma área difícil em questões de governança.

Por ser uma atividade ligada ao agronegócio e pelas perspectivas de construção de ferrovias, Attuch vê positivamente o setor de logística. A Rumo (RAIL3) é uma empresa que já compôs as carteiras da Ohm e da Vinci, mas não mais.

Lovisotto citou também empresas em que a Vinci tem “posições relevantes” como a TIM (TIMS3) e o banco BTG Pactual (BPAC11). Ele recomendou ainda locadoras de veículos e empresas do ramo de saúde, nominalmente a Notre Dame Intermédica (GNDI3).

Investir aqui ou investir no exterior?

Independentemente do cenário econômico ou político, os especialistas indicam que os investidores diversifiquem seus portfólio com investimentos no exterior. A lógica é que ninguém deve colocar todo seu capital num lugar só, para mitigar riscos. Lovisotto recomenda, porém, evitar “movimentos bruscos”, como vender todos os papéis no Brasil para comprar lá fora e vice-versa, na tentativa de acompanhar o mercado. O ideal é balancear.

Attuch lembra que mesmo despesas comuns no Brasil são “dolarizadas”, como o pãozinho e a gasolina, pois trigo e petróleo são cotados na moeda americana e, em parte, importados. Ele indica que o investidor imagine ter “dois bolsos”, um com reais e outro com dólares ou outras moedas fortes, acompanhando as aplicações de cada bolso separadamente, sem dar tanto foco para comparações cambiais.

Na atual conjuntura, Attuch acredita que nos EUA haverá uma transição de investimentos em growth (crescimento) para value (valor). No primeiro caso, os investidores buscam ações de empresas que podem dar retornos acima da média. No último, a busca é por ações que estão subvalorizadas pelo mercado e têm condições de avançar.

Nesse sentido, ele acredita numa migração de recursos das “mega caps”, companhias com maior capitalização, como as grandes de tecnologia, para empresas tradicionais.

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Alexandre Rocha

Jornalista colaborador do InfoMoney