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Com três fundos congelados para resgates desde o dia 23, a gestora CTM Investimentos começou a desenhar alternativas para os seus cotistas. Os investidores do CTM Hedge Multimercado Fundo de Longo Prazo se reunirão em assembleia no dia 14 de agosto para decidir sobre o futuro da carteira – e a opção mais defendida pela gestora, que possui mais de R$ 525,7 milhões sob gestão, envolve a cisão e a criação de novo fundo para transferir as ações de baixa liquidez que causaram todo o problema.
O documento, obtido com exclusividade pelo InfoMoney, foi enviado na última sexta-feira (28) aos mais de 1 mil investidores do CTM Hedge. O fechamento para resgates ocorreu após o administrador – o Banco Daycoval – constatar que a carteira estava cada vez mais concentrada em ações de baixa liquidez, ao mesmo tempo em que os pedidos de resgate aumentavam.
Agora, a ideia defendida pela gestora é de que o CTM Hedge passe por um processo de cisão, com a criação de um novo fundo no formato de condomínio fechado e prazo de duração de até dois anos.
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Parte dos recursos dos cotistas seria transferida para a nova carteira. Assim, eles deixariam de ter recursos alocados apenas no CTM Hedge – fundo de condomínio aberto que realiza o pagamento dos resgates dois dias úteis após a cotização (D+2) – e passariam a ter recursos também no novo fundo, fechado. E nesse caso, as cotas só poderiam ser resgatadas ao término do prazo de duração do fundo e não seria mais permitida a entrada ou saída de investidores.
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No documento, a gestora enfatiza que a transferência para o novo fundo envolveria três ações de baixa liquidez: Energisa Matogrosso (ENMT3;ENMT4), Grupo Monteiro Aranha (MOAR3) e Trevisa Investimentos S.A. (LUXM4). Esses papéis correspondem a cerca de 38% do CTM Hedge.
“Todas essas empresas possuem seu valor estratégico com relevância no cenário nacional”, defendeu a casa na proposta aos cotistas.
Criado o novo fundo, a gestora destaca que a ideia é desmontar as posições nas companhias de baixa liquidez ao longo do tempo por meio de operações de venda em bloco (block trade) no mercado ou com os próprios controladores, em momentos em que as condições de mercado estiverem “normais” – e não nos períodos de estresse, com liquidação forçada.
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“À medida em que estas ações forem sendo vendidas, o capital será restituído aos cotistas. Estas companhias possuem um forte histórico de distribuição de dividendos aos seus acionistas. Desta forma, cada distribuição de dividendos será oportunamente utilizada para a amortização de cotas aos investidores”, destacou a gestora no documento.
Já a parte líquida da carteira permaneceria no fundo atual e o produto voltaria a permitir resgates, segundo a gestora. Se os cotistas optarem pela cisão do multimercado, a casa diz que o fundo ficaria fechado por até 60 dias.
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Neste ano, os papéis ordinários da Energisa apresentavam queda de 30% até a última sexta-feira (28), enquanto as ações preferenciais registram recuo de 27%. Já as ações do Grupo Monteiro Aranha caem 34%. O único papel que possui uma grande valorização é o da Trevisa, que avança 346% no período.
Segundo uma fonte ouvida pelo InfoMoney, o caso chama atenção porque em situações semelhantes o mais comum é que os gestores optem por vender os ativos líquidos para honrar os resgates e depois tentem vender os ilíquidos.
Na pauta da assembleia com cotistas marcada para dia 14 de agosto, às 17h, os investidores poderão votar também pela liquidação do fundo, reabertura ou manutenção do produto, além da substituição do administrador e do gestor.
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Na reunião, cotistas também poderão optar pela possibilidade de pagamento de parte do resgate em dinheiro. Segundo a CTM, o montante viria da venda dos ativos líquidos e da entrega dos ativos ilíquidos.
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O InfoMoney entrou em contato com a gestora, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.
Outros fundos da CTM
Além do CTM Hedge, outros dois fundos de ações da gestora também foram fechados no dia 23: o Ultra Performance CTM FIA BDR Nível I e o CTM Estratégia FIA BDR Nível I.
Em fato relevante, a casa utilizou os mesmos argumentos, destacando que uma parcela do patrimônio estava alocada em ações com “baixo volume de negociação e liquidez”.
De acordo com a carteira mais recente disponível no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que data de abril, a maior posição do CTM Hedge era em Energisa Mato Grosso (ENMT3), correspondente a cerca de 18% do portfólio, contando a alocação em ações ordinárias e preferenciais da empresa.
Outras ações como Trevisa, Mobly e Natura (NTCO3) também detinham percentuais mais relevantes do portfólio, com participação que variava entre 1,3% e 6,9%, segundo o documento da CVM.
Resgates
Dados levantados pelo Trademap a pedido do InfoMoney mostram que o fundo mais afetado por resgates foi o CTM Hedge, com saídas líquidas de R$ 27,8 milhões entre o início de janeiro e o dia 19 de julho. Já o CTM Estratégia teve resgates líquidos de R$ 1,4 milhão e o Ultra Performance, de R$ 3,2 milhões.
Também houve impacto no número de cotistas do CTM Hedge, que passou de 1.547 em dezembro de 2022 para 1.135 no dia 19 de julho.
Nos primeiros seis meses do ano, o fundo avançou 0,70%, bem abaixo dos 6,50% do CDI (taxa de referência da classe) no período.
A situação do fundo da CTM não é isolada. O retorno médio dos multimercados de gestão ativa no Brasil, medido pelo Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA), ficou em 3,76% nos seis primeiros meses do ano.
Já o CTM Estratégia e o Ultra Performance registraram perdas de 3,13% e de 8,54%, respectivamente. Ambos os percentuais são inferiores ao desempenho do Ibovespa, que subiu 7,61% no período.
Relatórios com o parecer do auditor dos três fundos disponíveis no site da CVM, que datam de dezembro de 2022, não demonstraram nenhum problema anterior.
No documento, a empresa de auditoria Deloitte informou que as demonstrações contábeis apresentavam “adequadamente”, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira do fundo em 31 de dezembro de 2022 e o desempenho de suas operações para o período de 20 de maio de 2022 a 31 de dezembro de 2022.
Também não havia nenhuma menção a problemas de liquidez nos ativos investidos pelos fundos, nem ressalvas feitas pelo auditor.
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