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SÃO PAULO – Depois da queda da taxa básica de juros, a Selic, para o patamar histórico de 2% ao ano em 2020, provocando uma debandada dos investimentos de renda fixa, o investidor brasileiro está voltando a enxergar boas oportunidades na categoria, especialmente no crédito privado. Com a expectativa de que haja uma nova oferta por dia de títulos emitidos por empresas privadas até o fim do ano, para todos os tipos de papéis e investidores, o tema entrou novamente no radar dos investidores.
“O mercado primário, até o fim do ano, provavelmente vai ‘bombar’, [com uma] base de uma oferta por dia, com perfis diferentes de ativos. Ativos de primeira linha, mais high yield, para investidor pessoa física e institucional”, afirmou Pedro Sturm, sócio e head da mesa institucional de crédito privado da XP.
Os especialistas em renda fixa apontam para uma curva ainda ascendente dos juros, estimando algumas novas altas nos próximos meses. Com isso, a tendência é de crescimento das oportunidades no mercado de renda fixa. Sturm aposta que até o fim do ano será possível recuperar os resgates realizados pelos investidores nos fundos de renda fixa ao longo de 2020.
Na virada do ano, segundo Sturm, o mercado acalmou os ânimos com relação à pandemia de coronavírus. “Houve uma melhora global, não só aqui no Brasil. Com a Selic na casa dos 6,25% ao ano, um patamar muito maior do que se chegou no ano passado, os ativos em renda fixa começaram a ficar bem atrativos” afirmou o executivo nesta quarta-feira (29) durante o painel “Cenário para crédito privado e oportunidade em títulos isentos de IR”, que fez parte da programação da Semana da Renda Fixa, promovida pela XP.
“O fluxo de captação, desde abril, já recuperou praticamente tudo o que a indústria perdeu no ano passado, R$ 65 bilhões. Em setembro, fechamos com R$ 60 bilhões em captação e a tendência é captar mais até o fim do ano”, disse
Sturm observou uma tendência nas novas emissões de crédito privado no mercado brasileiro. “Hoje, as operações são muito mais longas. Há um tempo, víamos operações [com vencimento] em três anos, no máximo até cinco anos, no mercado institucional. Evoluímos para sete anos, e agora já conseguimos fazer emissões de dez anos”, disse o executivo.
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Para ele, é evidente o aumento da confiança na saúde financeira das empresas para alongar os prazos de dívida, via debêntures. “Vemos operações de bonds, que são as debêntures lá fora [no exterior], em uma tradução livre, em operações perpétuas. Praticamente toda grande operação de uma empresa super conhecida tem vencimento de 30 a 50 anos. Então é algo relativamente normal”, diz.
Outra característica do mercado de renda fixa, ainda pouco conhecida pelos investidores, é o dinamismo na oferta de oportunidades mesmo em momento de estresse. Marcos Rodrigues, head de produtos de renda fixa da XP, destacou que mesmo em momento de redução de taxa de juros ou em cenários de crise global os investidores buscam alternativas dentro da classe de renda fixa.
“Isso pode parecer improvável em momentos de baixa de taxa de juros, mas vemos um incremento de investimento em renda fixa, buscando um outro tipo de indexador, operações com inflação e operações de crédito privado, que ainda é uma classe muito nova no Brasil”, afirmou.
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De volta aos números de 2019
Com a perspectiva de estabilização do cenário e o retorno das aplicações para o mundo dos fundos, os especialistas em renda fixa vislumbram uma retomada mais forte do mercado primário de crédito privado até o fim de 2021. Rodrigues observa que a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostra que os números de 2021 vão se igualar aos de 2019.
“Em 2021, a perspectiva é de uma retornada muito forte do mercado primário de crédito privado. Mantivemos o mercado secundário tão ativo quanto tínhamos antes da crise da pandemia. E voltamos com o mercado primário extremamente forte”, disse. Em 2019, segundo ele, as emissões de debêntures chegaram a R$ 180 bilhões, um recorde histórico no mercado brasileiro. Neste ano, até agosto, o volume já se aproximava de R$ 120 bilhões.
A expectativa de alta no mercado primário até o fim do ano também conta com o fator de sazonalidade. Rodrigues diz que o mercado de crédito privado costuma ficar mais aquecido no último trimestre.
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“O crédito privado corresponde às dívidas emitidas pelas empresas para o financiamento de suas operações. Essas empresas acabam emitindo as dívidas no final do ano para desenharem o planejamento do ano seguinte e conseguirem apresentar os números de balanço para auditoria e para os investidores”, explicou. “Então, é natural que o último trimestre do ano tenha maior volume de disponibilidade de ofertas públicas”.
O investidor amadureceu
A parcela dos investidores que começam a analisar oportunidades mais sofisticadas de aplicação em crédito privado é crescente. Rodrigues observou que esses investidores estão admitindo assumir um pouco mais de risco para obter mais retorno.
“Esse tipo de investidor se arrisca mais e usa o time de assessoria para tirar dúvidas mais profundas. Ele está disposto a baixar a régua da robustez de crédito em troca de mais retorno”, afirmou. É o que o executivo chama de “segunda fase do investidor”. “Ele já passou pelas etapas de comprar crédito privado, teve uma experiência adequada, tem uma relação próxima com o assessor e dá o próximo passo. Faz a curva de aprendizagem dentro processo de alocação”, disse.
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Para Rodrigues, não existe um único produto adequado para todo mundo – cada investidor tem um perfil próprio de risco e o momento mais conveniente para fazer sua própria alocação.
“De uma maneira geral, a maioria dos investidores está começando a conhecer a classe de crédito privado. Preferem ativos de perfil de crédito com melhor rating, deixando um pouco de remuneração na mesa para ter um perfil de crédito mais sólido”, afirmou. “O cliente prefere uma empresa com nome familiar, que esteja no dia a dia dele, como uma rede de varejo regional ou uma concessionária de energia”.