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SÃO PAULO – Com riscos fiscais e políticos tirando o sono dos investidores no Brasil, alternativas no mercado global, com especial destaque para ações de tecnologia nas bolsas nos Estados Unidos, têm despertado cada vez mais a atenção dos brasileiros.
Declarações recentes de grandes gestores de fundos multimercados têm sido feitas nesse sentido, com uma clara predileção pelas oportunidades internacionais, em detrimento aos ativos domésticos.
“Nesse momento, vemos um nível de oportunidade no mercado americano como não víamos há muito tempo”, afirmou Márcio Appel, sócio fundador e CEO da Adam Capital, durante o evento Expert XP, na semana passada.
Não por acaso, no mercado de ETFs, fundos que se propõem a acompanhar a variação de grandes índices de ações e renda fixa, têm caído no gosto popular veículos que seguem benchmarks globais.
Dados da B3 mostram que, em julho, dos 45 ETFs de renda variável no mercado local, o ETF IVVB11, da BlackRock, que replica o desempenho do índice S&P 500, foi o terceiro mais negociado, atrás apenas dos ETFs BOVA11 e BOVV11, que espelham a performance do Ibovespa.
Entre os dez ETFs de maior negociação em julho, se destacam ainda o XINA11, que acompanha o MSCI China, além do HASH11, de criptomoedas, e do GOLD11, que acompanha a cotação do ouro.
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O HASH11 já é o segundo maior em número de cotistas na B3, com 132,1 mil investidores em julho, atrás apenas do IVVB11, com 165,7 mil. O BOVA11, por sua vez, tinha 114,5 mil cotistas no período.
Diversificação geográfica
“O tema mais interessante que tem surgido entre os ETFs é o da diversificação geográfica, mesmo porque, até pouco tempo atrás, esse tipo de investimento era acessível apenas por investidores com grandes valores”, afirma Orlando Bachesque, sócio do escritório de agentes autônomos Alta Vista Investimentos.
Na mesma linha, Danilo de Souza Gabriel, gestor da XP Asset, lembra que, em um cenário local com incertezas sobre os rumos da política e do quadro fiscal, é fundamental que o investidor tenha algum tipo de exposição global, e a custos baixos como é o caso dos ETFs.
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Gabriel lembra que as principais alternativas no radar dos gestores de mercado estão hoje acessíveis por meio dos ETFs, caso do NASD11, que acompanha as principais ações de tecnologia negociadas na Nasdaq, do EURP11, dedicado à Europa, ou o XINA11, de China. E, caso o investidor queira algum tipo de proteção para a carteira, pode comprar o GOLD11, afirma Gabriel, lembrando que, para fazer os investimentos nos ETFs, os valores mínimos de aplicação oscilam dentro de uma banda que começa ao redor de R$ 10, chegando até cerca de R$ 100.
Lucas Collazo, especialista em investimentos na Rico, diz que na carteira recomendada aos investidores, os ETFs ACWI11 e EURP11 têm hoje lugar de destaque dentro do espaço destinado para investimentos globais de caráter indexado.
“A diversificação geográfica é fundamental para o portfólio, e vai ser mais ainda em 2022 por ser um ano eleitoral”, diz Collazo, que faz menção ainda aos BDRs de ETFs, instrumento que passou a ser disponibilizado no mercado local no ano passado, que também oferece ao investidor a exposição a índices globais.
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Hoje já são quase 70 BDRs de ETFs globais na B3, dedicados a bolsas regionais de países específicos, como Alemanha, França e Espanha, e a temas, como biotecnologia e saúde.
Collazo ressalta que tanto os ETFs que acompanham índice globais, como os BDRs de ETFs, estão expostos à variação do câmbio, o que pode ajudar na diversificação do portfólio também via moedas, diz o especialista. Em 2021, até 30 de agosto, embora sob intensa volatilidade no meio do caminho, a moeda americana está quase estável, com desvalorização de 0,2% frente ao real no período.
Bachesque, da Alta Vista, assinala ainda que o aumento da concorrência observado recentemente, com o lançamento de ETFs cada vez mais baratos, tem criado boas oportunidades para o investidor. “Na carteira recomendada aos investidores de perfil moderado, exposições indicadas pelo trabalho de asset alocation em ouro, exterior e emergentes, podem ser replicadas no portfólio por meio dos respectivos ETFs disponíveis hoje na B3”, diz o especialista.
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Para Alexandre Brito, sócio da área de wealth da Finacap Investimentos, os ETFs de renda fixa, como o IMAB11, do Itaú, podem ser uma boa opção aos investidores em busca de exposição à renda fixa indexada à inflação, dentro de uma diversificação ampla da carteira por meio das principais classes de ativos. Saiba mais sobre o investimento em ETFs e fundos de renda fixa aqui.
China
É bem verdade que, assim como no Brasil, o ambiente global tem também seus desafios. Na China, as restrições que vêm sendo impostas às empresas pelo governo local têm derrubado a cotação das ações, que se reflete na queda de 13,6% do XINA11 em 2021, até julho.
No entanto, em um horizonte maior de tempo, a expectativa de especialistas globais do mercado é de uma participação crescente dos papéis de companhias chinesas no portfólio dos investidores.
Apesar das incertezas sobre o aumento da regulação estatal na região, Manny Roman, CEO da PIMCO, entende que, mirando em um horizonte de 30 anos, os investidores globais de modo geral terão uma exposição maior ao mercado chinês.
“De um jeito ou de outro, todos teremos mais dinheiro em China”, disse o executivo, à frente da gestora americana com US$ 2,3 trilhões em ativos sob gestão, durante participação na Expert XP.
Leia mais:
• Como investir em ETFs: Um guia sobre fundos de índices e como funcionam
Para Gabriel, da XP, o movimento de queda do XINA11 é fruto de uma correção natural nos mercados de risco. Ele lembra que o ETF de China é o de maior patrimônio entre os produtos do tipo na grade da gestora, tendo alcançado volume de cerca de R$ 550 milhões em pouco mais de um ano desde seu lançamento, em junho de 2020.
Junto ao ETF dedicado às empresas da segunda maior economia global, os fundos de índices que acompanham as ações nas bolsas europeias e a cotação do ouro também têm despertado bastante interesse dos investidores, aponta Gabriel. “No cenário internacional, a XP tem tentado incluir as principais geografias possíveis no radar dos investidores”, diz o gestor.
HASH11
No escritório Blue3, Antonio Pedrolin, líder da mesa de renda variável, diz que os ETFs que seguem o Ibovespa respondem ainda com folga pela maior demanda que chega por parte dos investidores.
“Com as quedas recentes do Ibovespa, o BOVA11 se tornou uma ótima oportunidade de entrada, com o investidor se expondo a uma bolsa com boas empresas e lucros fortes a níveis descontados”, afirma Pedrolin.
Ele diz ainda que o HASH11, impulsionado pelo interesse crescente em torno das criptomoedas, já desponta como uma opção que começa a ser cada vez mais procurada.
“Acredito que é o ETF que mais deve crescer em termos de procura nos próximos meses. Quem não tem posição [em HASH11] está interessado em saber como montar”, diz Pedrolin, acrescentando que, até pela incerteza que paira sobre esse nicho de mercado, a recomendação é que a exposição em cripto venha mais como um complemento e não como o principal investimento na carteira do investidor.
Bachesque, da Alta Vista, destaca que, ao investir por meio do ETF de criptomoedas, o investidor se expõe a um mercado que não conta com regulação, mas acrescenta algum nível de proteção ao alocar por meio de um instrumento que é supervisionado pela CVM e pela B3.
Desde que o primeiro ETF de cripto foi lançado no mercado local, em abril, outros quatro fundos que acompanham o desempenho de benchmarks referenciados em criptoativos já foram lançados.
Demanda
Com investidores atraídos por um número crescente de opções, o mercado de ETFs no Brasil está em franco crescimento.
Em dezembro de 2020, eram cerca de 240 mil investidores com ETFs na carteira, segundo dados da B3. Em julho, o número saltou para 460 mil, sendo que, desse total, perto da totalidade (453 mil, ou 98,5%) é formada por pessoas físicas.
“Os ETFs estão cada vez mais líquidos, atraindo cada vez mais atenção, em um ciclo virtuoso”, diz Gabriel, da XP.
Já o patrimônio da indústria, que era de R$ 38 bilhões em 2020, soma hoje cerca de R$ 47 bilhões. Do volume financeiro total, a maior parte (R$ 35 bilhões) está nas mãos de investidores institucionais. As pessoas físicas respondem por R$ 10 bilhões.