Gestores de private equity debatem crescimento acelerado de empresas na Bolsa e defendem etapa anterior ao IPO

Martin Escobari, da General Atlantic, Ricardo Scavazza, do Pátria, e Chu Kong, da XP Inc., participaram de painel da Expert XP nesta quarta-feira (25)

Mariana Zonta d'Ávila

(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)
(Arte: Leonardo Albertino/InfoMoney)

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SÃO PAULO – O ano é 2021, os juros começaram o período no menor patamar histórico, de 2%, e as empresas ampliaram o movimento de ida ao mercado de capitais para levantar recursos e se financiar. Até agora, já são mais de 30 ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) na Bolsa brasileira, com empresas dos mais diversos setores da economia, do financeiro ao agronegócio e à tecnologia. Mas em meio a este movimento de tantas novas companhias na B3, será que todas estão indo a mercado no momento certo?

A dúvida foi levantada nesta quarta-feira (25), durante painel da Expert XP. Na avaliação de Martin Escobari, co-presidente da General Atlantic, podemos estar caminhando para cometer os mesmos erros de 2007 – ano em que a B3 registrou o maior número de IPOs e depois praticamente fechou a janela para outras aberturas de capital.

Escobari chamou atenção para o grande número de investidores pessoas físicas hoje na B3 e as mais de 500 empresas listadas, muitas delas tendo estreado na Bolsa nos últimos 18 meses – reabrindo uma janela de IPOs que por muito tempo ficou fechada.

Neste contexto, ele considera que algumas empresas não estão maduras e preparadas o suficiente para ir a mercado. “Tem tantas empresas querendo pegar um atalho que saem IPOs prematuros e alguns não dão certo. E esse insucesso da minoria faz com que a janela se feche e impeça uma janela aberta todos os anos, o que seria importante para o mercado”, afirmou.

Segundo ele, as empresas precisam acessar o mercado de capitais no momento certo. “Só tem uma oportunidade de fazer uma primeira boa impressão no mercado. E se ela for ruim, é muito difícil de ser recuperada”, disse Escobari.

Esse “corte de caminho” seria, por exemplo, não contar com a ajuda de um fundo de private equity.

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Segundo Ricardo Scavazza, CEO e CIO do Private Equity Pátria, que também participou do painel, empresas que participam de fundos de private equity antes do IPO tendem a apresentar melhores desempenhos. “Isso porque foi feita a lição de casa, a empresa estudou para essa operação por alguns anos e está mais preparada para abrir capital”, disse.

Na visão de Scavazza, não há uma concorrência entre a Bolsa e os fundos de private equity, mas uma complementariedade. “Os dois setores estão ligados e somos torcedores do mercado de capitais, uma vez que isso só fortalece mais a indústria”, afirmou.

A avaliação é compartilhada por Chu Kong, sócio e head de private equity da XP Inc., que também diz torcer para um mercado de capitais pujante, permitindo potencial de alta para os ativos financeiros. O ponto de preocupação, segundo ele, recai sobre uma concorrência no que diz respeito a valuations.

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“Queremos entrar antes para criarmos valor para a empresa – e isso precisa de um upside, um prêmio que estamos buscando para o valuation da companhia. Dito isso, quando a empresa vai direto para a Bolsa, ela está cortando um caminho, deixando de lado as estratégias que podem maximizar o negócio e a governança”, afirmou durante o painel da Expert.

Setores preferidos na bolsa

Na avaliação de Scavazza, do Pátria, as maiores oportunidades hoje no mercado de ações da América Latina estão nos setores de saúde, agronegócio, consumo básico (alimentos e bebidas), bem como no de serviços, caso da logística.

Com um fundo de R$ 14 bilhões voltado para a América Latina, a General Atlantic investe hoje nos setores de tecnologia, serviços financeiros e saúde, sempre com viés de crescimento e inovação.

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Já no fundo de private equity da XP, Kong destacou a mudança dos hábitos de consumo desde o começo da pandemia, com avanço de negócios digitais.

Segundo ele, os investidores podem seguir os setores tradicionais na bolsa, desde que foquem em modelos de negócios que possam ser alavancados por uma nova base tecnológica, como beleza, saúde, estética e alimentação fora do lar.

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A alta volatilidade do mundo cripto

Com relação às criptomoedas, que têm ganhado atenção e espaço na carteira de investidores ao redor do mundo, os gestores compartilham da visão de que é um ativo bastante volátil e que não confere reserva de valor.

“As criptos, o ouro e os diamantes têm em comum que são bonitos de olhar, mas não têm um uso intrínseco”, avaliou Escobari, da General Atlantic.

Ainda que as moedas digitais sejam hoje um fenômeno e algum dia sejam reguladas, o executivo tem adotado uma postura mais cética com relação ao mercado de compra e venda de criptos.

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Já Kong, da XP, reconheceu que, por ser um gestor de private equity que capta recursos no varejo, os riscos de se investir em cripto acabam sendo mais elevados. “Tenho o dever fiduciário, uma responsabilidade enorme, então preciso ser mais conservador. E quando olhamos para as criptos, são ativos sem lastro, sem reserva de valor – e isso embute mais volatilidade”, disse.

Ele destacou, por exemplo, as variações de preços da ordem de 30% em um único dia, que tendem a assustar o investidor do varejo. “Prefiro ser mais conservador e esperar o momento certo para investir.”

A avaliação é compartilhada por Scavazza, do Pátria, que diz ver diversas aplicações tecnológicas para o blockchain, mas que, devido à maior volatilidade, as moedas digitais acabam atraindo um investidor com viés mais especulativo.