Colunista InfoMoney: Gurus e Analistas. Quem compra?

É muito confortável para a consciência de uma pessoa seguir as orientações de alguém que ela julga saber mais (ou ter maior informação)

João Alberto Brando

Duas semanas atrás fui entrevistado pela InfoMoney para opinar sobre a atitude de alguns investidores de sempre seguir o que os gurus do investimento fazem e o que os analistas recomendam. Questionaram-me qual seria o motivo dessa obsessão, qual seria uma maneira mais racional de utilizar os relatórios elaborados pelos analistas e quais as alternativas para alguém tomar decisões de investimento sozinho.

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Respondi que é muito confortável para a consciência de uma pessoa seguir as orientações de alguém que ela julga saber mais (ou ter maior informação). Se o investimento der certo, ela é esperta. Se der errado, ela culpa o sujeito que a orientou.

Conselhos de gurus são pouco eficazes. A lista de novos milionários não guarda relação com o número de livros vendidos pelos gurus. Isso me leva a crer que o guru ou aconselha deliberadamente de forma errada ou simplesmente suas estratégias não funcionam fora do contexto no qual elas uma vez funcionaram para ele.

“Conselhos de gurus são pouco eficazes”

Quanto às dicas dos analistas deve-se ter ciência que tratam-se de recomendações. Os analistas elaboram seus modelos, adotam suas premissas e chegam a um valor para a companhia analisada. Trata-se de um valor justo de mercado, um preço teórico, dada as premissas adotadas. É, portanto, muito pretensioso chamar isto de preço-alvo da ação. A ação no mercado só chegará a este valor se todos os agentes concordarem com as premissas assumidas pelo analista, algo pouco provável.

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Daí a importância de se dar ampla divulgação às premissas consideradas em cada análise. Todos os analistas que conheço são muito bons e competentes tecnicamente, mas isso de nada adianta se eles não tiverem bom senso e não forem bem assessorados na adoção de suas premissas.

No que tange os relatórios dos analistas de mercado, suas análises são boas e interessantes. Como geralmente estes profissionais estudam um pequeno número de setores, eles se tornam especialistas naqueles sob sua responsabilidade o que enriquece as análises.

O que há de mais útil nestes relatórios não é o preço-alvo de cada ação, mas sim a tendência do mercado no qual a empresa está inserida e como na visão do analista a companhia terá condições de aproveitar estas tendências para gerar valor a seus acionistas. Ou seja, associado a um estudo de mercado existe toda uma análise de riscos e oportunidades de se investir na empresa.

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Com posse deste tipo de informação o investidor passa a se interessar não pela companhia cujo preço justo de mercado esteja mais descolado do preço atual, mas por aquela que terá melhores condições de atingir este preço teórico. Isto é, aquelas empresas cujas análises assumem premissas que o investidor julgue mais factível serem concretizadas.

Na ausência de relatórios, os recursos disponíveis para um pequeno investidor tomar decisões seriam as fontes primárias que os analistas usam: projeções macroeconômicas de bancos ou consultorias, notícias e informações setoriais, que geralmente são feitas por associações da indústria, consultorias ou mídia especializada, e informações junto à própria empresa sob análise. O departamento de relações com investidores serve justamente para isso.

João Alberto Peres Brando é economista e escreve mensalmente na InfoMoney, às sextas-feiras.
joao.brando@infomoney.com.br

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