Cenário segue desafiador para setor hoteleiro, mas turismo de lazer já se recuperou, dizem especialistas

Retomada não deve se dar antes do segundo semestre de 2021; já em resorts fora das capitais, "vai faltar quarto"

Lucas Bombana

SÃO PAULO – Com a população confinada dentro de casa por conta da pandemia, o setor hoteleiro acabou sendo um dos mais penalizados financeiramente, em especial no caso dos empreendimentos em grandes capitais voltados para o turismo de negócios. E na avaliação de especialistas que atuam no segmento, a retomada não deve se dar antes do segundo semestre de 2021.

No caso dos resorts em cidades interioranas voltados para o lazer das famílias, por outro lado, a demanda tem voltado, e de maneira vigorosa, a ponto de permitir reajustes de até 15% nos preços cobrados pelos quartos, na comparação com igual período do ano passado.

Apesar dos momentos bastante distintos, gestores acreditam que, em ambos os casos, haverá um processo de consolidação nos próximos anos, acelerado pela pandemia, com os grandes conglomerados absorvendo os concorrentes de menor capilaridade.

Diogo Canteras, fundador da HotelInvest e gestor do fundo imobiliário Hotel Maxinvest, que investe primordialmente em hotéis da capital paulista, é um dos que está de olho em oportunidades em ativos descontados no segmento.

“A hora de comprar pela metade do preço é agora”, afirmou o especialista na noite desta quarta-feira (23), durante o evento FII Summit. “O mercado hoteleiro, tanto na área de lazer quanto na de negócio, tem oportunidades espetaculares para serem aproveitadas”, emendou o gestor, que está com bala na agulha.

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O fundo imobiliário de hotéis dispõe atualmente de uma reserva de liquidez de aproximadamente R$ 4,5 milhões, utilizada normalmente para melhorias e reparos rotineiros nos empreendimentos que compõem o portfólio.

Cerca de R$ 800 mil desse montante, contudo, será extraordinariamente direcionado em 2020 para arcar com os prejuízos que o especialista calculou para os hotéis sob sua administração, causados pelo isolamento social. O valor a ser aportado significa, contudo, apenas 0,5% dos ativos do fundo. “É pouco relevante para o total do patrimônio.”

Na avaliação do gestor, os empreendimentos hoteleiros devem conseguir estancar a sangria entre outubro e novembro, mas com uma geração de caixa de volta ao campo positivo de maneira consistente somente em meados de 2021.

“Provavelmente vamos falar de distribuição de resultados aos cotistas do meio do ano que vem para frente”, disse o gestor.

Pelo cenário desafiador que se desenha no curto prazo, o fundo imobiliário gerido por Canteras acumula uma queda de quase 40% em 2020, até 22 de agosto, e é negociado com um desconto de cerca de 20% em relação ao valor patrimonial.

Em busca do novo equilíbrio

Já o CEO da rede Atlantica Hotels, Eduardo Giestas, afirmou que tem trabalhado para encontrar um meio de tornar a operação dos empreendimentos menos custosa.

Segundo Giestas, para tornar o negócio lucrativo, os hotéis precisam ter uma ocupação entre 30% a 50%. “Estamos estudando maneiras para alcançar o ponto de equilíbrio com um nível de ocupação menor”, afirmou o executivo, que ressaltou a importância de um modelo mais “leve”, diante das perspectivas ainda pouco animadoras para os grandes centros urbanos onde estão concentrados os hotéis da Atlantica.

O mercado de São Paulo, por exemplo, que é o mais importante para os resultados do grupo, disse Giestas, sofre tanto pela queda das viagens de negócios, como pela redução do turismo gerado por grandes eventos culturais e esportivos, que seguem suspensos.

O CEO reconheceu ainda que, diante do prognóstico, aportes financeiros dos stakeholders se farão necessários. “Haverá chamada de capital, não tem jeito, será necessário, o investidor tem que estar preparado para isso”, afirmou Giestas, que fez ainda um apelo aos pares, de modo a evitar uma guerra de preços no setor.

Reduzir os valores neste momento, disse, não vai resultar em uma demanda muito maior. “Mexer em preço só vai jogar o ponto de equilíbrio mais adiante.”

Assim como o gestor do Maxinvest, o CEO da rede Atlantica Hotels afirmou que a estratégia de crescimento inorgânico, via aquisição de operadoras de menor porte, também é uma das principais apostas da casa.

Os hotéis independentes, que não fazem parte de nenhum grande grupo hoteleiro, afirmou, ainda respondem por cerca de 60% dos quartos disponíveis no país. Dos 13 hotéis que planeja estrear em 2020, ante uma estimativa anterior pré-pandemia de até 20 inaugurações, sete devem ser de conversões de hotéis independentes, disse o executivo. “Esse é um trabalho constante que fazemos, temos cerca de 100 conversas em andamento.”

Escassez de dormitórios

Em uma situação já bem mais confortável que os pares, Fabio Godinho, CEO da GJP Hotels & Resorts, afirmou que a demanda pelo turismo de lazer em cidades fora das capitais está retomando nos últimos meses em um ritmo até mais acelerado do que ele próprio imaginava.

Com resorts em cidades como Porto de Galinhas (PE), Foz do Iguaçu (PR) e Gramado (RS), Godinho afirmou que os preços dos quartos já vêm sendo reajustados entre 5% a 15%, na comparação com o mesmo período do ano passado, principalmente em datas comemorativas.

Segundo o especialista, o receio que persiste na maior parte da população, de ficar confinado por horas a fio dentro de um avião com centenas de pessoas para viajar para fora do país, bem como o dólar nas alturas, são fatores que têm contribuído para uma demanda crescente dos brasileiros por viagens dentro do país.

“Vai faltar quarto”, projetou o executivo, com base na quantidade de reservas que estão entrando para o Natal e o Réveillon nos empreendimentos da GJP, criada em 2005 por Guilherme Paulus, empresário que também fundou a CVC.

Em linha com os colegas, Godinho disse que também tem monitorado o mercado em busca de aquisições, de concorrentes em uma situação fragilizada por conta da pandemia, mas com potencial de crescimento na retomada. “O mercado hoteleiro ainda é muito fragmentado, e temos olhado oportunidades no sentido de consolidação.”

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