Cenário atual é “desculpa perfeita” para mudar meta de inflação, diz Xavier: “Se fosse 4%, juro estaria caindo”

Para gestor da SPX, inflação deve permanecer mais alta por uma janela de tempo maior, o que pode tornar a meta de inflação atual obsoleta

Lucas Collazo

Rogério Xavier, da SPX (divulgação/XP)
Rogério Xavier, da SPX (divulgação/XP)

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A inflação deve permanecer mais alta por uma janela de tempo mais longa – e não apenas no Brasil, como no mundo todo. Por isso, a meta de inflação atual pode se tornar obsoleta, pedindo não apenas uma revisão, mas uma alteração mais profunda.

A opinião é de Rogério Xavier, um dos mais reconhecidos gestores de fundos do Brasil. Em entrevista ao podcast Stock Pickers, que vai ao ar nesta quinta-feira (22), o sócio-fundador da gestora SPX Capital não poupou críticas à condução da política monetária no Brasil. Inscreva-se no canal do Stock Pickers no YouTube para acompanhar.

“O Brasil vai buscar o seu menor patamar de inflação da vida no momento em que o mundo está indo para uma inflação mais alta? Qual o custo disso para a sociedade?”, disse o gestor. É uma crítica construtiva, segundo ele, que busca abrir a mente da discussão sobre a meta.

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Sua visão é de que o cenário atual, após todas as consequências da pandemia de coronavírus, cria a oportunidade perfeita para uma alteração. O setor de serviços deve seguir pressionando para cima a inflação – que talvez não se mantenha no patamar atual, mas deve, de maneira geral, ser persistentemente mais elevada daqui para frente.

Sobre as expectativas futuras de inflação, “o mercado não é bobo”, disse Xavier para iniciar a sua argumentação. A questão da alteração (ou não) da meta não é o único pilar para a formação das expectativas.

Para Xavier, o mercado já enxerga uma inflação persistente à frente. Fora isso, a troca de comando do Banco Central – hoje sob a batuta de Roberto Campos Neto – é iminente, e os investidores não dão o benefício da dúvida ao PT como davam a Paulo Guedes, ministro da economia no governo de Jair Bolsonaro. A culpa disso, na visão do gestor, é do próprio PT.

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Ou seja, é uma conjunção de fatores estruturais de mercado de trabalho mais apertado e serviços segurando a inflação, com a troca de mandato de política monetária no Brasil que geram as expectativas atuais para a inflação. Porém, para Xavier, Campos Neto “força a mão” ao acreditar que apenas a discussão sobre a meta vai alterá-las.

Na entrevista, o gestor afirmou que trazer a meta para 2% não mudaria muita coisa, pois as expectativas são racionais. Testar patamares mais altos do que os atuais, em sua visão, seria o melhor, já que a alteração para 4% parece ser distante.

“Tenho a impressão que estão enganando o Ministro [Fernando Haddad]”, disse Xavier, concluindo o raciocínio sobre a meta de inflação. Acreditar que deixar a meta em 3% vai levar as expectativas do mercado – hoje girando em torno de 4% – é errado, não vai acontecer, afirmou.

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Sua opinião é de que os juros já deveriam estar caindo no País. O custo financeiro está “desnecessariamente alto”, baseado em modelos que “erraram brutalmente” quando estabeleceram a taxa de juros basal em 2% ao ano, numa meta de inflação que deveria ser alterada para patamares mais aceitáveis quando comparadas ao histórico brasileiro, defendeu.

“Se a meta estivesse em 4% ao ano, os juros já estariam caindo”, disse na entrevista.

Ao mesmo tempo, afirmou que Campos Neto é alguém aberto ao debate que fez boas entregas à frente do Banco Central – mas errou na condução da política monetária, e deveria assumir esse erro.

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Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney