CDB hoje: taxas sobem para 121% do CDI e papéis atrelados à inflação pagam até 7,10%

Queda dos juros futuros e problemas envolvendo duas financeiras impulsionaram retornos para cima nos últimos dias

Bruna Furlani

(Gustavo Mellossa/Getty Images)
(Gustavo Mellossa/Getty Images)

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As expectativas em torno da apresentação de uma âncora fiscal crível para o País, além da percepção de que há chances de antecipação do ciclo de corte de juros pelo Banco Central, levaram à queda no mercado de juros futuros nos últimos dias.

Apesar desse movimento – ou justamente por causa dele – houve uma elevação da remuneração oferecida nos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) na última quinzena, indica um levantamento quinzenal feito pela Quantum Finance, a pedido do InfoMoney.

Entre os dias 28 de fevereiro e 13 de março, os juros máximos entregues por CDBs atrelados ao CDI (taxa de referência da renda fixa) chegou a 121% do CDI, acima dos 115% do CDI vistos na quinzena anterior, entre os dias 14 e 27 de fevereiro.

Uma das explicações é que a queda dos juros futuros faz com que os títulos atrelados ao CDI precisem pagar agora um pouco a mais para oferecer o mesmo retorno para os investidores. Isso leva ao aumento das taxas dos papéis, conforme o coordenador da mesa de renda fixa da XP, Leonardo Fontanezi. “É um movimento natural”, diz.

Fora isso, a liquidação extrajudicial de duas financeiras de pequeno porte – BRK Financeira e da Portocred Financeira – em fevereiro também pode ter afetado o nível das taxas, na visão do sócio e gestor de portfólio da G5 Partners, Phillip Macedo.

Quando a percepção de risco do mercado aumenta, a tendência é de que as taxas oferecidas em novas emissões subam também, diz o gestor. “Os bancos e financeiras, que concorriam nesse nicho de mercado, precisam oferecer taxas mais altas pra voltar a atrair clientes e chamar atenção pra essas captações”, destaca Macedo.

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As taxas médias (soma dos retornos dos títulos para um determinado prazo dividida pelo número de papéis disponíveis para aquele vencimento) dos papéis atrelados ao CDI também avançaram, na maior parte dos prazos.

A maior alta foi registrada pelos papéis com prazo de 24 meses: os juros médios saíram de 100,17% do CDI para 102,34% do CDI. Já o retorno máximo para esse prazo chegou a 111% do CDI, valor que era pago por um título emitido pelo Haitong Banco de Investimentos do Brasil.

Retornos brutos de CDBs indexados ao CDI (de 28/02 a 13/03)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 %CDI 97,50% 101,15% 104,50%                               18 BANCO ABC BRASIL
6 %CDI 97,50% 101,15% 115,00%                               57 ESTRELA MINEIRA FINANCEIRA
12 %CDI 90,00% 100,83% 121,00%                               80 ESTRELA MINEIRA FINANCEIRA
24 %CDI 98,00% 102,34% 111,00%                               50 HAITONG BANCO DE INVESTIMENTOS DO BRASIL
36 %CDI 100,00% 103,98% 112,00%                               64 HAITONG BANCO DE INVESTIMENTOS DO BRASIL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda

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CDBs atrelados à inflação

Também houve elevação nos retornos de CDBs indexados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Entre os dias 28 de fevereiro e 13 de março, a rentabilidade real máxima entregue por papéis com vencimento a partir de 36 meses saltou de 5,55%, no levantamento anterior, para 7,10% ao ano. O CDB que oferecia tal retorno era do Haitong Banco de Investimentos do Brasil.

O mesmo movimento ocorreu com as taxas médias reais entregues por produtos com vencimento a partir de 36 meses, que subiram de 5,45%, entre os dias 14 e 27 de fevereiro, para 6,61% ao ano no levantamento atual.

Retornos brutos de CDBs indexados à inflação (de 28/02 a 13/03)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
12 IPCA 6,24% 6,24% 6,24%                                 1 BANCO BTG PACTUAL
24 IPCA 5,05% 6,48% 6,90%                               50 HAITONG BANCO DE INVESTIMENTOS DO BRASIL
36 IPCA 5,15% 6,61% 7,10%                               57 HAITONG BANCO DE INVESTIMENTOS DO BRASIL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda

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Avanços também aconteceram nos retornos oferecidos por CDBs com vencimento em 24 meses, em que a taxa real mais elevada subiu de 5,30% para 6,90% ao ano.

Nas últimas semanas, as projeções dos economistas consultados pelo Banco Central para o IPCA passaram por nova piora.

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Para este ano, o Relatório Focus do Banco Central indicou que as expectativas para a inflação oficial saltaram de 5,79%, há cerca de um mês, para 5,96% nesta semana. Revisão também nos números de 2024, 2025 e 2026, que passaram de 4,00%, 3,60% e 3,50%, respectivamente, para 4,02%, 3,80% e 3,79% em quatro semanas.

CDBs prefixados

A maior parte das taxas oferecidas por prefixados também registrou alta na última quinzena. No caso de papéis com vencimento a partir de 36 meses, o juro máximo saiu de 13,67%, entre os dias 14 e 27 de fevereiro, para 14,75% ao ano no levantamento desta quinzena.

A elevação mais expressiva ocorreu nos papéis com prazo de 24 meses, em que o retorno máximo chegou a 13,80% ao ano, contra 13,14% na quinzena anterior.

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Retornos brutos de CDBs prefixados (de 28/02 a 13/03)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 PREFIXADO 13,30% 13,41% 13,85%                                 9 BANCO DAYCOVAL
6 PREFIXADO 13,00% 13,48% 13,88%                               18 BANCO DAYCOVAL
12 PREFIXADO 12,60% 13,23% 13,78%                               19 BANCO DAYCOVAL
24 PREFIXADO 12,10% 13,16% 13,80%                               13 HAITONG BANCO DE INVESTIMENTOS DO BRASIL
36 PREFIXADO 13,13% 14,07% 14,75%                               37 HAITONG BANCO DE INVESTIMENTOS DO BRASIL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda

Curva de juros: arcabouço fiscal e bancos no foco

A depender do conteúdo que será apresentado como o novo arcabouço fiscal e do desenrolar da crise envolvendo alguns bancos nos Estados Unidos, investidores poderão ver nova turbulência no mercado de juros nas próximas semanas.

O economista do BV, Carlos Lopes, afirma que, se o arcabouço não vier próximo do que é esperado pelo mercado, ou se a crise bancária nos Estados Unidos mostrar que não está contida apenas em poucos nomes, os preços dos ativos poderão ser afetados.

Com os dados que possui até o momento, Lopes avalia a crise envolvendo alguns bancos americanos como o Silicon Valley Bank (SVB) e Signature Bank parece limitada, mas diz que ainda não é possível descartar o aparecimento de outros casos mais para frente.

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“Alguns bancos tomaram posições desmedidas em ativos longos ou em criptomoedas. Parecem problemas de gestão, ainda que estejam relacionados a esse aumento de liquidez e época de juros baixos [vistos anteriormente no auge da pandemia]”, acrescenta.

Por ver os problemas no mercado bancário americano como restritos a apenas alguns nomes, o economista defende que não faz sentido o Federal Reserve (Fed, banco central americano) parar o ciclo de aperto monetário agora.

“Uma pausa teria um custo importante em termos de inflação, expectativa e credibilidade. Se ele decidir fazer essa pausa nesse momento, é um indicador de que a crise pode ter maiores implicações”, alerta o especialista do BV.

Da mesma forma, o economista avalia que o Banco Central deveria ter uma postura mais cautelosa na próxima quarta-feira (22), quando será anunciada a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).

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“Como a crise está no começo, contida em alguns bancos e sem impacto claro sobre a atividade econômica global e local, o BC não deve tomar nenhuma decisão mais clara nesse momento”, diz. “Ele deve reconhecer o problema, mas sem dar indicações de política monetária mais fortes”, acrescenta Lopes.

Atualmente, o BV espera que a Selic encerre este ano em 12% e que o ciclo de cortes do Banco Central comece em agosto.

Macedo, da G5 Partners, também se mostra preocupado com a crise no mercado de crédito brasileiro, mas avalia que casos como o da Americanas (AMER3), Light (LIGT3) e outros são “pontuais” em meio a uma taxa de juros elevada.

“O custo de capital fica muito alto e toda a geração de caixa da empresa é comprometida para honrar o serviço de dívida”, lembra o sócio da G5. Apesar disso, o profissional defende que com um processo de negociação adequada, boa parte das companhias que estão com problemas para honrar as dívidas agora vão conseguir passar por esse período turbulento.