CDB hoje: taxa máxima cai de 120% para 115% em 15 dias; o que embate entre Lula e BC tem a ver com isso?

Retorno de papéis prefixados também recuou, chegando a 13,67% ao ano na quinzena entre os dias 14 e 27 de fevereiro

Bruna Furlani

(Shutterstock)
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Numa semana, os juros futuros registraram queda, depois que o embate travado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o Banco Central esfriou. Na seguinte, no entanto, dados piores de inflação nos Estados Unidos voltaram a preocupar investidores, jogando as taxas de volta para cima.

Mas no mercado de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), o único movimento que se viu foi de recuo nas taxas. Na quinzena entre 14 e 27 de fevereiro, o retorno máximo oferecido nos papéis atrelados ao CDI caiu para 115% do CDI, contra 120% do CDI nos 15 dias anteriores. Os percentuais são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

As exceções foram os papéis com vencimento em três e seis meses. No primeiro grupo, a taxa estabilizou em 105,5%, enquanto o segundo registrou uma leve alta, com os retornos passando de 102% para 107% do CDI na última quinzena.

Retornos brutos de CDBs indexados ao CDI (de 14/02 a 27/02)

Prazo (meses) Indexador Mínimo Médio Máximo Número de títulos Emissor da maior taxa
3 %CDI 97,00% 100,89% 105,50%                                 9 CCB BRASIL BANCO MÚLTIPLO
6 %CDI 97,50% 100,57% 107,00%                               46 PARANÁ BANCO
12 %CDI 90,00% 100,54% 112,00%                               53 BANCO GUANABARA
24 %CDI 92,00% 100,17% 105,00%                               55 HAITONG BANCO DE INVESTIMENTOS DO BRASIL
36 %CDI 100,00% 103,01% 115,00%                               38 BANCO MASTER

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

O recuo nas taxas máximas vai na contramão da alta nas projeções para a Selic registradas pelo Relatório Focus – que compila as projeções de economistas consultados pelo Banco Central. Para este ano, as estimativas passaram de 12,50% para 12,75% nas últimas quatro semanas. Já para 2024 e 2025, as expectativas passaram de 9,50% para 10% e de 8,50% para 9%, respectivamente.

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CDBs prefixados

Da mesma forma, a taxa máxima oferecida por títulos prefixados registrou queda na maior parte dos vencimentos na última quinzena. O maior recuo ocorreu nos papéis com prazo a partir de 36 meses, em que os juros mais altos passaram de 15,67% para 13,67% ao ano.

Nos últimos 15 dias, o CDB que oferecia esse rendimento era um papel emitido pelo Banco Daycoval, com classificação de risco de crédito (rating) nacional de longo prazo AA, ou seja, considerado de boa qualidade.

Também houve contração na maior parte das taxas médias (soma dos retornos dos títulos para um determinado prazo dividida pelo número de papéis disponíveis para aquele vencimento). Nesse caso, o destaque também ficou com os papéis que vencem em 36 meses ou mais, em que a rentabilidade caiu de 14,16% para 13,36% ao ano.

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Retornos brutos de CDBs prefixados (de 14/02 a 27/02)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 PREFIXADO 12,70% 13,42% 13,82%                                 8 BANCO DAYCOVAL
6 PREFIXADO 13,10% 13,47% 13,89%                               23 BANCO DAYCOVAL
12 PREFIXADO 13,00% 13,52% 14,06%                               14 BANCO DAYCOVAL
24 PREFIXADO 12,35% 12,86% 13,14%                                 3 BANCO DAYCOVAL
36 PREFIXADO 13,05% 13,36% 13,67%                                 3 BANCO DAYCOVAL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

CDBs atrelados à inflação

Papéis com remuneração indexada ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) também não escaparam do recuo nas taxas. As quedas foram mais intensas entre CDBs com vencimento em 12 e 24 meses que viram o retorno máximo passar de 6,05% no levantamento anterior para 5,20% ao ano, e de 6,10% para 5,30%, respectivamente.

Retornos brutos de CDBs indexados à inflação (de 14/02 a 27/02)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
12 IPCA 5,20% 5,20% 5,20%                                 1 BANCO ABC BRASIL
24 IPCA 5,00% 5,15% 5,30%                                 2 BANCO ABC BRASIL
36 IPCA 5,35% 5,45% 5,55%                                 2 BANCO ABC BRASIL

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

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Nas últimas semanas, o Relatório Focus vem trazendo uma piora nas projeções para o IPCA. Nesta segunda-feira (27), o documento apresentou nova rodada de revisões para cima nas estimativas para a inflação em 2023, 2025 e 2026. Apenas a projeção para 2024 ficou estável em 4,02%.

Segundo o Focus, a expectativa para o IPCA para este ano subiu de 5,89% para 5,90% ao ano, na 11ª semana seguida de elevação. Da mesma forma, a estimativa para 2025 avançou de 3,78% para 3,80%, enquanto a de 2026 subiu de 3,70% para 3,75%.

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Curva de juros: reoneração e reajuste da Petrobras

De olho em possíveis efeitos sobre a inflação, um dos temas de maior destaque desta semana é a reoneração dos impostos sobre a gasolina e o etanol, que foi confirmada pelo governo na segunda-feira (27).

Após nova reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ministros e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, investidores aguardam um detalhamento sobre como funcionará a retomada. A previsão é de que seja apresentado nesta terça-feira (28).

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Na visão do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a reoneração total dos combustíveis poderia ser parcialmente compensada por uma redução nos preços da gasolina e do álcool cobrados pela Petrobras nas refinarias

Para ele, a petroleira poderia contribuir para fechar a conta ao usar o “colchão” dentro do Preço de Paridade Internacional (PPI), que seria respeitado. Nos cálculos da XP, o preço da gasolina praticado pela Petrobras estaria 10% acima do PPI.

A defasagem de preços, porém, deve cair. A Petrobras (PETR3;PETR4) anunciou que, a partir de quarta-feira (1), o preço médio de venda de gasolina A da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 3,31 para R$ 3,18 por litro, uma redução de R$ 0,13 por litro, ou 3,93%.

Considerando a mistura obrigatória de 73% de gasolina A e 27% de etanol anidro para a composição da gasolina comercializada nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor será, em média, R$ 2,32 a cada litro vendido na bomba.

Para o diesel A, o preço médio de venda da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 4,10 para R$ 4,02 por litro, uma redução de R$ 0,08 por litro, ou 1,95%.

Considerando a mistura obrigatória de 90% de diesel A e 10% de biodiesel para a composição do diesel comercializado nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor será, em média, R$ 3,62 a cada litro vendido na bomba.

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Para o economista do BV, Carlos Lopes, a redução do preço ou o uso do colchão pela Petrobras teria um efeito favorável sobre a projeção de inflação no curto prazo.

A medida, porém, não seria sustentável até o fim do ano, afirma Lopes. Na prática, o descasamento entre preços nacionais e internacionais se dá por sobrepreço a nível doméstico – o que significa que o “colchão” da Petrobras poderia deixar de existir em alguns momentos.

Nesse sentido, o economista alerta que a mudança não alteraria as projeções do BV para a inflação no fim de 2023, que estão em 5,5%. A razão é que a estimativa já considera uma alta de 50 pontos-base (0,50 ponto percentual) com a volta da tributação sobre os combustíveis.

O debate sobre o retorno dos impostos se dá em um momento em que o Relatório Focus vem apresentando sucessivas deteriorações nas expectativas de inflação. Apesar da piora, a visão do economista do BV é de que isso não deve modificar o plano de voo do Banco Central. Segundo ele, a barra para a autoridade monetária subir os juros está “bem alta” e dependeria mais de surpresas negativas na inflação corrente.

“A ideia é esperar os dados e ver como vai ser o processo de desinflação. A desancoragem das expectativas colabora para que a clareza [do BC] não chegue mais cedo”, alerta. Atualmente, a casa espera que a autoridade monetária consiga iniciar o corte de juros no segundo semestre deste ano, o que levaria a Selic a terminar este ano em 12%.

O economista não nega que o cenário-base da casa leva em consideração ações mais favoráveis do governo em torno do arcabouço fiscal, além de uma expectativa de troca mais positiva da diretoria do BC.

Mudanças na diretoria do BC

A semana também será de atenção em torno de novidades sobre as indicações para as diretorias de política monetária e fiscalização do Banco Central. Os mandatos de ambos os diretores se encerram nesta terça-feira (28).

Para Lopes, o governo dá sinais de que deve adiar a discussão, o que o especialista vê como positivo. Na leitura do profissional, isso pode ser um indício de que o Executivo busca um “meio-termo” entre um nome que seja bem-visto pelo governo e que agrade o mercado.

O economista-chefe da Kínitro Capital, Sávio Barbosa, também defende que as indicações devem ser feitas pelo ministro da Fazenda em comum acordo com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Se isso se confirmar, a avaliação de Barbosa é que o candidato deve ter experiência e credibilidade para assumir o cargo. Já se o indicado não for um nome técnico e, sim, um “emissário do governo”, o economista acredita que será possível observar novas elevações nos prêmios de risco.

“Os principais reflexos dessa deterioração poderiam ser um aumento na taxa de juros e da inflação implícita na parte longa da curva”, alerta o profissional da Kínitro.

Alta mais agressiva dos juros globais

O cenário político deve ser acompanhado de perto junto com as movimentações no ambiente global, especialmente em meio a discussões sobre um aumento global mais agressivo de juros.

Barbosa lembra que os mercados voltaram a projetar taxas de juros terminais mais elevadas para os BCs de países desenvolvidos, com destaque para o Federal Reserve (Fed, banco central americano) e o Banco Central Europeu (BCE).

Nas últimas semanas, dados de inflação vindos dos Estados Unidos voltaram a preocupar investidores. O índice de preços ao consumidor (PCE, na sigla em inglês) avançou 0,6% em janeiro ante dezembro, maior alta desde junho. O indicador é o preferido do Fed para monitorar a escalada de preços.

Para analistas, se a inflação nos Estados Unidos não der sinais de desaceleração, o Fed terá que aumentar os juros para além do patamar esperado pela maioria dos agentes de mercado, que seria entre 5,25% e 5,50%, segundo dados da plataforma do CME Group na tarde desta terça-feira (28).