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Os entusiastas das criptomoedas estão esperançosos de que um evento que ocorre uma vez a cada quatro anos, que reescreve o código do Bitcoin (BTC), a maior e mais importante delas, estenda a recuperação pela qual o mercado vem passando em 2023. No primeiro semestre, o BTC acumulou alta de 86%.
Esse evento, por outro lado, também corre o risco de soar como a sentença de morte para certos mineradores da moeda digital.
Apelidado de halving, esse marco foi historicamente seguido por subidas exponenciais no preço do Bitcoin. As últimas três ocorrências, em 2012, 2016 e 2020, marcaram fortes disparadas de cerca de 8.450%, 290% e 560% cerca de um ano depois, respectivamente, segundo dados compilados pela Bloomberg.
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O Bitcoin, vale lembrar, foi lançado em 2009 por um programador de computador ou grupo de programadores com identidade desconhecida, sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto.
O que é o halving?
O halving (corte pela metade, em inglês) reduz pela metade a quantidade de Bitcoin que cada minerador pode ganhar para validar transações no blockchain do ativo digital usando computadores especializados com uso intensivo de energia.
O próximo halving, previsto para abril de 2024, reduzirá as recompensas dos mineradores de atuais 6,25 BTC para 3,125 BTC por bloco emitido a cada cerca de 10 minutos – ou de US$ 188.876 para US$ 94.438, pela cotação de hoje.
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A oferta mais escassa é vista pelos defensores da criptomoeda como uma forma de manter o valor do Bitcoin no longo prazo, ou pelo menos até que o número máximo de tokens que podem ser emitidos — 21 milhões, segundo programado em código — seja alcançado por volta do ano de 2140.
Até agora, os mineradores conseguiram compensar a perda de receita quando as recompensas são cortadas graças aos ralis no preço do Bitcoin após cada halving, e aos avanços tecnológicos que melhoraram a eficiência dos equipamentos de mineração.
Mas, a economia em torno da mineração antes do próximo halving parece mais preocupante do que nos eventos anteriores.
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Mineradores ameaçados?
“Quase metade dos mineradores sofrerá por terem operações de mineração menos eficientes com custos mais altos”, prevê Jaran Mellerud, analista de mineração de criptomoedas do Hashrate Index.
Ele destaca o preço de equilíbrio da eletricidade da máquina de mineração mais comum, que deve cair de 12 centavos/kWh para 6 centavos/kWh após o halving. Cerca de 40% dos mineradores ainda têm custos operacionais por kWh mais altos do que isso, disse Mellerud.
As mineradoras com custos operacionais acima de 8 centavos/kWh terão dificuldades para se manter, e o mesmo deve acontecer com mineradores menores, que não têm seus próprios equipamentos e apelam para o aluguel de terceiros, disse ele.
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“Se você contar tudo, o custo total para certos mineradores está bem acima do preço atual do Bitcoin”, acrescentou Wolfie Zhao, chefe de pesquisa da TheMinerMag, um braço da consultoria de mineração BlocksBridge. “O lucro líquido ficará negativo para muitos mineradores com operações menos eficientes”.
Dívidas
Bitcoin subiu mais de 80% este ano para cerca de US$ 30.000, mas o preço ainda está abaixo da metade do recorde de quase US$ 69.000 alcançado no final de 2021. Enquanto isso, os custos de produção dos mineradores aumentaram em conjunto com os preços da eletricidade, fazendo com que os encargos de dívidas tornem-se insustentáveis para muitos deles.
A indústria global de mineração tem US$ 4,5 bilhões a US$ 6 bilhões em dívidas – abaixo dos US$ 8 bilhões registrados em 2022 –, abrangendo dívida sênior, empréstimos garantidos por plataformas de mineração e empréstimos lastreados em Bitcoin, estima Ethan Vera, diretor de operações da empresa de serviços de mineração cripto Luxor Technologies.
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Empréstimos contraídos e ainda não quitados por 12 grandes empresas públicas de mineração, como Marathon Digital Holdings (MARA) e Riot Platforms (RIOT), ficaram em cerca de US$ 2 bilhões no final do primeiro trimestre, abaixo dos US$ 2,3 bilhões no trimestre anterior, mostram dados compilados pelo Hashrate Index.
A onda de empréstimos foi parcialmente impulsionada por mineradores que migraram da China para a América do Norte após a proibição da mineração no país asiático no final de 2021. “Uma coisa que os mineradores não tinham era acesso ao mercado de capitais”, disse Zhao. “[Instrumentos para] financiamento da dívida estão muito mais disponíveis nos EUA”.
Bitcoin precisa ir a US$ 60 mil
A crescente concorrência entre os mineradores de Bitcoin também comprimiu as margens de lucro. A dificuldade de mineração, uma medida do poder de computação para minerar Bitcoin, atingiu um recorde em junho, mostram dados do site btc.com.
Para que as mineradoras mantenham as mesmas margens de lucro após o halving, o preço do Bitcoin terá que subir para US$ 50.000 a US$ 60.000 no próximo ano, disse Kevin Zhang, vice-presidente sênior de estratégia da empresa de mineração de criptomoedas Foundry, que pertence ao peso-pesado da indústria Digital Currency Group.
Embora os mineradores tenham aproveitado o respiro neste ano, com o Bitcoin se recuperando após um longo inverno cripto, os custos de eletricidade, que haviam caído, estão subindo novamente. O Texas, importante pólo cripto, já está passando por uma onda de calor.
Os mineradores de Bitcoin estão tomando uma série de medidas para se proteger antes do halving, como travar os preços de energia, reforçar o caixa e reduzir os investimentos.
“Ano de halving é de alto risco”
“Para o halving, as mineradoras estão se preparando tentando ser mais sofisticadas com seus custos de energia e garantir o preço de seus fornecedores com antecedência”, disse Zhang.
A Hut 8 Mining Corp., por exemplo, firmou uma linha de crédito de US$ 50 milhões no mês passado com uma unidade da Coinbase (C2OI34) para ajudar a preservar seu tesouro de Bitcoin antes do halving.
Já a mineradora de Bitcoin Lotta Yotta, do Texas, está aumentando o fluxo de caixa de seis meses enquanto reduz os investimentos para se preparar para o evento, de acordo com sua CEO, Tiffany Wang.
“Ano de halving é de alto risco”, disse Wang em uma mensagem de texto, referindo-se ao investimento adicional em instalações de mineração de Bitcoin. “É melhor guardar algum recurso em caixa para manter a empresa funcionando”.
Espera-se que o halving dobre o custo de produção do Bitcoin para cerca de US$ 40.000, escreveram estrategistas do JPMorgan em uma nota divulgada na semana passada.
O custo de produção de um Bitcoin variou entre cerca de US$ 7.200 e US$ 18.900 no primeiro trimestre em um grupo de 14 mineradores de capital aberto, mostram dados compilados pela TheMinerMag. Os custos calculados não incluem outras despesas importantes, como pagamentos de juros de dívidas, remuneração da administração ou marketing, disse Zhao.
“Todo mundo tem que estar preparado”, disse Wang. “Infelizmente, muitos mineradores acabarão sendo expulsos do mercado”.
© 2023 Bloomberg L.P.