“Dividendos” mensais com renda fixa? Combinar títulos públicos e privados pode render juros regulares

Com Selic ainda em 13,75% ao ano, papéis que pagam juros semestrais permitem rentabilizar o patrimônio com regularidade

Leonardo Guimarães

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Enquanto a Selic (taxa básica de juros) ainda está nas alturas, investidores querem aproveitar os altos retornos que a renda fixa oferece. Se a classe mais segura tomou espaço de ações e outros ativos de renda variável na carteira dos investidores, uma estratégia que rende juros mensais só com papéis de renda fixa pode atrair também os amantes de dividendos.

É possível construir uma carteira de renda passiva apenas com instrumentos de renda fixa. Títulos públicos oferecidos via Tesouro Direto pagam juros semestrais. Já no crédito privado, é possível encontrar debêntures, CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e LCAs (Letra de Crédito do Agronegócio) que pagam juros a cada seis meses – alguns, até todos os meses.

Com uma combinação desses ativos, dá para ter dinheiro pingando na conta todos os meses. A lista de ativos de renda fixa não é tão robusta quanto as opções de fundos imobiliários e ações, mas pode ser interessante para quem procura mais segurança e previsibilidade.

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O mercado financeiro espera o início de um ciclo de queda da taxa básica de juros no segundo semestre deste ano. Ainda não há consenso sobre quando exatamente isso deve acontecer. Por isso, os retornos atuais de ativos de renda fixa se tornam ainda mais atrativos: investidores querem aproveitar os “últimos momentos” das taxas mais altas.

Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, comenta que a estratégia de buscar papéis que pagam juros semestrais “permite que o patrimônio tenha um crescimento constante, mesmo quando abaixo de rendimentos de ativos de renda variável, em alguns ciclos”.

Porém, a construção desse tipo de carteira é aprovada por especialistas mesmo após a provável queda da Selic no segundo semestre. Vinicius Romano, head de renda fixa na Suno Research, lembra que, “independentemente do nível da taxa Selic, os ativos de renda fixa são importantes para as carteiras dos investidores e podem cumprir diferentes papéis”.

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Renda fixa com juros mensais ou semestrais

Para a estratégia de receber pagamentos recorrentes, o investidor precisa procurar ativos que entregam juros semestrais. Essa informação deve estar disponível no momento da compra de qualquer título nas corretoras.

Há, atualmente, quatro títulos disponíveis para compra no Tesouro Direto que pagam juros semestrais. Três deles são atrelados ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e outro é prefixado. Combinados, esses títulos pagam juros em seis meses do ano. Outros 11 títulos públicos pagam juros semestrais, mas estão disponíveis somente no mercado secundário.

No mercado de crédito privado há opções com pagamentos mensais de juros, como a LCI do Banco Bari, com retorno de 100% do CDI; o CRI da Rede Globo, que paga 6,94% além do IPCA; e uma LCA prefixada do BTG Pactual, com retorno de 11,61% ao ano.

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Investir nesses ativos simplificaria a carteira de juros mensais com renda fixa, mas Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, alerta para o risco da falta de diversificação: “Temos poucos emissores que pensam em distribuição mensal, a carteira fica muito limitada”.

Portanto, para seguir as boas práticas de investimentos e pensar em diversificação, mesclar esses títulos com os que pagam juros semestralmente é uma boa saída.

Isentas de Imposto de Renda, as debêntures incentivadas também se apresentam como opção para a carteira de renda passiva. ENEV29, emitida pela Eneva, por exemplo, paga 6,45% ao ano além da variação do IPCA. Outra opção é a debênture incentivada da Ciclus (CCLS11), que é indexada ao IPCA e tem juro real de 7,05% ao ano.

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Abaixo, o InfoMoney lista sete ativos que pagam rendimentos semestrais que, combinados, proporcionariam um fluxo de renda mensal. Confira:

Mês para receber os juros Ativo Rentabilidade anual
Janeiro Tesouro Prefixado 2033 11,15%
Fevereiro Tesouro IPCA+ 2032 / Tesouro IPCA+ 2040 IPCA + 5,34% / IPCA + 5,48%
Março Debênture Eneva (ENEV29) IPCA + 6,45%
Abril CRA Marfrig IPCA + 6,50%
Maio Tesouro IPCA+ 2055 IPCA + 5,56%
Junho Debênture AES Cajuína (AEAB11) IPCA + 6,70%
Julho Tesouro Prefixado 2033 11,15%
Agosto Tesouro IPCA+ 2032 / Tesouro IPCA+ 2040 IPCA + 5,34% / IPCA + 5,48%
Setembro Debênture Eneva (ENEV29) IPCA + 6,45%
Outubro CRA Marfrig IPCA + 6,50%
Novembro Tesouro IPCA+ 2055 IPCA + 5,56%
Dezembro Debênture AES Cajuína (AEAB11) IPCA + 6,70%

Como administrar a carteira?

Para cada objetivo, o investidor precisa de uma estratégia diferente. No caso da carteira de renda passiva, é preciso pensar em dois fatores: para onde vai o dinheiro dos juros mensais e administração dos vencimentos dos títulos.

Antes de montar a carteira, o investidor precisa traçar um objetivo para o dinheiro que cairá todo mês. Há a opção de investir os rendimentos para, aos poucos, formar uma carteira com retorno cada vez maior, usando o efeito “bola de neve”.

Se a carteira já é robusta o suficiente para gerar bons rendimentos, o investidor precisa apenas ficar atento aos prazos dos títulos. Afinal, eles vencem em algum momento e é preciso encontrar outros papéis para investir.

Para uma administração bem feita, Komura recomenda tratar a carteira como um item separado nos investimentos. “Analisamos a renda passiva de forma separada, para ter mais controle sobre as necessidades futuras daquela carteira, por isso é importante ter uma boa organização”, ensina o especialista.

Outra dica para a administração é separar os ativos por indexador para saber quanto dinheiro está em prefixados, atrelados à inflação ou CDI. “Isto é importante para saber o peso de cada classe da renda fixa no portfólio do investidor”, diz Vinicius Romano.

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Adequação por perfil

Outro ponto importante é o nível de risco que cada título carrega. Investidores mais conservadores podem ficar desconfortáveis no crédito privado. Debêntures, CDBs e CRIs expõem a carteira a empresas que podem ser problemáticas.

Para Bruno Komura, o ideal para o conservador é aplicar a maior parte dos recursos em títulos públicos. O crédito privado, porém, não precisa ser descartado: “Esse investidor pode até pensar em títulos mais arriscados, mas com classificação de risco AAA”, sugere.

Quem tem perfil moderado ou agressivo nos investimentos pode pensar em uma proporção maior de títulos privados para alcançar boa rentabilidade. “Em vez de ir para o AAA, dá para abaixar um pouco, para AA ou A, não iria muito abaixo disso”, diz Komura. O especialista diz que títulos com selo BBB ou BB podem ser atrativos, mas a relação entre risco e retorno não é boa.

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