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“Bonds não vão se sustentar”: Ray Dalio dispensa títulos de dívida em meio a juros altos nos EUA

Para ele, tamanho do déficit poderá levar a sell-off de títulos, incentivando governo a comprar papéis e trazendo inflação de volta

Bruna Furlani

(Crédito: Roy Rochlin /Getty Images)
(Crédito: Roy Rochlin /Getty Images)

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A abertura da curva futura de juros nos Estados Unidos nos últimos meses fez muitos investidores voltarem a olhar com atenção para a renda fixa americana, com destaque para os títulos de dívida, como bonds.

A perspectiva mais positiva para o mercado de dívida, porém, não é compartilhada pelo megainvestidor de Wall Street, Ray Dalio, que deixou o controle da Bridgewater Associates no fim do ano passado. Para ele, a preferência agora é por caixa e não por deter esse tipo de papel.

“Temporariamente, neste momento, acho que caixa é bom. As taxas de juros estão boas. Não creio que isso [taxas] vai conseguir se sustentar dessa forma”, disse Dalio em seminário do Instituto Milken na Ásia, em Singapura, na quinta-feira (14), segundo informações da Bloomberg e da CNBC.

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Dinheiro em caixa é equivalente a deter ativos de curto prazo e que possuem liquidez imediata – o que é equivalente a instrumentos utilizados como reserva de emergência no Brasil, caso das LFTs (títulos públicos pós-fixados), aplicações em fundos DI e em alguns Certificados de Depósito Bancário (CDBs) de bancos de primeira linha e que oferecem 100% do CDI.

Aumento da dívida americana

Em sua fala, Dalio reforçou certa preocupação com o aumento da dívida americana. O gestor alertou que quando o endividamento representa uma parte substancial da economia de um país, a situação “tende a se agravar e a acelerar”, com o aumento das despesas com juros.

Na avaliação de Dalio, investidores estão chegando perto do ponto de aceleração em que o tamanho do déficit poderá exigir um movimento de venda de títulos, se as taxas de juros reais não forem suficientemente altas.

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Em um eventual movimento de venda generalizada, Dalio lembra que os preços irão cair e as taxas, subir. “Como resultado, os custos dos empréstimos vão ficar mais altos e haverá maior pressão sobre a inflação, o que vai dificultar a tarefa dos bancos centrais”, diz.

Se isso ocorrer, o megainvestidor lembra que a autoridade monetária americana terá que decidir se prefere sofrer as consequências de deixar as taxas de juros mais elevadas, ou se prefere imprimir dinheiro e comprar os títulos, o que poderá trazer consequências inflacionárias.

“Estamos vendo essa dinâmica acontecer agora. Pessoalmente, acredito que os títulos de longo prazo não são um bom investimento”, frisou.

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Na contramão de outras casas

A opinião de Dalio vai contra a avaliação de alguns especialistas sobre o bom momento para investir em dívida nos Estados Unidos. Em entrevista ao InfoMoney no começo do mês, David Rosenberg, corresponsável por portfólios e diretor-executivo da Oaktree, ressaltou o momento único que vive a renda fixa americana.

“A beleza da renda fixa hoje é que você não precisa ser um herói e ir para um ativo muito arriscado. Os retornos já estão elevados”, disse Rosenberg.

Com mais de 20 anos de experiência no mercado, o executivo afirmou que não consegue pensar em outro momento em que era possível receber um retorno de duplo dígito em crédito sem que um desastre tivesse puxado os rendimentos para cima.

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Em meio a um cenário mais favorável para a alocação em crédito, o executivo diz ter ido às compras e que tem optado por ativos mais ligados ao setor de bebidas e alimentos, além de cuidados para a saúde.

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Não é preciso ser herói e buscar renda fixa mais arriscada hoje, afirma Oaktree

Por outro lado, a necessidade de frear o consumo da população americana para facilitar a tarefa do Federal Reserve (Fed, banco central americano) em desinflacionar a economia dos EUA faz com que a Oaktree se afaste de títulos relacionados a consumo, com destaque para o varejo.

“Setores que dependem do consumo discricionário e dos gastos dos consumidores são mais prováveis de desapontar [nos próximos meses]”, afirma Rosenberg.

Após meses de bonança no mercado de ações, a avaliação do profissional também é que o momento é favorável para que o crédito obtenha desempenho superior ao mercado acionário.

Rosenberg lembra que, com ou sem recessão nos Estados Unidos, a taxa de juros elevada deixa a dívida das empresas mais cara. “Já no mercado de crédito, não é preciso crescimento. O investidor precisa apenas que as companhias não deem calote e que ofereçam retornos de duplo dígito”, avalia.

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