Bitcoin tem pior mês desde falência da FTX e cai 7,5%; retomada naufragou?

Criptomoeda disparou nos primeiros três meses do ano, desacelerou em abril e virou para queda em maio; o que esperar para o resto do ano?

Paulo Barros

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O Bitcoin (BTC) começou 2023 dando esperança ao investidor que acumulou perdas no ano passado, e registrou forte alta nos três primeiros meses. O movimento, porém, perdeu ímpeto em abril e, em maio, virou para queda.

A criptomoeda caminha para fechar o mês com recuo de 7,5%, o pior resultado desde novembro de 2022, quando a exchange FTX faliu e abalou o mercado de ativos digitais, fazendo o BTC perder mais de 16%.

Para analistas, no entanto, a perda mensal não mina a tese de recuperação da moeda digital ao longo deste ano.

Para Antonio Bertuccio, head de estratégias cripto da gestora de investimentos quantitativos iVi Technologies, o movimento é uma fase de lateralização já esperada, e que resulta em uma diminuição da correlação com ativos tradicionais — algo que, no fim das contas, é bem visto por investidores que buscam no BTC uma oportunidade de diversificação de patrimônio.

Uma nova alta, no entanto, ainda pode levar alguns meses. Com a proximidade do verão no Hemisfério Norte e a tradicional fuga dos investidores dos mercados de renda variável, especialistas em cripto esperam a continuidade da retomada apenas no segundo semestre.

“O mercado já está precificando uma queda na taxa de juros até o Q4 (quarto trimestre) deste ano, e quando isso acontece, o Bitcoin tende a se recuperar mais rápido do que as ações”, avalia Samir Kerbage, sócio da gestora Hashdex, em relatório.

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“Isso se deve ao size premium (ou seja, o Bitcoin é muito pequeno em relação aos mercados de ações) e ao fato de que a recuperação econômica leva mais tempo para se refletir nos balanços corporativos”.

A perspectiva positiva, diz Kerbage, também se deve à busca contínua de oportunidades de investimento alternativas que oferecem melhores retornos e menores correlações com investimentos tradicionais.

“O Bitcoin, sendo o primeiro ativo digital descentralizado e imutável do mundo com oferta fixa, oferece uma alternativa atraente a muitas alternativas tradicionais, tornando-se uma opção viável para investidores em busca de retornos mais elevados”.

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Das criptomoedas mais valiosas do mundo, o BTC só perdeu para a BNB. Já Ethereum (ETH) perdeu apenas 1,3%, Cardano (ADA) cedeu 5% e a XRP (XRP) subiu 9,5% após investidores ficarem mais otimistas com uma vitória da Ripple, criadora e emissora do ativo, em uma batalha judicial travada nos EUA contra a Comissão de Valores Mobiliários do país.

Confira o desempenho das principais criptomoedas em maio (até às 18h do dia 31):

Criptomoeda Preço Variação 
Bitcoin (BTC) US$ 28.108 -7,50%
Ethereum (ETH) US$ 1.867 -1,30%
Binance Coin (BNB) US$ 306 -8,60%
XRP (XRP) US$ 0,5161 +9,50%
Cardano (ADA) US$ 0,3766 -5,10%

Maiores altas de maio

Mesmo com a queda do Bitcoin, algumas altcoins (criptomoedas alternativas) registraram ganhos em maio. A campeã foi a Pepe Coin (PEPE), que acumulou alta de cerca de 96%, mesmo após queda forte em relação à máxima atingida nos primeiros dias do mês — na primeira semana, a memecoin chegou a acumular alta de 50.000 vezes.

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Na sequência aparece a Kava (KAVA), uma plataforma focada em facilitar a comunicação entre diferentes redes blockchains, que subiu 33% no último mês, em meio a uma crescente aceitação de stablecoins alternativas por investidores.

Max Krupyshev, CEO e cofundador da CoinsPaid, ressalta que o colapso da FTX ainda reverbera entre os investidores, que passaram a temer ainda mais a volatilidade das criptomoedas. Diante desse cenário, o segmento de stablecoins começou a ser considerado mais vantajoso, por oferecer exposição a dólar e não carregar o risco da variação de preço.

“Isso explica a queda da capitalização de mercado total do mercado de criptomoedas em cerca de 65% desde o mesmo período do ano passado — há simplesmente uma queda na demanda por ativos mais arriscados na blockchain”, explica.

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Outros ativos que se destacaram no mês incluem o Tron (TRX), que vinha de forte baixa após rumores a respeito da suposta insolvência do seu controlador, o empresário Justin Sun.

Já o Render (RNDR) foi outro destaque, principalmente após arrancada na última semana na esteira de um maior otimismo com plataformas de Inteligência Artificial (IA) após a disparada das ações da Nvidia, já que o token alimenta um marketplace de computação para IA. TRX e RNDR subiram na casa de 12% em maio.

As criptomoedas com as maiores altas de maio(até às 18h do dia 31):

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Criptomoeda Fechamento do mês Variação
Pepe Coin (PEPE) US$ 0,000001226 +96,50%
Kava (KAVA) US$ 1,03 +33,00%
Tron (TRX) US$ 0,07599 +12,60%
Render (RNDR) US$ 2,50 +12,50%
XRP (XRP) US$ 0,5161 +9,50%

Maiores quedas de maio

O pior resultado de maio ficou com a Sui (SUI), criptomoeda novata que chamou atenção no lançamento com distribuição gratuita (airdrop), mas decepcionou no mercado após forte venda por parte dos recebedores e de investidores iniciais. O token acumulou perda de 78% no período.

Outros que caíram no mês foram a PancakeSwap (CAKE), que especialistas apontam que vem ficando para trás no segmento de finanças descentralizadas (DeFi), e a Optimism (OP), que não conseguiu atrair tantos usuários quanto a Arbitrum (ARB) para processamento de transações mais baratas na rede Ethereum.

Completam a lista a Fantom (FTM), que ameaçou “reviver” após a volta do seu criador, o desenvolvedor Andre Cronje; e a Flare (FLR), token que prometia levar contratos inteligentes (smart contracts) para a XRP, mas que perdeu apelo após a criptomoeda da Ripple prometer funções nativas semelhantes.

As criptomoedas com as maiores baixas de maio (até às 18h do dia 31):

Criptomoeda Fechamento do mês Variação
Sui (SUI) US$ 0,9659 -78,60%
PancakeSwap (CAKE) US$ 1,62 -39,60%
Optimism (OP) US$ 1,38 -36,50%
Fantom (FTM) US$ 0,3119 -26,40%
Flare (FLR) US$ 0,02324 -25,60%

Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas