Bitcoin cai 10% em agosto e registra o pior desempenho desde a falência da FTX

Trajetória negativa de agosto foi impulsionada por desaceleração, baixa atividade e aumento de juros

Lucas Gabriel Marins

(Getty Images)
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O Bitcoin (BTC) registrou o pior fechamento mensal desde novembro do ano passado, quando a exchange FTX, até então uma das principais corretoras da indústria, entrou com pedido de falência na Justiça dos Estados Unidos, jogando o mercado cripto em um dos seus períodos mais sombrios.

Mesmo com o otimismo em torno da vitória judicial da gestora Grayscale contra a SEC, equivalente nos EUA à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a principal criptomoeda do segmento de moedas digitais finalizou agosto negociada a US$ 26.310, preço 10% inferior ao registrado no primeiro dia do mês.

Bruno Diniz, especialista em inovação financeira e autor do livro “A Era da Criptoeconomia”, disse para a reportagem do InfoMoney que o fechamento mensal negativo se deve a uma série de fatores macroeconômicos e da indústria.

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“De modo geral, essa trajetória descendente foi impulsionada por desaceleração da atividade na rede, escassez de fluxo de capital no mercado futuro e piora no cenário global para ativos de risco por causa do sucessivo processo de alta nas taxas de juros dos Estados Unidos”.

Desde março de 2022, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central do país) vem apertando a política monetária. O último aumento ocorreu em julho, quando o Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) elevou os juros básicos em 0,25 ponto percentual. Após o acréscimo, a taxa passou a oscilar dentro de uma banda entre 5,25% e 5,50% ao ano.

Criptos, ações e derivativos costumam sofrer em períodos de alta de juros porque os títulos do Tesouro norte-americano passam a ficar mais atrativos para os investidores. As Treausuries, como são chamados por lá, registraram o maior nível desde 2007.

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Em meio ao cenário de aperto, o volume na blockchain do Bitcoin, segundo levantamento da empresa de análise Santiment, caiu para o mínimo de três anos nesta semana. Na prática, isso significa menos pagamentos, taxas de mineração e depósitos e saques nas exchanges.

Alavancagem e liquidações

Luísa Pires, head de criptoativos da Levante, disse que a alavancagem na indústria de criptomoedas ajudou a jogar a indústria em um cenário incerto e com risco elevado de eventuais liquidações em cadeia, o que de fato ocorreu, derrubando o preço da cripto.

Entre os dias 17 e 18 deste mês, mais de US$ 1 bilhão em posições de Bitcoin foram liquidadas, de acordo com dados da plataforma Coinglass. A criptomoeda, que tem uma capitalização de quase US$ 530 bilhões, conforme o agregador CoinGecko, caiu 5,7% naquelas 24 horas.

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“A sangria de todos esses contratos abertos e posições em futuros resultaram em uma diminuição de 20% no interesse em aberto, um ‘reset’ doloroso por natureza, mas necessário para a construção de uma evolução saudável do mercado”.

Curto a médio prazo

O desempenho de curto a médio prazo, segundo Luísa, está amarrado diretamente a eventos externos, tanto na esfera macroeconômica como regulatória. Segundo ela, o cenário monetário americano e a liquidez existente no mercado de risco continuam sendo o driver central do mercado de criptoativos.

“Dessa forma, o decorrer da inversão da curva dos juros é o principal evento a ser observado. Posicionamentos mais dóceis do Fed em relação à política monetária devem ser o gatilho final para o início do bull market. A questão é quando isso irá ocorrer”.

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Na semana passada, durante o 46º simpósio anual de Jackson Hole, no Wyoming (EUA), o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que está preparado para elevar ainda mais a taxa de juros para conter a inflação, o que deixou o mercado com medo de futuros aumentos.

O investidor seed do setor cripto, Caio Villa, disse para a reportagem que as perspectivas para o Bitcoin no curto e médio prazos são imprevisíveis, mas alguns fatos podem estimular a alta, e um dos principais é a aprovação do tão aguardado ETF (fundo negociado em Bolsa) de Bitcoin spot (à vista).

“Eu acredito que uma possível aprovação só vá acontecer em janeiro de 2024 e, isso sim, pode ser um grande catalizador no médio prazo, pensando no mercado cripto como um todo, não apenas no Bitcoin, porque vai ser o primeiro ETF spot aceito nos EUA”.

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A corrida para a aprovação do primeiro fundo de índice do país está a todo vapor. Na terça-feira (28), um tribunal de apelações anulou uma decisão da SEC que impedia a conversão do principal fundo de Bitcoin da Grayscale, a maior gestora de ativos digitais do mundo, em um ETF com exposição à criptomoeda.

Além disso, o prazo inicial para o xerife do mercado de capitais dos Estados Unidos decidir sobre os registros de fundos negociados em Bolsa feitos por gestoras como Bitwise e BlackRock vence nesta semana. Boa parte dos players acredita que a autarquia federal irá adiar a decisão, assim como fez com a Ark Invest.

Futuro

A queda do mês cria um ambiente saudável para novas altas no longo prazo, acredita Luísa. Segundo ela, o nível de incerteza sobre o futuro do Bitcoin é extremamente baixo em um cenário de sincronização de política monetária amigável, aprovação de um mecanismo de entrada de capital institucional e o halving do Bitcoin.

“É importante destacar que, mesmo com a queda de 10%, o otimismo é uma virtude uniforme em todo mercado, e diariamente observamos colocações de instituições de grande magnitude, do mercado tradicional ou da própria esfera da indústria criptográfica”, falou.

O halving, uma atualização na rede da criptomoeda prevista para acontecer em abril de 2024, é um evento que corta pela metade a emissão de unidades de Bitcoin. Na prática, a recompensa paga hoje aos mineradores passará dos atuais 6,25 para 3,125 unidades de BTC.

“Historicamente, [o halving] é um ponto de virada do ativo e um grande impulsionador de preços”, disse o especialista em inovação financeira Bruno Diniz.

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