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SÃO PAULO – A renomada gestora SPX é conhecida – e reconhecida – por suas carteiras de ações e multimercados. Mas tem apostado cada vez mais também nos fundos de crédito.
As visões do sócio responsável pela área de crédito da SPX, Beny Parnes, e do gestor Albano Franco, da mesma casa, sobre o cenário de crédito e juros foram o assunto do episódio 37 do podcast Outliers, apresentado por Samuel Ponsoni, gestor dos fundos de fundos Selection na XP.
Veterano de mercado e oriundo da “escola BBM”, banco em que atuou como por muitos anos, Parnes também foi diretor do Banco Central. Ele se juntou à SPX há cerca de oito anos, inicialmente atuando como economista-chefe. Desde meados de 2019, no entanto, vem liderando a montagem da área de crédito da gestora.
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Para tanto, uma das principais “peças” trazidas por Parnes foi Franco, que antes de chegar à SPX, em 2019, foi sócio e o gestor responsável pelos fundos de crédito da asset do BTG Pactual.
As lições das crises e a “Lei de Lavoisier” do risco
Ao mencionar algumas das principais crises de crédito que já testemunhou, Parnes destaca a de 2008, em que o sistema bancário americano quase colapsou. “Em geral, todas as crises bancárias são causadas por descasamentos. Seja o descasamento de moeda, em que se toma [dinheiro emprestado] em uma moeda e se compra um ativo em outra moeda […], seja o descasamento de prazo [entre ativo e passivo]”, falou ao Outliers. “O ativo do banco, em geral, é mais ilíquido do que o seu passivo”.
Parnes afirma que o risco do descasamento está sempre presente e diz que é a “Lei de Lavoisier” do risco: “O risco não se perde e nem se cria, ele vai se transformar. E às vezes você não consegue saber onde ele está”.
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Das grandes lições extraídas das crises, tema em que a SPX tem expertise, Parnes elenca que as instituições, em geral: 1) não devem olhar somente para seus clientes, é preciso olhar em volta e saber o que as outras empresas estão fazendo também, pois é possível ser contaminado sem necessariamente estar tomando riscos desmedidos; 2) ficar sempre atento a descasamento de prazos; 3) não ter limites para a pesquisa de crédito.
Uma gestora macro e de ações chega aos fundos de crédito
Dentre os motivos para a SPX ingressar no universo dos fundos de crédito, Parnes destaca o desejo da empresa de ampliar seu escopo de atuação e, assim, ter mais classes de ativos para serem exploradas pelos multimercados. Fora isso, segundo Parnes, a pesquisa na área de crédito, além de ser sinérgica com uma área robusta de análise de ações que já existia, geralmente traz muita informação que ajuda nas discussões do time de macro.
Por fim, ele destaca a vantagem de poder nascer internacionalizada, explorando não só os ativos de crédito no Brasil, mas também fora do país – principalmente nos Estados Unidos.
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O cenário atual para crédito: preço e fundamento nem sempre andam em sintonia
“Uma coisa é fundamento, outra coisa é preço. Eles não estão [sempre] necessariamente coordenados”, afirma Parnes, ao detalhar o cenário atual no Brasil, onde enxergava os preços dos ativos de renda fixa até pouco tempo atrás “completamente descoordenados dos fundamentos”. Ele se refere ao juro real (taxa paga pelos títulos públicos acima da inflação) que estava “totalmente fora da realidade dos fundamentos do país”.
Agora, no entanto, entende que o Brasil “está voltando à realidade”, com os juros reais já valendo o investimento. Ele não acha que o nível atual atrairia uma “massa de investidores” para o Brasil, mas já é suficiente para que o investidor não queira tirar o dinheiro do país.
Por aqui, enxerga na inflação o grande problema a ser enfrentado, com o Banco Central atrasado na atuação para combater a alta generalizada dos preços, mas tentando correr atrás do tempo perdido. “O Banco Central largou dos boxes, mas agora está queimando pneu, querendo chegar”.
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Lá fora, enxerga que a detecção de um cenário de inflação também mais alta levará a condições monetárias “mais apertadas”, com a diferença de que aqui no Brasil os investidores já acham os níveis das taxas atrativos. No exterior, por outro lado, de uma maneira geral, os preços dos ativos de crédito ainda não são convidativos, sendo necessário olhar muito no detalhe setores ou oportunidades específicas, sem ser possível investir de maneira mais ampla em qualquer ativo ou setor.
Parnes não vislumbra nenhuma crise no horizonte, mas não acha que o balanço entre risco e retorno dos ativos de crédito no exterior está tão atrativo, o que leva a gestão a focar nas opções mais “idiossincráticas”.
Como operar crédito internacional de maneira protegida
Franco cita que, para conseguir montar uma carteira de crédito internacional que tenha algum nível de proteção, a equipe de gestão tem utilizado posição vendida em títulos americanos (as “Treasuries”), que ganha caso as taxas desses títulos subam.
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Essa posição foi uma das principais responsáveis por ajudar os fundos com exposição internacional a ficarem no terreno positivo nos últimos meses, mesmo com a queda do mercado como um todo.
No Brasil, Franco enxerga ainda como atrativas as taxas pagas pelos títulos privados de uma maneira geral, citando o “spread de crédito” (taxa paga acima dos títulos públicos) ainda mais elevada do que os níveis pré-pandemia. Além disso, entende que o risco das empresas hoje é menor, se comparado ao momento anterior à crise, com muitas companhias tendo melhorado seu perfil de crédito ao longo dos últimos 18 meses, apesar da crise.
Franco cita também o fato de que o fluxo positivo de captação dos fundos de crédito também beneficia os ativos, sustentando sua valorização.
Por fim, relembra que a necessidade dos investimentos em infraestrutura no país é gigante e há muitos projetos a serem financiados, o que abre espaço para ainda muitas emissões de crédito ao longo dos próximos anos, dando aos gestores alguma tranquilidade no sentido de ter muitas opções para se escolher.
A entrevista com Beny Parnes e Albano Franco, assim como os episódios anteriores do Outliers, podem ser conferida pelo Spotify, Deezer, Spreaker, Apple e demais agregadores de podcast.
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