BC viu que credibilidade importa, diz Verde, que reduziu aposta no dólar

Em carta, Verde disse que a curva de juros brasileira já precifica um ciclo de altas “significativo”, mas que a casa aguarda para ver se a elevação será mesmo entregue pela autoridade monetária

Bruna Furlani

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O tom da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), lido como duro por agentes financeiros, assim como as declarações recentes feitas pelo diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, foram fundamentais para melhorar o humor no mercado local nos últimos dias, na avaliação da Verde Asset Management.

“O Banco Central parece ter percebido que credibilidade é um fator importante na formação expectativas, e sinalizou um tom mais duro em comunicados e discursos recentes”, destacou a gestora comandada por Luis Stuhlberger, em carta publicada na última segunda-feira (12).

O mercado de juros e de dólar apresentaram boa reação após falas de Galípolo, nos últimos dias, em que o diretor afirmou que “uma alta da Selic está na mesa” e que o colegiado fará “aquilo que for necessário” para perseguir a meta de inflação.

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Em evento da Warren Investimentos na segunda, Luiz Parreiras, portfolio manager na Verde, também mencionou que as últimas movimentações do BC foram benéficas para os mercados, mas ponderou que a manutenção da credibilidade da autoridade monetária é um processo demorado.

“É difícil e não vai ser feito com uma ou duas falas, mas está na direção correta. O mercado foi muito claro ao dizer que mais credibilidade é igual a um prêmio de risco menor. Essa conclusão é inexorável”, justificou Parreiras.

Na carta, a Verde disse ainda que a curva de juros brasileira já precifica um ciclo de altas “significativo”, mas que a casa aguarda para ver se a elevação será mesmo entregue. No evento de ontem, Parreiras avaliou que será muito difícil trazer as expectativas de inflação de volta para o controle sem uma alta da Selic ainda em 2024.

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Mudanças na carteira

A virada de mês também foi marcada por alterações na carteira da gestora, com reduções da alocação comprada (que se beneficia da apreciação) em dólar e de posições em inflação implícita (diferença entre a taxa de juros nominal e a real), sob a justificativa de que casa espera um “momento melhor” para retomá-las.

“O país continua tendo dificuldades com um modelo econômico que privilegia o acelerador fiscal, demandando o freio monetário”, justificou a Verde.

Por outro lado, a casa optou por iniciar uma posição relativa entre a inflação americana e a europeia e por manter alocações em ações, tanto no Brasil quanto fora, assim como posições tomadas (que se beneficiam da alta) em juros real nos Estados Unidos.

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A gestora também permaneceu com uma alocação comprada em dólar contra o real e em moedas como a rúpia indiana, financiada por posições vendidas (que se beneficiam da depreciação) no euro e no renminbi chinês, tendo zerado também o dólar de Taiwan. Da mesma forma, a Verde seguiu com uma posição em crédito high yield (maior retorno e risco) local e global.

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Turbulência por fatores “´técnicos”

A gestora lembrou que as últimas semanas foram de forte turbulência no cenário externo. Por um lado, disse, o balanço entre a inflação e o emprego nos Estados Unidos mostrou-se mais “assimétrico”, à medida que a taxa de desemprego avançou lentamente. Nesse sentido, a casa destacou que se consolidou entre agentes mercado o cenário para corte de juros nos EUA em setembro.

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Por outro, a Verde afirmou que o Banco Central do Japão (BoJ) passou a adotar uma postura mais dura, o que levou a uma alta forte do iene e ao desmonte de várias posições em ativos correlatos. Apesar do forte abalo gerado no mercado recentemente, a gestora defendeu que a causa dos movimentos parece ligada a “fatores técnicos mais do que por qualquer outra variável”.