BBB 23: Amanda leva o maior prêmio diante dos juros mais altos desde 2016; onde investir tanto dinheiro?

Junto com a bolada vem a responsabilidade para gerir os recursos, para que o dinheiro não 'seque"; gastar e ajudar os outros é bom, mas o melhor é planejar

Neide Martingo

Na edição de 2023, BBB acumulou mais 30 patrocinadores. Foto: Reprodução/TV Globo
Na edição de 2023, BBB acumulou mais 30 patrocinadores. Foto: Reprodução/TV Globo

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O Brasil conheceu, na madrugada desta quarta-feira (26), a vencedora do Big Brother Brasil 23. Mas Amanda, a jogadora que se deu bem na tarefa de sair milionária da “casa mais vigiada do Brasil”, não pode dar como finalizado o seu grande desafio.

Ela volta para a realidade com R$ 2,88 milhões no bolso, o maior prêmio já oferecido pelo reality show da TV Globo. Mas para que a ganhadora faça o dinheiro trabalhar para si, precisará de planejamento – de modo a não transformar o prêmio em um problema.

Basta dar uma olhada nas histórias de prejuízo de participantes anteriores. Rodrigo Cowboy investiu em negócios que não deram certo (comprou mil bezerros) e perdeu R$ 500 mil que ganhou no BBB 2. Dhomini, vencedor do BBB 3, atualmente vende cosméticos com a esposa. O dinheiro do prêmio foi usado para comprar postos de gasolina e imóveis. Perdeu tudo.

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Cida Santos, vencedora do BBB 4, quitou dívidas e emprestou boa parte dos seus R$ 500 mil para amigos e parentes – mas até a casa que comprou teve de ser leiloada. No BBB 10, o prêmio já era de R$ 1,5 milhão – e também virou vendaval nas mãos do ganhador, Marcelo Dourado. Ele emprestou parte dos recursos; outra parte, usou em jogos de azar.

Amanda tem um ponto a seu favor: desde que a goiana Munik Nunes ganhou a edição 16 do programa os vencedores não ganhavam a “bolada” em um ambiente de juros tão elevados quanto os atuais – a Selic está em 13,75% ao ano atualmente. São mais de 10 pontos percentuais acima da taxa que a paraibana Juliette encontrou quando venceu o BBB 21, de 3,5% ao ano.

O InfoMoney ouviu especialistas para saber quais são os melhores destinos para o dinheiro neste ano, levando em conta os juros altos e a turbulência econômica.

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Em pelo menos um aspecto as sugestões de quem entende do riscado se encontram: priorizar o pagamento das dívidas. “O caminho é negociar e quitar as pendências financeiras o mais rápido possível, à vista. Não se pode deixar de lado o fato de que os juros por atraso são muito elevados”, diz Wanessa Guimarães, planejadora financeira e sócia da HCI Invest. Caso a dívida seja muito alta ou supere o valor do prêmio, o indicado é negociar e pagar em parcelas.

O próximo passo é multiplicar o dinheiro que sobrar. A sugestão de Wanessa é escolher uma carteira diversificada de investimentos, respeitando sempre o perfil de risco (conservador, moderado ou agressivo) e buscar uma melhor rentabilidade, alinhado com objetivos futuros.

Wanessa sugere que o investidor, seja ele ganhador do BBB ou não, tenha as orientações de um profissional de confiança. “Os sonhos podem ser realizados com cautela. Até mesmo a compra de uma casa para um familiar deve ser pensada durante o o processo de acumulação e multiplicação desse patrimônio. A primeira vontade é de consumir o dinheiro, quando deveria ser a de perpetuá-lo, para que dure até o fim da vida, aproveitando a própria imagem para gerar contratos”.

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Outro ponto de atenção, segundo ela, são as pirâmides financeiras. “É muito comum esse público ser assediado por estruturas que não são autorizadas pelo Banco Central ou pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), porque é de conhecimento público que a pessoa recebeu um prêmio. São operações fraudulentas e, com elas, o investidor corre um sério risco de perder todo o capital”. Uma dica de Wanessa: manter a cabeça no lugar e esperar o tempo pra tomar decisões.

Os familiares que participam da comemoração podem querer, muitas vezes, uma parte desse quinhão. E a pessoa acaba dilapidando todo o prêmio que recebeu. “Trata-se de patrimônio que, se não houver disciplina, monitoramento e uma visão de multiplicação dos recursos, acaba rapidamente”.

Daniela Casabona, consultora de investimentos da FB Wealth, indica à recém-milionária – e a quem mais tiver um valor alto para investir – ter em mente que é preciso diversificar, independentemente do momento, principalmente para se proteger das oscilações de longo prazo.

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Para aproveitar as altas taxas de juros, o investidor deve manter um bom volume em ativos de liquidez, para usar tanto como oportunidade quanto para segurança: 45% podem ser mantidos em caixa, uma vez que a Selic está favorável para isso. “Outro investimento conservador, mas que tem grande potencial, são os ativos isentos de Imposto de Renda, de curto e médio prazos. Para esse fim, seria ideal destinar 20%”.

Os títulos isentos de IR são os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio), LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), além das debêntures incentivadas.

A especialista sugere que 35% sejam destinados para ativos que buscam boa rentabilidade no longo prazo: 10% em fundos multimercados, 10% em ações e 15% em ativos alternativos, ligados ao agronegócio ou a investimentos no exterior.

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Turbulência

Como o momento é de instabilidade econômica, tanto no Brasil quanto fora, dada a necessidade de conter a inflação, a indefinição política e questionamentos fiscais, um bom destino para tanto dinheiro é a renda fixa, na visão do especialista em investimentos Fabrizio Gueratto.

“Seria 1% ao mês, líquido, que daria uma renda de R$ 28 mil por mês. É preciso levar a inflação em conta, senão o dinheiro vai perdendo valor. Um bom caminho, além desse, é fazer uma diversificação dentro da renda fixa, com debêntures, títulos públicos, CRIs  e CRAs, CDBs e letras de crédito, priorizando os que têm a proteção do Fundo Garantidor de Crédito [FGC]”.

O valor máximo coberto pelo FGC é de R$ 250 mil por CPF ou CNPJ em cada conglomerado financeiro. Esse limite é válido para a soma de produtos cobertos pelo FGC que o investidor tem em determinado conglomerado. Por exemplo, se um investidor tiver R$ 200 mil na conta corrente e R$ 200 mil em CDBs, e o banco sofrer uma intervenção, o valor coberto será de R$ 250 mil.

Por isso, Gueratto destaca que o melhor é não destinar mais do que R$ 200 mil a um único papel. “Nesse momento de instabilidade, é melhor não ‘inventar moda’, até o cenário econômico começar a se desenhar melhor. O ideal é deixar o dinheiro na renda fixa por pelo menos três meses”. O especialista, no entanto, diz que no mercado secundário é possível encontrar ativos de renda fixa que oferecem até 125% do CDI, com vencimentos não muito longos.

“Armadilhas comportamentais”

Nem só de BBB se fazem milionários: quem vence uma demanda jurídica, ganha na loteria ou recebe uma herança também vive, de uma hora para outra, situação parecida com a de Amanda, lembra Aquiles Mosca, responsável pela área comercial e de marketing do BNP Paribas Asset Management.

Nesses casos, o investidor se vê em meio a algumas “armadilhas”, principalmente comportamentais, que devem ser evitadas para que o indivíduo consiga manter a independência financeira ao longo do tempo, diz Mosca.

O primeiro ponto é uma tendência comum, chamada autoindulgência (quando alguém desculpa os próprios erros e aceita com facilidade seus defeitos). “A pessoa merece ter um certo prazer no curto prazo, mas isso não deve comprometer a totalidade ou a maior parte dos recursos, que devem servir para assegurar a manutenção da independência financeira”, indica Mosca.

A vontade de ajudar os outros, já mencionada por Wanessa Guimarães, da Planejar, é um ponto também prioritário. “A generosidade é um sentimento muito nobre. É necessário, porém, ter um certo egoísmo, porque o futuro do investidor depende da sua capacidade de gerir com disciplina”, explica. “Muitas pessoas acabam liquidando os recursos por conta da vontade de ajudar”.

Mosca usa uma expressão “técnica” das finanças comportamentais para falar sobre mais um perigo: o desconto hiperbólico, um viés cognitivo que faz as pessoas darem maior valor para o hoje do que para benefícios futuros. “O indivíduo pode acabar gastando tudo muito rapidamente no presente”.

Para evitar tudo isso, diz ele, é preciso ter planejamento financeiro. “A maioria das pessoas não tem conhecimento ou paciência para fazer isso. O indicado é ter a ajuda de um planejador”.

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney