BB Seguridade (BBSE3) vira preferida para estratégias de dividendos para 2023 após 3º trimestre robusto

Outras seguradoras, como Caixa Seguridade e Porto Seguro, também se destacaram na última temporada de balanços, assim como Telefônica e Engie

Katherine Rivas

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Enquanto o mercado começa a ventilar a possibilidade de que a Selic, taxa básica de juros, não recue tão cedo em 2023, algumas figurinhas carimbadas entre os investidores que buscam dividendos brilham com luz própria e prometem ser destaques no próximo ano. É o caso de BB Seguridade, além de Caixa Seguridade e Porto Seguro.

Juros elevados são sinônimo de risco para algumas companhias, porque elevam os custos e aumentam a inadimplência dos consumidores. Não para o setor de seguros, que deve ver os lucros engordando ainda por alguns meses.

Esta fartura se justifica no float financeiro: mensalmente, as empresas arrecadam os “prêmios” – os valores pagos pelos clientes que adquirem seguros – e os mantêm investidos, geralmente em papéis de renda fixa ou em ativos de alta liquidez. As seguradores só precisarão gastar esses valores se o seguro for acionado, em caso de sinistro. Até lá, o dinheiro permanece rendendo juros.

A empresa tem ganho operacional se, em um determinado período, entre prêmios arrecadados e gastos com sinistros, houver sobra – ou float excedente. Como os valores rendem por estarem investidos, há também ganho financeiro. É por este motivo que quando a Selic sobe, a lucratividade das seguradoras é maior – e os seus dividendos aumentam.

Segundo analistas consultados pelo InfoMoney, a BB Seguridade (BBSE3) foi o destaque da temporada de balanços do terceiro trimestre, e a empresa segue como uma das principais apostas na renda passiva para 2023.

A companhia lucrou R$ 1,652 bilhão no terceiro trimestre, um crescimento de 69,3% na comparação com mesmo período de 2021. Segundo a BB Seguridade, o resultado foi “impulsionado pelo forte desempenho comercial em seguros, previdência e capitalização, melhora da sinistralidade e crescimento do resultado financeiro”.

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A BB Seguridade também revisou as suas projeções para o ano de 2022 como um todo, prevendo um crescimento entre 15% e 20% no resultado operacional, não decorrente de juros. A seguradora também espera aumento de até 25% nos prêmios da Brasilseg e crescimento entre 9% e 13% das reservas de previdência.

A empresa paga dividendos semestralmente, sempre em fevereiro e agosto. A expectativa é de que os proventos referentes ao segundo semestre de 2022 sejam depositados em fevereiro de 2023.

Para Niels Tahara, head de análise fundamentalista da Benndorf Research, a BB Seguridade chamou atenção pelo seu forte crescimento no resultado financeiro. “A empresa evoluiu no aumento dos prêmios e se beneficiou com a redução de sinistralidade [custo pela utilização dos seguros] nos principais negócios”, afirma.

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Segundo Tahara, uma das principais vantagens da BB Seguridade é o fato de ofertar seus seguros no Banco do Brasil, seja via agências, plataforma do banco ou na internet. Já o risco é a queda rápida dos juros, que elevaria a sinistralidade, algo que na visão do analista não deve ocorrer tão cedo. “Esperamos que a tendência de bons resultados se mantenha no quatro trimestre e em 2023”, afirma. Ele projeta um dividend yield (taxa de retorno com dividendos) de entre 9% e 10% para o próximo ano.

O otimismo é partilhado por Guilherme Tiglia, sócio e analista da Nord Research, que também enxergou com bons olhos os resultados da seguradora no terceiro trimestre e tem a companhia como uma das três principais escolhas para dividendos no próximo ano. Sua projeção é de um dividend yield de 9% para 2023. “Perfil defensivo, forte consistência nos resultados, negociando a 11 vezes o seu lucro. A recomendação é comprar BB Seguridade”, destaca.

Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest, também recomenda a BB Seguridade, com estimativa de dividend yield de 8,7% para 2023.

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Outras seguradoras na mira

A BB Seguridade não foi o único destaque da temporada de balanços. A lista de preferidas inclui Caixa Seguridade (CXSE3) e Porto Seguro (PSSA3).

Tahara, da Benndorf, projeta dividendos em torno de 10% para Caixa Seguridade em 2023, dados os ganhos com os juros elevados. O analista cita que no terceiro trimestre a seguradora chegou a anunciar uma distribuição de mais de R$ 1 bilhão em dividendos, representando um yield de cerca de 4% considerando a cotação da data-ex, de R$ 8,85. “A expectativa é de que a companhia continue com o bom desempenho no quarto trimestre, dado o aumento da penetração no ambiente Caixa, aumento dos prêmios ganhos e um ótimo desempenho da operação de corretagem”, diz.

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Questionado sobre riscos relacionados ao novo governo em Caixa Seguridade e BB Seguridade, ambas companhias estatais, Tahara defende que nas empresas de seguro a interferência é menos provável, uma vez que as políticas públicas são realizadas geralmente via concessões de crédito por meio da Caixa e Banco do Brasil. “Além disso, é de interesse da Caixa Econômica Federal que a Caixa Seguridade pague bons dividendos, dado que estes também são recebidos pela companhia”, exemplifica.

A Porto Seguro é outra que atraiu os olhares do mercado. Nos cálculos de Biz, do GuiaInvest, a companhia vai entregar um dividend yield de 7,1% em 2023 e é outra escolha da casa. “Porto Seguro está apresentando números sólidos, com uma operação mais eficiente e melhorando o seu resultado financeiro com uma carteira diversificada”, avalia.

Marina Braga, sócia e gestora da Oby Capital, reforça que a Porto Seguro deve entrar no grupo de boas pagadoras de dividendos em 2023 dada a expectativa de aumento de 50% do lucro líquido em relação a 2022. O único risco da companhia, segundo Biz, é não conseguir repassar os preços dos seguros em linha com a inflação do período.

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Entre os grandes bancos, a visão do mercado sobre os dividendos relativos ao terceiro trimestre é dividida. Alguns foram bem, mas o futuro de outros é considerado difícil.

Tiglia, da Nord, cita como destaques Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3), que apresentaram evolução nos lucros no terceiro trimestre, com incremento da margem financeira, crescimento da carteira de crédito e inadimplência em patamares razoáveis.

O analista acredita que Itaú atravessa um momento de maior necessidade de capital para expandir a carteira de crédito, o que se traduz em um payout (parcela do lucro destinada a proventos) inferior, se comparado com o pré-pandemia. Contudo, ele cita que o banco não vai deixar de agregar valor para o acionista.

Já o Banco do Brasil se encontra em um bom momento, de acordo com Tiglia, com bons resultados e projeções, mas também com o risco de interferência política no novo governo, que pode colocar em xeque dividendos futuros e destruir valor para os acionistas.

Os bancos também se beneficiam de taxas de juros elevadas, destaca Tiglia, mas é importante o investidor ficar atento aos riscos macroeconômicos como a inadimplência e necessidade de provisionamentos.

Apesar do cenário otimista, o risco político em Banco do Brasil incomoda Tiglia. Já analistas como Tahara, da Benndorf, acreditam que os resultados do banco ainda devem vir bons no quarto trimestre e em 2023, uma vez que uma eventual interferência levaria tempo até afetar o desempenho. Ele projeta um dividend yield de 12% para o Banco do Brasil no próximo ano.

Para Bradesco e Santander, as perspectivas são pessimistas. Segundo Biz, por terem uma carteira concentrada no varejo, estes bancos sofrem mais com a inadimplência. “As provisões para devedores duvidosos deterioraram os resultados e não devemos ver melhoras no curto prazo”, afirma. Biz só acredita em melhora a partir do segundo semestre de 2023.

Marina, da Oby Capital, também acredita que Bradesco e Santander são os que vão enfrentar mais dificuldades, com aumento da inadimplência das pessoas físicas e das micro e pequenas empresas, o que pode prejudicar a rentabilidade e capacidade de crescimento dos dividendos.

Commodities desapontam

No segmento de commodities metálicas, Tahara destaca que todas decepcionaram, com exceção da Gerdau (GGBR4). As mineradoras e siderúrgicas, como Vale (VALE3), CSN (CSNA3), CSN Mineração (CMIN3) e Usiminas (USIM5), sentiram os impactos da atividade econômica fraca na China, menos demanda por minério de ferro e queda nos preços do aço.

“Por conta da baixa visibilidade da economia global e da economia chinesa, que afeta diretamente o setor, não indicaríamos CSN e Usiminas para uma estratégia de dividendos”, destaca.

Já Gerdau e Vale ainda podem ser uma opção interessante para os próximos trimestres, por conta do valuation (preço) descontado, o que deve se traduzir em um dividend yield interessante e maior resiliência nas operações, afirma Tahara. A projeção do analista é de dividendos de 14% para a Gerdau em 2023 e 9% para a Vale.

“Por ter menor exposição à China e maior diversificação nas operações, com os resultados da América do Norte, a Gerdau apresentou aumento de eficiência, o que contribui para os bons dividendos”, reforça.

Para Marina, da Oby Capital, mesmo com uma possível desaceleração da economia global, o crescimento chinês em 2023 deve ser maior do que neste ano, com o fim da política de Covid zero, beneficiando empresas de matérias-primas e favorecendo os proventos. “ Ainda acreditamos na força das produtoras de commodities, apoiadas em estrutura de capital desalavancada, baixa necessidade de Capex [investimento] e reabertura da economia chinesa”, diz.

No segmento de commodities não metálicas, Tahara enxerga boas oportunidades para dividendos no setor de papel e celulose, com Klabin (KLBN4) e Irani (RANI3), que reportaram “excelentes” resultados no terceiro trimestre e vêm aumentando os dividendos.

“No caso de Klabin, o preço da celulose tem se mantido em patamares elevados por mais tempo do que o esperado. Já para Irani, o preço do papel também tem se sustentado, enquanto a companhia vem apresentando um crescimento forte e aumentando sua distribuição de dividendos”, avalia.

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Vale (VALE3) ou Gerdau (GGBR4): quem reserva mais dividendos no setor de commodities metálicas?

Telecom e energia elétrica no radar

Os analistas consultados pelo InfoMoney também manifestaram otimismo com os setores elétrico e de telecomunicações, com destaque para Engie (EGIE3) e Telefônica Brasil (VIVT3).

Tiglia destaca que empresas que atuam na geração de energia, com foco na parte hídrica, apresentaram um bom desempenho operacional no terceiro trimestre pelo nível dos reservatórios e o incremento da geração. “O quarto trimestre tende ainda a ser favorável, uma vez que estamos entrando em um período de forte volume de chuvas”, afirma. Para o analista, a crise hídrica foi superada.

Na visão dele, a Engie seria a opção mais segura e interessante do segmento, com capacidade de entregar um dividend yield de 10% em 2023. “Considerando o bom histórico de desempenho operacional e pagamento de dividendos aos acionistas, a Engie Brasil deve continuar sendo uma ótima escolha para quem quer receber dividendos em 2023”, afirma.

Como vantagens, Tiglia destaca a diversificação da Engie, que além de geradora está buscando entrar na transmissão de energia e tentando diminuir o risco hidrológico, com investimentos em energia eólica e solar. O analista também tem bons olhos para a gestão e administração da empresa, com endividamento controlado e previsibilidade de resultados nos projetos em andamento.

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Já no setor de telecomunicações, a preferência dos agentes de mercado é por Telefônica Brasil. Biz destaca que há espaço para o crescimento do setor por conta do 5G e infraestrutura de fibra ótica. “Um dos pontos fortes destas empresas é a essencialidade do serviço que prestam, os clientes priorizam o pagamento nesse tipo de contas que consideram essenciais no seu dia a dia”, avalia. Isso garante uma geração de caixa mais estável, fundamental para pagar dividendos de forma constante. Ele projeta dividend yield de 7,5% para VIVT3 em 2023.

Já para Tiglia, da Nord, a expectativa é de dividendos de 7% para Telefônica em 2023. Ele destaca os ganhos de sinergia com a incorporação da Oi Móvel. “Telefônica conta com um modelo de negócios resiliente, focado no desligamento de serviços legados com cada vez mais exposição a frentes de maior retorno, baixa alavancagem financeira, valuation atrativo”, diz.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.