BC pode ficar a ‘reboque dos fatos’ ou ‘pagar para ver’ no próximo Copom, diz Tony Volpon

Ao comentar sobre a recente apreciação do dólar contra o real, estrategista diz que movimento pode não ser duradouro

Bruna Furlani

Tony Volpon, estrategista-chefe da gestora WHG e ex-diretor do BC
Tony Volpon, estrategista-chefe da gestora WHG e ex-diretor do BC

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Depois de ter feito declarações vistas como confusas em termos de comunicação por alguns membros do mercado, o Banco Central deve adotar dois tipos de postura no próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom): ficar a “reboque dos fatos e ir apenas reagindo”, ou “acreditar que já fez bastante e pagar pra ver”.

Essa pelo menos é a opinião de Tony Volpon, estrategista-chefe da gestora WHG e ex-diretor da autoridade monetária.

Para ele, o avanço abaixo do esperado pelo mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15), divulgado na última quarta-feira (27), é mais uma sequência de dados ruins do que uma surpresa positiva. E, portanto, não é um número a ser comemorado. Nas projeções da WHG, o IPCA cheio deve encerrar o ano em 7,8% e a Selic em 13,5%.

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Ao comentar sobre a recente apreciação do dólar contra o real, o estrategista diz que o movimento pode não ser duradouro. Ele afirma que, no longo prazo, a valorização vai depender de duas coisas: como a China irá lidar com o surto de Covid-19; e se o Federal Reserve, banco central americano, vai estar determinado a levar a inflação para a meta e, assim, colocar a economia americana em recessão. Nas estimativas da gestora, a moeda americana deve terminar 2022 em R$ 4,90.

Sobre alocação, Volpon destaca que o momento para se posicionar em prefixados talvez esteja próximo e que há uma chance de que ele seja o melhor cavalo em breve.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

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O IPCA-15 de abril veio abaixo do esperado pelas projeções de mercado. Qual é a análise que faz dos números? 

É verdade. O headline [1,73% de avanço] veio melhor do que o esperado. A visão do nosso economista é que se olharmos pra dentro, a difusão mostrou que o número não veio muito bom. Agora, quando quase todos os números de inflação estão vindo para cima, é bom ter um número abaixo do previsto. Ainda assim, não é um número a ser comemorado, na minha visão.

Como o BC deve ler esses dados? 

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Eu não vejo esses números [do IPCA-15] como sendo alguma coisa que vai fortemente influenciar o BC. É mais um número que vem em uma sequência de números ruins do que uma surpresa positiva. O BC vem sofrendo forte pressão, em parte pelo mercado, em parte pelos dados que não estão ajudando. Se o BC for guiado pelo mercado e pelos fatos de curto prazo, o petróleo voltar a subir e a expectativa do [Relatório] Focus subir, ele pode ir adicionando juros até o momento em que ele acreditar que já fez o suficiente ou acreditar que vai “esperar para ver”.

Como assim? 

Eles pareciam que estavam articulando elevar os juros até 12,75% na reunião agora de maio. Veio o IPCA e o Roberto Campos Neto balançou. Depois, em reuniões do FMI [Fundo Monetário Internacional] e fechadas, ele e alguns diretores sinalizaram que não estavam dispostos a ir além. Tem tido uma confusão em termos de comunicação nessas falas [de dirigentes do BC] entre as reuniões. Vamos ver o que acontece na próxima reunião. Vejo que o BC pode adotar duas posturas: ficar a ‘reboque dos fatos’ e ir apenas reagindo, ou acreditar que já fez bastante e ‘pagar pra ver’.

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A subida mais intensa do dólar em relação ao real nos últimos pregões foi um movimento mais passageiro ou pode ser definitivo? 

O dólar subiu de R$ 4,60 para cerca de R$ 5. No curto prazo, os temores vão recair sobre o Fed [banco central americano]. Os dirigentes falam bastante. O que tem ocorrido é que o Fed comunica o que vai fazer e o mercado cai antes da reunião e sobe quando o encontro ratifica o que estava precificado. Seria o ‘cai no boato e sobe no fato’, ao contrário do que acontece geralmente. No curto prazo, com os mercados confirmando que a elevação vai ser de 50 bps [0,50 ponto percentual], os mercados voltam a se recompor, o real volta a se apreciar e deve ficar por volta de R$ 4,80. A Bolsa deve voltar um pouco.

E no longo prazo? 

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Olhando mais pra frente vai depender de dois fatores. Primeiro, como a China vai lidar com o surto da Ômicron, se vai vacinar, se vai ter lockdown, se vai durar semanas, meses ou até o fim do ano. Outro ponto é que haverá um congresso do partido comunista para levar o Xi Jinping [atual presidente chinês] ao terceiro mandato. Isso pode ser chave, já que a China voltou a ser elemento de precificação do mercado. Além disso, há o Fed. Se o banco central americano estiver determinado a levar a inflação para a meta, penso que não há como fazer isso sem levar o país a uma recessão. Temos agora uma inflação alta e um desemprego baixo. Não dá pra fechar essa ‘boca de jacaré’ sem recessão.

Qual seria a outra alternativa? 

A economia americana está pegando fogo. Não trabalha quem não quer, praticamente. Nessa situação, todos estão super hawkish [mais inclinados ao aperto monetário]. Se a inflação cair um pouco e o desemprego começar a subir, eu vejo o Fed parando pra ver o efeito e aceitando um período mais longo e gradual de convergência para a meta. Os 8% de inflação foram fruto de erro histórico de política monetária. E acho que pra cometer um segundo erro, eles vão ser mais graduais no ajuste e deixar a inflação correr por mais tempo. Um mundo mais inflacionário tende a ser bom para o Brasil.

Diante dos bloqueios vistos na China, um possível aperto mais rígido do Fed, o que mudou na alocação dos fundos ou da parte de gestão de fortunas da casa? 

Vejo que agora o mundo é de altos riscos, com um CDI [taxa de referência da renda fixa] muito alto. Eu acho que é um momento para se esconder no CDI para ver onde as coisas estão indo. Já na parte internacional, estamos subalocados em renda fixa, desde o fim do ano passado. E em fevereiro, passamos a ficar underweight [abaixo da média de mercado] em renda variável internacional. Acreditamos que é momento de tirar um pouco o pé. Em compensação, estamos marketweight [na média do mercado] na Bolsa brasileira.

Consegue explicar o porquê de estar com essa posição em Bolsa local? 

Penso que a queda do Ibovespa pode ser uma boa oportunidade de entrada porque não que o Fed vai ‘jogar tudo na parede’. Alocamos muito em fundos. Acreditamos que há vários segmentos da Bolsa que ficaram muito abaixo do valor justo.

E na parte de renda fixa local? 

Temos uma posição mais pós-fixada em títulos atrelados à inflação. Acreditamos que talvez o momento dos prefixados esteja próximo. Mas para isso, é preciso que haja relativa certeza de que chegamos ao pico da Selic e uma certeza de que a inflação está em uma tendência de queda. Com essas duas coisas, o prefixado vira o melhor cavalo.

Com relação a prazos, há alguns preferidos? 

Não há muito prêmio hoje na curva para aplicar em papéis mais longos. A curva está mais flat [mais na horizontal]. Agora, se o investidor acredita que os juros vão cair, vale a pena pular de um título mais curto para um de prazo mais longo, já que ele tem maior sensibilidade de preços a essa queda dos juros. O duration dele é maior e lucro deve ser maior.

Multimercados também podem ser um bom trunfo? 

Em momentos como esse, a alocação ótima tem que ser em produtos que entregam CDI+ [CDI acrescido de uma taxa ou prêmio], como é o caso de pós-fixados e de multimercados. De fato, nos últimos meses, os gestores brasileiros operaram muito bem as taxas de juros lá fora. Vários capturaram esse aumento de juros global. Multimercados devem ir bem. O gestor brasileiro conhece bem inflação, ao contrário do americano. Nossos gestores terão boa capacidade para performar.

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