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O Ethereum (ETH) passará na na quarta-feira (12) por uma nova atualização. Chamada de “Shanghai”, a mudança é vista como a última etapa de um processo que iniciou ainda em 2020, quando os desenvolvedores começaram a testar a implementação de uma solução de renda passiva chamada de staking.
Desde setembro do ano passado, após a atualização “Merge”, o Ethereum abandonou o sistema de mineração, apontado como vilão do meio-ambiente, e passou a se apoiar em uma estrutura de baixo consumo de energia formada por uma rede de computadores que validam transações em troca de uma remuneração na criptomoeda ETH.
Com a “Shanghai”, o Ethereum permitirá, pela primeira vez, que os donos desses computadores façam saques dos pagamentos e de seus ETH deixados em garantia — para participar, interessados devem depositar pelo menos 32 ETH no sistema, o equivalente a cerca de US$ 60 mil.
Mas, para além dos detalhes técnicos da mudança, por que alguns acreditam que o evento pode trazer impactos no preço da criptomoeda? E o que de fato essa funcionalidade de staking traz de novo para o usuário comum? Confira, a seguir, as respostas para as principais perguntas em torno da atualização.
O que é Ethereum?
O Ethereum é uma rede de computadores que hospeda o que é conhecido como smart contracts – softwares que executam regras pré-estabelecidas. Idealizado pelo desenvolvedor Vitalik Buterin, em 2014, o projeto se tornou uma plataforma popular para o desenvolvimento de aplicativos de negociações, jogos e colecionáveis digitais que não são controlados por uma única entidade — por isso, são considerados descentralizados.
As transações na plataforma são registradas em uma blockchain, tecnologia aberta considerada muito segura e transparente, pois permite livre auditoria dos dados. Nessa rede, a moeda de transação é o Ether, ou ETH, que é a segunda mais valiosa do mundo, com cerca de US$ 230 bilhões em circulação.
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O que é uma atualização de criptomoeda?
Criptomoedas são criadas em sistemas que, assim como os softwares de celulares, por exemplo, podem precisar de atualizações de tempos em tempos para ganhar melhorias ou resolver falhas. Essas mudanças não são feitas no ativo em si, mas na infraestrutura onde ele opera. Na prática, o que atualiza são os programas que rodam nos computadores dos validadores, também chamados de “nós”.
“O blockchain é um software que roda nos computadores de quem quiser participar. Esses computadores é que passam por atualização e, para ela entrar em vigor, a maior parte da rede tem que atualizar”, explicou a professora de blockchain Solange Gueiros, developer advocate na Chainlink Labs, em entrevista ao Cripto+, programa semanal do InfoMoney sobre o universo dos criptoativos (assista à íntegra no player acima).
O que é a atualização Shanghai?
A atualização “Shanghai” é uma dessas mudanças aplicadas sobre a base do Ethereum. A novidade é considerada um complemento à “Merge”, atualização realizada em setembro que trouxe o staking para o Ethereum. O staking é o processo por meio do qual os investidores guardam seus tokens na blockchain para ajudar nas transações e na segurança, ganhando recompensas por isso.
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O mecanismo de funcionamento é similar ao de uma conta bancária que paga juros sobre os depósitos.
Os depósitos no Ethereum são realizados desde o final de 2020, quando a funcionalidade entrou em testes. No entanto, os saques só serão liberados agora, com a atualização “Shanghai”. Atualmente, há cerca de US$ 35 bilhões em ETH prontos para serem retirados.
Por que ela é importante?
Para alguns especialistas, a atualização é importante porque finaliza a funcionalidade de staking, abrindo espaço para que o recurso seja utilizado para além dos entusiastas. Com a função de saques, analistas esperam que o staking seja usado cada vez mais principalmente por instituições interessadas em obter remuneração sobre suas criptomoedas.
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Um exemplo é a gestora brasileira Hashdex, que anunciou recentemente que começará a aplicar o patrimônio de seus fundos em staking como uma forma de aumentar a rentabilidade dos produtos. A empresa estima que os ganhos obtidos sejam suficientes para reduzir ou até eliminar os custos com taxas de administração.
Ethereum vai virar um banco de criptomoedas?
O staking é comumente comparado com contas bancárias remuneradas: após depositar um valor na blockchain, o usuário começa a receber pagamentos percentuais ao longo do tempo, assim como uma conta que paga 100% do CDI sobre o dinheiro do cliente.
“Para você ter o direito de fazer, precisa ter 32 ETH depositados lá, como se fosse um banco, um cofre, porque fica depositado em garantia”, explica Solange.
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A solução, no entanto, pode não ser indicada para qualquer pessoa. “Não recomendo um usuário comum virar um nó validador com 32 ETH. O processo de criar o seu nó não é tão simples”, alerta a especialista da Chainlink Labs.
Como fazer staking e quanto ganha?
Para investidores que desejam obter rentabilidade sobre seu Ethereum, a desenvolvedora indica o uso de plataformas intermediárias, que combinam aportes de vários interessados e, assim, permitem participar com um investimento menor.
Corretoras como as brasileiras Coinext, Mercado Bitcoin e NovaDAX, além da Binance, oferecem o serviço de intermediação de staking. Além disso, há plataformas descentralizadas que vêm ganhando força nessa seara, como a Lido.
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Os retornos do staking variam entre 4% e 5% ao ano, e são pagos na própria criptomoeda ETH. É preciso também desembolsar uma taxa para a plataforma intermediadora, que costuma ser de menos de 1%.
Existe risco de a atualização dar errado?
Desenvolvedores do Ethereum sempre consideram chances de falhas, mas quem acompanha de perto diz que elas têm chance mínima de acontecer. O motivo é o histórico recente: a atualização “Merge”, considerada de alta complexidade, foi realizada sem maiores sobressaltos.
Por outro lado, o momento seguinte à atualização, quando os saques estiverem liberados, pode trazer algumas surpresas. Uma delas está ligada ao risco de que alguns validadores tenham problemas para processar saques solicitados pelos usuários.
Se esses operadores extraviarem ou não conseguirem localizar as chaves de acesso (porque não guardaram quando entraram no sistema há três anos, por exemplo), podem causar potencial insolvência de serviços de staking terceirizados, disse Henry Elder, head de finanças descentralizadas da Wave Digital Assets, em entrevista à Bloomberg.
“Ninguém sabe que o banco está insolvente até que as pessoas comecem a sacar seu dinheiro”, disse ele. “Isso pode ser um cisne negro no horizonte.”
O ETH pode passar por venda em massa após a atualização?
Os possíveis problemas aventados por Elder consideram que muitos usuários desejam sacar ETH assim que a atualização for liberada. Mas, esse pode não ser o caso. Em relatório, a Binance Research afirma que a maioria desses usuários estão com perdas porque compraram ETH mais caro do que os atuais US$ 1.900 e, portanto, têm pouco incentivo financeiro para vender agora.
“Notamos que uma quantidade considerável de ETH (cerca de 2 milhões) foi colocada em staking a preços na faixa de US$ 400 a US$ 700, o que representa os primeiros stakers de dezembro de 2020″, diz a Binance. “Embora esta seja uma fatia considerável do ETH em staking que está atualmente com lucro, como eles foram os primeiros interessados no mercado, podemos imaginar que são alguns dos que mais acreditam no Ethereum”.
Solange, da Chainlink Labs, concorda. “Eu não vejo quem entrou no Ethereum lá em 2020 só como investidor, eles são realmente os grandes players do mercado, as empresas relacionadas a todo o ecossistema Ethereum e que dependem do Ethereum”.
“Toda empresa que tem circulação de ativos no Ethereum, ou que fornece serviços de nós, ou criadores de projetos de Ethereum, são validadores da rede, e é do interesse deles que tudo continue bem. Acho que é um risco muito pequeno [de haver uma venda em massa]”, explica a professora de blockchain.
ETH vai valorizar?
Se pelo menos em um primeiro momento há uma mínima margem de dúvida sobre uma possível pressão vendedora sobre o ETH, no longo prazo a coisa muda de figura e fica ainda mais benéfica para a criptomoeda.
Isso porque espera-se que a demanda pelo staking cresça a ponto de fazer os depósitos superarem os saques, aumentando proporcionalmente a quantidade de ETH travada nos cofres do projeto – para ganhar as recompensas, pelo menos 32 ETH precisam ficar depositados em garantia.
Se o staking de fato decolar, a expectativa é que, ao longo do tempo, a funcionalidade seja seja um motor de retirada de ETH do mercado, gerando maior escassez e criando as condições para uma possível alta de preços do ativo.
“Pode-se argumentar que muitos grupos de indivíduos estavam esperando a Shanghai para fazer staking de seu ETH, pois as retiradas removerão o risco de liquidez e a incerteza de um período de bloqueio previamente indefinido”, reforçam os analistas da Binance.
“Uma onda de novos participantes que anteriormente estavam de fora pode potencialmente adicionar um nível de pressão de compra para o ETH, especialmente se o capital institucional se sentir atraído”.