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SÃO PAULO – Em meio a um cenário desafiador, marcado pelo aumento das preocupações fiscais no Brasil e pela transmissão acelerada de novas variantes do coronavírus ao redor do mundo, a temporada de balanços do segundo trimestre pode ajudar a conter o tom de desconfiança do mercado e responder algumas dúvidas que ainda pairam sobre o desempenho das empresas diante da crise sanitária.
Essa ao menos é a expectativa de analistas, que seguem atentos ao ritmo de recuperação econômica para tomar suas decisões de investimento. No Brasil, mesmo com os receios sobre o aumento dos gastos públicos e com a continuidade do ciclo de alta da taxa Selic, a visão segue favorável para a Bolsa, dado que as taxas de juros devem seguir em níveis mais controlados, em um dígito.
A melhor compressão do mercado quanto aos desdobramentos da reforma tributária também deve ajudar a fazer com que alguns papéis do Ibovespa que foram penalizados no mês passado consigam ter uma melhora neste mês.
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Para agosto, o foco de analistas de corretoras está mais uma vez em ações ligadas a commodities, saúde, varejo, bancos e mercado de capitais. Com um fluxo de caixa mais forte e o pagamento de bons dividendos, impulsionados por preços mais elevados do minério de ferro, a Vale (VALE3) é a campeã das indicações para o mês, mesmo com a alta acumulada da ordem de 33% no ano.
Levantamento feito pelo InfoMoney com 11 corretoras mostra que a carteira compilada para agosto sofreu uma alteração, com a entrada dos papéis da Lojas Renner (LREN3) em agosto. A varejista recebeu cinco indicações, mesmo número dos papéis do Bradesco (BBDC4) e BTG Pactual (BPAC11). Completam o portfólio indicado as ações da B3 (B3SA3) e da Rede D’Or (RDOR3), com seis recomendações cada.
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A carteira do InfoMoney é divulgada no início de cada mês e seleciona os cinco nomes mais recomendados pelas corretoras consultadas. O número de indicações pode ser maior, se houver empate, caso do levantamento atual.
Confira a seguir as ações mais indicadas para agosto, a quantidade de recomendações e o desempenho de cada papel em julho, no ano e em 12 meses:
Empresa | Ticker | Nº de recomendações | Retorno em julho | Retorno em 2021 | Retorno em 12 meses |
Vale | VALE3 | 9 | -3,96% | 32,52% | 97,05% |
B3 | B3SA3 | 6 | -9,33% | -23,00% | -25,13% |
Rede D’Or | RDOR3 | 6 | -0,04% | 1,46% | – |
Bradesco | BBDC4 | 5 | -3,68% | 0,99% | 19,36% |
BTG Pactual | BPAC11 | 5 | -4,11% | 25,40% | 35,71% |
Lojas Renner | LREN3 | 5 | -6,62% | -4,68% | 0,64% |
Ibovespa | – | – | -3,94% | 2,34% | 15,99% |
*Indicações compiladas das carteiras de ações de Ágora, Ativa, BB Investimentos, BTG Pactual, Elite, Genial, Guide, Órama, Santander Corretora, Singulare e XP Investimentos.
Fonte: Economatica
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O setor de commodities é um dos que mais chamam a atenção de Rafael Bevilacqua, CEO e fundador da Levante. Segundo ele, o pacote que deve ser aprovado no Congresso dos Estados Unidos e que tem como foco garantir investimentos em infraestrutura deve ajudar a manter aquecida a demanda por produtos e matérias-primas ligadas à commodities.
“É um segmento que vem performando muito bem, mas pode ter um avanço maior no caso de empresas atreladas ao aço e ao minério de ferro com esse pacote e com a ajuda da demanda da China”, assinala.
Outros setores que poderão se destacar no segundo semestre estão ligados ao segmento financeiro e de saúde. Para Bruno Komura, estrategista de renda variável da gestora Ouro Preto Investimentos, na área de saúde, as atenções devem estar voltadas para o segmento hospitalar.
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“A partir do momento em que diminui a ocupação com a Covid-19, o hospital abre espaço para cirurgias eletivas, o que acaba oferecendo melhor margem”, pontua.
Komura afirma ainda que movimentos de aquisição devem ajudar o segmento de saúde hospitalar no segundo semestre deste ano.
No setor financeiro, o estrategista conta que a principal dúvida do mercado recaía sobre o nível da taxa de inadimplência na pandemia, que deve subir, diz, mas seguir em um patamar abaixo do nível pré-pandemia. “Isso é positivo, porque os bancos fizeram provisões para cobrir problemas com a carteira de crédito. Há bastante upside [potencial de valorização] com a volta da economia.”
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Veja a seguir as justificativas para as seis ações da carteira recomendada para agosto.
Vale (VALE3)
Com nove indicações para a carteira, os papéis da Vale, atualmente cotados próximos de R$ 109, têm potencial para subir a R$ 151 até dezembro de 2022, na avaliação do analista Fernando Hadba, do Santander. O potencial de valorização está ligado ao fato de que os preços de minério de ferro devem seguir fortes por mais tempo, o que ajuda a impulsionar a geração de um fluxo de caixa forte e o pagamento de bons dividendos aos acionistas no curto prazo, diz o analista.
Para Hadba, outro ponto que chama a atenção é que o conselho de administração da empresa restabeleceu, no fim de julho, a política de remuneração aos acionistas, que estava suspensa desde janeiro de 2019. Na prática, essa política determina que os dividendos mínimos calculados com base nos resultados do primeiro semestre de 2020 sejam pagos em setembro.
Além disso, de acordo com o analista, o anúncio de distribuição dos dividendos de R$ 2,17 por ação em junho pode indicar maior confiança da empresa nas operações e a redução das incertezas nos negócios em que atua.
Os analistas da Ágora, por sua vez, destacam que a mineradora brasileira está bem posicionada para ser mais bem precificada em relação aos pares australianos. Embora a Vale tenha superado em termos de valuation a Rio Tinto e a BHP recentemente, os especialistas da corretora afirmam que a ação continua a ser negociada com um desconto “não merecido”.
A empresa também deve se beneficiar do aumento da produção de minério de ferro em um ciclo forte de investimentos. “Vemos os juros em patamares ainda baixos, a expansão fiscal e um dólar em patamares que ainda apoiam um novo ciclo de investimentos globais forte, com a produção industrial chinesa permanecendo forte”, destacaram os analistas da Ágora, em relatório.
Mas há quem diga que o momento também seja de realização. Apesar de permanecer otimista com os papéis da Vale, a equipe de análise da XP optou por realizar uma parte dos lucros que acumulou na ação, que já sobe mais de 32% no ano. A casa reduziu o peso dos papéis de 15% para 10% em sua carteira.
Embora tenha diminuído a posição, os analistas da XP disseram que a visão para a mineradora não foi alterada e segue positiva, em meio ao potencial de valorização que ela deve ter no segundo semestre e no retorno com dividendos mínimo por volta de 7% neste ano.
B3 (B3SA3)
Empatados em segundo lugar com as ações da Rede D’Or, os papéis da B3 seguem na lista entre os três mais recomendados por analistas. De olho no aumento das operações em mercado de capitais e do crescimento da participação de investidores locais e estrangeiros, os analistas da Ágora destacam que o mercado está precificando os papéis da B3 com os mesmos múltiplos que a empresa apresentava em meados de 20219, o que não seria justificável.
Ainda que o ciclo de aumento nas taxas de juros possa preocupar porque poderia gerar uma migração de investidores mais conservadores para a renda fixa, na visão dos analistas da Ágora, com as taxas permanecendo em um dígito, o movimento não deve ser favorecido.
A atenção do mercado também está na compra que a B3 fez de uma participação na TFS, empresa de tecnologia do setor financeiro que é subsidiária da Totvs, por R$ 600 milhões, em julho. O percentual adquirido pela Bolsa brasileira equivale a 37,5% da companhia e pode representar um investimento interessante, segundo a equipe de análise da XP.
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Em relatório mais detalhado enviado um dia após o anúncio, os especialistas da XP destacaram que a compra da TFS é positiva, porque o comando da companhia será feito de forma independente e pelo fato de os clientes da TFS já serem também da B3.
Os analistas da XP ainda disseram que os dados operacionais referentes ao mês de junho apresentaram aumento do volume financeiro médio diário (ADTV) de 60,1% no mês e de 19,7% na comparação com o mês anterior. Além disso, o número de investidores ativos também continuou a subir 1,4% mensalmente e 42,9% anualmente, atingindo 3,8 milhões de investidores em junho.
Rede D’Or (RDOR3)
Com seis recomendações, as ações da Rede D’Or ganharam maior peso na carteira da XP no mês de agosto, ao passarem de 10% para 15%. A equipe de análise da casa monitora a entrega consistente feita por meio de aquisições e das sinergias que ainda podem ser capturadas com as compras.
As apostas mais altas da XP na empresa de saúde estão na forte probabilidade de que os papéis sejam adicionados ao Ibovespa no rebalanceamento da carteira de setembro, o que aumentaria o fluxo para a ação.
A equipe de análise da XP pontuou, contudo, que está de olho na pressão de curto prazo que a variante delta pode gerar nos resultados, se a recuperação de procedimentos eletivos for afetada. Mesmo assim, diz que está otimista com os sólidos resultados da companhia e que ela vem entregando uma agenda de fusões e aquisições ativa, que pode ultrapassar as estimativas da casa de mil leitos adquiridos neste ano.
Outra casa que aumentou a participação das ações da Rede D’Or na carteira é a Ativa, que viu a posição passar de 5% para 7,5% em agosto. Segundo os analistas da corretora, o destaque está nas aquisições da companhia focadas no plano de expansão geográfica e de leitos do negócio.
“Promovemos o aumento da exposição à Rede D’or, por acreditarmos que a companhia está em nível de valuation descontado, e as recentes movimentações de fusões e aquisições realizadas devem agregar valor à tese de investimento.”
Bradesco (BBDC4)
No caso do Bradesco, o analista Fernando Hadba, do Santander, pontuou que o banco é a principal recomendação entre as instituições financeiras.
Com preço-alvo em R$ 32,00 para o fim deste ano, o que representa valorização potencial de 31% ante o preço de fechamento desta segunda-feira (02), Hadba diz haver uma combinação de fatores que podem ajudar a valorizar os papéis da instituição financeira. Segundo ele, o Bradesco é o maior pagador de dividendos em 2021 entre os bancos, com um rendimento esperado de 10%, além de o banco ter um valor elevado em provisões excedentes.
À espera do balanço, que sai hoje após o pregão, o analista destaca projetar lucro líquido de R$ 6,424 bilhões do Bradesco no segundo trimestre de 2021, em linha com o trimestre anterior e uma alta de 73% na comparação com o mesmo período do ano passado. O Santander também estima que o retorno recorrente sobre o patrimônio líquido (ROE) – que indica como os bancos investem os recursos de seus acionistas – chegue a 18,3%, contra 18,1% no trimestre anterior e 11,7% no segundo trimestre de 2020.
A expectativa do analista é que haja ainda uma aceleração no crescimento do crédito impulsionado pelas linhas de varejo, o que deve beneficiar as margens do banco.
Outro ponto importante está nas provisões (reservas em caixa) feitas pelos bancos para passar o período de pandemia. Na visão dos especialistas da Órama, alguns dos grandes bancos brasileiros foram extremamente conservadores no provisionamento pós-covid, caso do Bradesco. Segundo os analistas, a expectativa é que haja uma reversão dessas provisões nos próximos resultados, tido como mais um fator conjuntural para melhorar os números do banco.
BTG Pactual (BPAC11)
No empate com os papéis do Bradesco e da Lojas Renner estão as ações do BTG Pactual, que foram incluídas em agosto na carteira da Ágora, com preço-alvo em 12 meses de R$ 36,50. Na avaliação dos analistas da casa, a instituição está bem posicionada para se beneficiar de um melhor crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), além do fato de que a transformação digital no mercado de capitais deve ajudar a aumentar a receita do banco.
Segundo a equipe de análise da corretora, a relação entre preço e lucro está em 17 vezes para o fim de 2022, o que parece interessante, dada a mudança de estratégia do banco e a previsão de ganhos superiores a 24% de taxa de crescimento médio anual ponderado no período entre 2022 e 2023.
Os analistas afirmam, contudo, que a chegada de novos concorrentes, especialmente aqueles voltados a serviços de corretagem e bancos de investimentos, além de competição por agentes autônomos, poderia colocar pressão sobre a lucratividade do banco.
A Ágora ainda vê com bons olhos o aumento nas taxas de juros, que pode levar a spreads maiores nas operações de intermediação.
Lojas Renner (LREN3)
No caso da Lojas Renner, os analistas da Ágora veem a varejista como uma das mais “consistentes no universo de cobertura de varejo”, por causa do forte histórico de execução.
Dado o momento de recuperação projetado para o setor de varejo com o avanço da vacinação, os especialistas da Ágora afirmam que a retomada das vendas tem sido mais forte do que o esperado e que as vendas gerais no segundo trimestre devem apresentar alta de um dígito em relação ao mesmo período de 2019.
“Acreditamos que o principal direcionador para as ações será uma aceleração da vacinação contra a Covid-19, o que deve levar a uma recuperação do tráfego dos shoppings.”
O impulso maior nas vendas, segundo analistas do BTG Pactual, deve vir da proposta multicanal da Lojas Renner e dos investimentos na plataforma digital neste e no próximo ano, com 100% das lojas disponíveis para o cliente comprar online e ir até a loja apenas para pegar a mercadoria.
Segundo eles, a companhia investiu em dados para entender melhor sua base de clientes, com campanhas de marketing mais eficientes e menor custo de aquisição de cliente, além de descontos reduzidos em lojas. Na visão dos analistas do BTG Pactual, a varejista está bem posicionada porque apresenta uma excelente estrutura de cadeia de suprimentos, histórico de execução acima da média e iniciativas online e físicas que sustentam a visão positiva para o longo prazo.
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